A história mal contada de Moisés Rodrigues

A história mal contada de Moisés Rodrigues

Porto Velho, RO – O escandaloso desaparecimento do bebê Nicolas Naitz e a história do sumiço repentino do servidor da Secretaria de Estado da Educação (Seduc/RO) Moisés Rodrigues no Rio Madeira em janeiro de 2013, embora sejam casos distintos, convergem em representatividade porque são os mais fieis monumentos de um omissivo e negligente lavar de mãos do poder público diante de situaçõe complexas, roteiros da vida real que destoam a explicações simplistas, ligeiras, rasas.

E não importam os sentimentos dos familiares, amigos nem de colegas de trabalho que, angustiados e receosos com a falta de diligência institucional, são obrigados a dar prosseguimento aos seus respectivos cotidianos ainda em franca hemorragia cardíaca causada por chagas não suturadas.

Logo no começo de 2019 o mistério envolto à morte de Moisés Rodrigues completará longos seis anos inconclusivos, ainda que uma não tão nova perícia científica – liberada em 2016 – tenha rechaçado as versões tanto da tripulação da embarcação quanto do primeiro delegado a assumir a investigação. Ambos alegavam e assumiam a ideia de que o funcionário público teria morrido afogado nas águas turvas do Madeira, repassando a responsabilidade à vítima por conta de um suposto surto histérico após ingestão de bebida alcoólica. 

A família, no entanto, refutou veementemente a tese alegando que Moisés era abstêmio. 

Já faz pelo menos um ano que o promotor de Justiça Gerson Martins Maia solicitou a transferência do inquérito à Delegacia de Homicídios; ou seja, o representante do Ministério Público (MP/RO) está convencido de que Rodrigues pode, sim, ter sido assassinado. Aliás, foi o MP/RO que solicitou a reprodução simulada dos fatos narrados a pedido dos parentes, o que gerou o laudo confeccionado pelo perito César Moretti Vieira, do Instituto de Criminalística de Rondônia (IC/RO).

Quanto às versões da tripulação, a perícia só conseguiu provar que o comandante e o piloto teriam ouvido um barulho semelhante ao de um “corpo caindo” nas águas do Rio Madeira, porém os dois declararam anteriormente à Marinha e ao delegado que o som seria, na realidade, mais próximo ao estouro de pneu.

O irmão de Moisés questiona:

“Isso não estaria mais próximo a um barulho de tiro?”.

Outro fator importante é que os componentes do barco Nossa Senhora Aparecida I disseram à época que não havia como pedir socorro externo por não ausência de sinal para obter contato. 

A perícia, no entanto, deu cem por cento de certeza de que há sinal de telefonia móvel e fixa no local apontado como o ponto do desaparecimento, e, dessa forma, toda a tripulação deveria imediatamente comunicar o ocorrido às autoridades, amigos e parentes, o que só veio a ocorrer horas depois da tragédia. 

“Essa demora toda foi para a tripulação combinar um álibi, talvez?”, pergunta o familiar.
O documento oficial também descartou a versão sobre pedidos de socorro aos moradores da localidade. Isso porque o barco navegava próximo às barrancas e, portanto, seria possível ouvir os gritos caso a vítima tivesse caído ou sido empurrada no local apontado.

Por fim, o laudo diz que o piloto poderia ter descido da cabine de comando e chegado à proa da embarcação, local onde a vítima estaria.

Ambrosina dos Reis, mãe de Moisés, contou que sua última conversa sobre ocaso foi em maio deste ano com o atual delegado encarregado do inquérito, mas, mesmo com todos os indícios de uma história inicialmente muito mal contada, a investigação continua estagnada.

Autor / Fonte: Rondoniadinamica

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