Editorial – A toga em cores partidárias

Editorial – A toga em cores partidárias

Porto Velho, RO – Alguns ministros usam a tradicionalíssima toga preta, assim como os demais, mas diferentemente de seus colegas fazem questão de atuar oficialmente sob viés ideológico, político e partidário. A impressão, ao observá-los em ação, é a de que estamos diante de verdadeiras aquarelas ambulantes.

A frase que inicia este artigo é uma obviedade execrável, porém exposta há tempos à apreciação popular: não percebeu quem não quis.

Os que se anteciparam à identificação da prática útil ao poderio econômico que engendra a corrupção no País a pretexto de gerar empregos, aumentar o PIB e qualificar o mercado de trabalho, silenciaram a partir da queda da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Gilmar Mendes é um desses magistrados de tom carnavalesco em adornos políticos. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chancelou a continuidade do moribundo governo Temer (PMDB), por enquanto, ao seguir os votos proferidos pelos colegas Napoleão Maia, Admar Gonzaga e Tarcísio Neto.


A decisão, caso não haja recurso impetrado pelo PSDB, autor da ação, ou mesmo pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), salva de vez a chapa Dilma-Temer e mantém o peemedebista no Planalto até segunda ordem.

A atenção a Mendes não se deve apenas ao fato de presidir a Corte Eleitoral e pertencer, ao mesmo tempo, ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde também ocupou a Presidência. O ministro é reconhecido pela estreitíssima relação, a qual tentou ocultar, com membros do alto escalão do tucanato; nada exclusivo, também há outros homens públicos da vida eletiva que gozam da amizade e conversas a pé de ouvido com o juiz.

As mudanças repentinas de posicionamento jurídico, geralmente trazidas à tona quando os alvos das ações não são mais os mesmos, ou ainda nos casos em que as decisões passam a ter condições de atingir outros agentes, foram, estão e continuarão sendo registradas na História. Há um arcabouço enorme de incongruências institucionais a depor contra Gilmar.


Ainda assim, mesmo não surpreendendo, a desfaçatez causa estranheza coletiva. Assim como quando, de supetão, entendeu que deveria revisar o voto sobre a questão da prisão após decisão em 2º Grau por haver “confusão”. Coincidência ou não, a revisão só ocorreu após a Lava Jato desandar a obter prisões e o “monstro”, outrora controlável, digamos assim, passar a colocar atrás das grades gente de qualquer filiação.  

No caso de ontem, o TSE não decidiu pela estabilidade política, como quer fazer crer; optou, na realidade, por se distanciar de quaisquer chances de a República voltar aos trilhos do equilíbrio. Fez pior: ratificou a lavagem de dinheiro através de caixa 2 e deve abrir perigoso precedente a outras instâncias por conta da subjetividade conceitual em relação ao abuso de poder.

Tudo graças à complacência popular; a inócua atuação de inúmeras lideranças políticas em cima do muro e aos togados em vestes talares multicoloridas. 

Autor / Fonte: Rondoniadinamica

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