Editorial – A sabedoria popular resolve escândalo do auxílio-alimentação em Rondônia; mas há quem insista no erro

Editorial – A sabedoria popular resolve escândalo do auxílio-alimentação em Rondônia; mas há quem insista no erro

O "praça que desafiou o governo" quis fazer o mesmo com a população: não deu certo

Porto Velho, RO – Esta semana foi marcada pelo que pode ser denominado como escândalo do auxílio-alimentação a deputados de Rondônia. A diferença entre o desfecho do caso para outros tantos que envergonharam os rondonienses nacionalmente no passado está na rápida solução que, por incrível que pareça, veio de dentro para fora.

Entenda
ALE/RO revoga auxílio-alimentação de R$ 6 mil a deputados após intensa pressão popular

Resumidamente, o próprio Legislativo reconheceu o erro, embora não espontaneamente, mas ainda assim de forma célere e eficaz, revogando o acréscimo de dividendos na ordem de R$ 6 mil mensais a cada um dos 24 parlamentares na Assembleia Legislativa  (ALE/RO).

Melhor ainda: para que não fosse tão “fácil” demonstrar arrependimento simplesmente voltando atrás na aberração financeira, o traquejo político administrado pelo presidente Maurão de Carvalho (PMDB) – acompanhado pela grande maioria na Casa de Leis – fez com que 20% do valor anteriormente destinado à verba indenizatória restassem dizimados, emprestando tons mais sérios à atitude.

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A ação com requintes de nobreza está atrelada de maneira umbilical a adágio popular bem direto e fácil de entender.

Ele ensina:

– Errar é humano. Persistir no erro... [insira o adjetivo por conta própria].

Superada a questão, é claro que haveria pelo menos um componente do Poder contrariado, chateado e que, pela pressão popular e a vasta adesão de colegas ao correto, às exigências da população, isolado em seu intento promovido praticamente às escondidas em encaixar nos próprios vencimentos os R$ 6 mil, perdeu – e perdeu feio.

Não foi uma derrota qualquer, mas um revés humilhante, mexendo com o brio do homem que, pretensiosamente, se autodenomina “o praça que desafiou o governo”  em seu perfil institucional na página de ALE/RO.


Jesuíno Boabaid (PMN) desafiou mesmo o Governo de Rondônia e, diga-se de passagem, pode até ter vencido. Agora, passar por cima dos cidadãos, de todas as vozes uníssonas gritando desesperadamente não aguentarem mais o desperdício, a sacanagem, a indecência e a imoralidade, nem se o praça, hoje deputado eleito democraticamente, fosse coronel da Polícia Militar; ou, mais ainda, marechal do Exército, pertencesse às Forças Armadas, reiterando que ambas as patentes merecem todo o respeito, porém jamais em detrimento aos reclames do povo e sua soberania.

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Irritado com a imprensa, deputado sugere a jornalistas que fiscalizem auxílios no TJ e MP e pode eclodir ‘guerra’ entre Poderes


A força que emana das ruas tem mais poder que qualquer credencial que o parlamentar acredite portar. Boabaid não tem medo das redes sociais. Isso significa, final de agosto de 2017, que não dá a mínima para o que as pessoas pensam, então. Afinal, opiniões, fatos, mentiras e manifestações de todas as ordens estão na Internet, expressando genuinamente a visão do eleitorado – aquele que, ano que vem, voltará a ter importância para a horda eleitoreira no Brasil, incluindo a turba de Jesuíno.

Para deputado, falar sobre os R$ 2,5 mi a mais em salários de deputados é sensacionalismo


'Não tenho medo de rede social', vocifera / Vídeo: Rondoniaovivo

Tentar responsabilizar os veículos de comunicação pelo fatídico episódio, ainda que vários deputados tenham extraído boas lições da má repercussão, desnuda um político que, contrário à democracia que o elegeu, não sabe o momento de reconhecer uma conduta equivocada, se arrepender, pedir perdão e seguir em frente.

E a coisa piora, acredite! 

Pelo menos é o que garante gente próxima ao político irritadiço. A possibilidade de problemas institucionais entre Poderes por conta da manifestação de Boabaid ao mandar jornalistas irem atrás dos auxílios de membros do Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ/RO) e Ministério Público (MP/RO) é iminente: uma "guerra" pode eclodir após todo o  trabalho de conciliação e aproximação estabelecido pelo presidente Maurão com apoio de parlamentares aglutinadores. 



Contracheque de Jesuíno: e ele queria mais / Imagem: Reprodução

A matemática do escândalo

O Rondônia Dinâmica reconhece que matérias de exatas não são o ponto forte dos componentes da Redação. Mas há um cálculo fácil e visceral que pode ser usado para nortear a discrepância entre a vida de um cidadão comum, que só paga imposto e não tem auxílio nenhum, e a de um deputado, como o próprio Jesuíno Boabaid.

Tomemos, como base, o contracheque do político do mês de março deste ano, escolhido aleatoriamente para análise.

Bruto, o “praça que desafiou o governo” recebeu R$ 38.751,15. Tirando os descontos, ficou com R$ 17.589,26 “limpinhos”, pra gastar com o que quisesse.

Quem recebe salário mínimo aufere R$ 937,00 por mês. E dá-lhe descontos. Tirando água, luz, alimentação, mobilidade e tantas outras contas, dificilmente algo irá sobrar para supérfluos, ou qualquer coisa que seja diferente da subsistência.

Mas não está bom para Jesuíno, apesar de receber, baseado no contracheque acima, 41 vezes a mais que um trabalhador remunerado com salário mínimo. Além de todas as mordomias absorvidas pelo cargo, ainda tem à disposição R$ 5 mil de auxílio-moradia, morando em Porto Velho.

Se o auxílio-alimentação, fruto do Projeto de Resolução 377 relatado por Jesuíno – dando parecer favorável à matéria – tivesse passado, contando a partir de agosto de 2017 e  levantando em conta os próximos doze meses de 2018, seriam mais R$ 102 mil nos vencimentos de um deputado estadual, sem a necessidade de prestação de contas, coisa que não ocorre no caso da verba indenizatória, cujo valor só é reembolsado mediante apresentação das notas fiscais. R$ 102 mil vezes 24 deputados, o gasto chegaria a R$ 2.488.000,00 ao fim dos dezessete meses remanescentes para o término dos mandatos. E o que tem ano que vem? Ah... Reclamar disso, para Jesuíno, é sensacionalismo. 

A desculpa? Deputado percorre os 52 municípios de Rondônia. Deputado tira dinheiro do bolso para dar às pessoas. Deputado isso. Deputado aquilo.


Uma autoridade que pensa assim, só ilhada. Persistir no erro é o que mesmo?

Autor / Fonte: Rondoniadinamica

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