Salatiel Pereira Viana venceu a hanseníase e hoje ajuda outras pessoas a identificar e combater a doença
Tudo começou com o surgimento de algumas manchas nas costas, que se assemelhavam a um problema dermatológico bem comum na região norte e é popularmente conhecido como “pano branco”. O primeiro sintoma foi identificado pelo pai de Salatiel Pereira Viana, 19, estudante de Técnicas de Enfermagem. “Meu pai me levou ao médico e foi receitado remédio para verme”, lembra. “Após um tempo, as manchas permaneciam lá, mas eu não dava muita atenção porque era difícil de enxergar. Aí percebi que apareceram, também, na região peitoral, essa era uma mancha estranha avermelhada e que inchava quando eu suava. Ficamos preocupados e fomos ao médico mais uma vez, fiz os exames e foi constatado que eu estava com hanseníase”, relata.
A descoberta da doença foi em maio de 2014, por meio de consulta no Centro de Especialidades Médicas (CEM), em Porto Velho, Salatiel descobriu que estava com hanseníase multibacilar e iniciou o tratamento com medicação, processo que pode ser sofrido para alguns pacientes: “alguns pacientes reagem mal ao medicamento e outros passam pelo tratamento tranquilamente, como se nada estivesse acontecendo”, esclarece Adriani Castro, coordenadora municipal de Hanseníase. Mas não foi assim com Salatiel. O rapaz lembra que sofria bastante, até mesmo com a mínima exposição ao sol, “a pele ficava irritada, formavam bolhas, que às vezes se tornavam feridas, elas desenvolviam crostas quando estavam sarando”, detalha. Mas o jovem estava determinado a vencer a doença e tomou uma postura positiva: “eu nunca tive vergonha de dizer que estava com hanseníase e sempre deixei claro para as pessoas que estava medicado, e por isso não existia risco de contágio. Estudei tudo sobre hanseníase e nunca me deixei abater pela doença”, narra.
A afirmativa de Salatiel faz Adriani lembrar de um ponto muito importante para quem faz tratamento para combater a hanseníase: “nunca deixar de tomar os remédios. Mesmo que existam pacientes mais sensíveis ao medicamento, eles são fundamentais para a cura”, ressalta.
Salatiel faz parte de um número de pacientes que convivia de maneira quase invisível com a doença, isso porque a hanseníase se manifesta de maneira sutil, se a pessoa não observar com critério, a mancha, que indica a presença da doença, pode passar despercebida. “A mancha pode ser esbranquiçada, ou caroços acastanhados ou avermelhados. Há casos que a pessoa confunde com pano branco ou micose”, informa Helen Carioca, coordenadora estadual de Hanseníase. “Um dos principais sintomas, que diferencia da micose é a perda de sensibilidade no local da mancha”, orienta.
Preocupado com uma mancha acastanhada que surgiu nas costas, Ananias Cardoso, 33, procurou atendimento médico na Carreta da Saúde Hanseníase, que na quarta-feira, 04, estava estacionada no bairro Socialista, na zona Leste de Porto Velho. “Fiquei preocupado porque ouvi falar que causa dormência e sinto esse sintoma também”, relata. Ananias passou pela triagem e aguardava a realização do exame de baciloscopia, realizado pelos técnicos da Unidade Itinerante, quando o paciente apresenta manchas no corpo. “Os atendimentos são clínicos, o paciente passa pela triagem e quando é necessário a baciloscopia é realizada”, explica Vilson Lopes, bioquímico. Os atendimentos por meio da Carreta da Saúde Hanseníase foram realizados nos dias 03 e 04 na zona Leste e na região foram diagnosticados cinco casos de hanseníase.
Os moradores da zona Leste compareceram ao convite para o atendimento médico oferecido na Carreta da Saúde Hanseníase, nos dois dias de consultas, mais de 200 moradores receberam atendimentos. E estão certos. O registro da doença é elevado no Brasil, que é o segundo país no mundo com maior índice da doença, só perde para a Índia nas estatísticas. Rondônia ocupa a 6ª posição no ranking da doença, no ano passado foram confirmados 517 casos no Estado, somente este ano, até o dia 30 de junho foram 222 casos confirmados, sendo 11 em pessoas menores de 15 anos.
A dermatologista Maria Kátia Gomes explica que a transmissão da hanseníase é por via aérea, por exposição de pequenas gotículas de saliva, mas o contágio geralmente ocorre por convivência por tempo prolongado com pessoa que não trata da doença. “A cada 100 pessoas, 10 desenvolvem a doença”, diz.
A carreta da Saúde Hanseníase é disponibilizada pela Fundação Novartis, em parceria com o governo do Estado e do Ministério da Saúde, a Unidade de Saúde Itinerante conta com cinco consultórios, um laboratório e atendimento por equipes que compõem o programa Saúde da Família. “Um dos objetivos dessa ação é descentralizar os atendimentos das Unidades de Referência e aproximar da comunidade, ao mesmo treinar as equipes das Unidades de Saúde Básica para o reconhecimento da doença de maneira precoce. Nos dois dias de atendimento no bairro Socialista, por exemplo, diagnosticamos cinco casos em estágio inicial da doença, que se não fossem detectados agora poderiam ser diagnosticados alguns anos a frente, numa fase muito mais grave”, detalha Maria Kátia.
Salatiel Pereira Viana fez o tratamento de maneira persistente e passou por acompanhamento médico por aproximadamente dois anos, foi nas idas e vindas aos consultórios que descobriu que tinha vocação para atuar na área da Saúde, hoje ele ajuda outras pessoas a buscarem tratamento para essa e para outras doenças. Na Carreta da Saúde Hanseníase, ele atuou juntamente com outros profissionais, no atendimento ao público que buscou informações e atendimento para combater os sintomas da hanseníase, um mal secular, mas que ainda afeta milhares de pessoas no mundo.
As ações da Carreta terão continuidade em Porto Velho, com atendimentos no bairro Castanheira, na zona Sul, no dia 05/07, das 8h às 17h, e no Palácio Rio Madeira, no dia 06/07, no período da manhã. As ações terão continuidade em outros 17 municípios de Rondônia. A dica de Helen Carioca, coordenadora estadual de Hanseníase é: “com manchas ou sem manchas, compareça à Carreta da Saúde Hanseníase, nos dias de atendimento, para buscar mais informações, e assim ajudar outras pessoas a identificarem e combater a doença”, finaliza.
Autor / Fonte: Mineia Capistrano/Secom
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