São quinhentas páginas, trezentos e dezesseis crimes de estelionato acumulados, prisões preventivas decretadas e um estrago político irrefreável
Porto Velho, RO – A famigerada Operação Apocalipse finalmente chega ao fim do mundo. Com a sentença de 520 páginas proferida pelo juiz de Direito Glodner Luiz Pauletto, da 1ª Vara de Delitos de Tóxicos de Porto Velho, cai um enorme grupo criminoso denunciado pelo Ministério Público (MP/RO).
De acordo com o magistrado, o bando instituído para cometer crimes de associação ao tráfico de drogas, estelionato e formação de quadrilha era liderado, essencialmente, pelo vereador Jair Montes (PTC), eleito deputado estadual, além dos estelionatários Fernando Braga Serrão, o Fernando da Gata, e Alberto Ferreira Siqueira, o Beto Baba.
Durante muito tempo, a população torceu o nariz quando falava a respeito da Apocalipse; isso porque, lá atrás, descobriu-se que parte significativa das diligências tinha nítida motivação política.
316 crimes de estelionato; prejuízo alcança R$ 7,5 milhões
O então secretário de Segurança Marcelo Bessa, delegado da Polícia Federal, fora incumbido pelo ex-governador Confúcio Moura (MDB) de responder pela pasta.
Marcelo Bessa, ex-secretário de Segurança
À época, o governo travava duras batalhas com o ex-presidente da Assembleia Legislativa (ALE/RO), o deputado estadual Hermínio Coelho, hoje no PCdoB.
Havia, inegavelmente, uma crise de relacionamento entre os chefes dos Poderes que se estendeu de 2011 para cá.
O palamentar garante que Bessa havia prometido a Confúcio “entregar sua cabeça numa bandeja”, e a ameça, no fim das contas, se cumpriu de modo figurado.
No ano passado, Hermínio chorou ao relembrar a prisão do filho em entrevista ao Rondônia Dinâmica
Foto: Gregory Rodriguez
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As incursões da Apocalipse culminaram com a prisão equivocada do filho de Coelho, o Guga, confundido, digamos assim, na melhor das piores hipóteses, com outro investigado.
O mais grave, no entanto, foi quando interceptações telefônicas obtidas com autorização da Justiça expuseram o ex-procurador-geral do Ministério Público (MP/RO), o promotor Héverton Aguiar.
O vazamento atabalhoado chegou às raias de um transtorno institucional.
As gravações – liberadas à imprensa – tinham o condão de fantasiar uma suposta proximidade espúria entre Aguiar e Hermínio Coelho. Isso porque o ex-presidente do Legislativo estava em viagem para o Mato Grosso quando a operação foi deflagrada; comunicado a respeito, o deputado ligou para o chefe do MP/RO, que, cauteloso, o aconselhou a retornar a Rondônia.
Nada mais.
"O MP entendeu que era melhor deixar que a polícia fizesse [a operação] sozinha porque não estávamos nos entendendo", disse Héverton Aguiar
“Resumidamente, sobre a conversa, sugeri ao deputado que retornasse ao local da operação, não disse a ele para fugir. Isso foi explorado por quem queria desestruturar o Ministério Público. Havia, já naquele momento, em razão das inúmeras operações envolvendo muitas pessoas, uma vontade, uma política de abalar as estruturas do Ministério Público e do procurador-geral à época. Isso foi vencido. As coisas depois foram esclarecidas. Se tem muito respeito pela Polícia Civil”, disse o ex-procurador-geral em exclusiva ao Rondônia Dinâmica.
RELEMBRE
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Todas essas trapalhadas e malandragens articuladas de maneira proposital criaram a falsa sensação de que a parte correta da história acabou morrendo junto com o pedaço putrefato dos contextos esmigalhados por mentiras e más intenções.
Enredo da Apocalipse mistura trapalhadas com assunto sério
Enquanto essa concepção errônea se erigia e as pessoas esqueciam os fatos, paralelamente o juiz Glodner Pauletto insculpia minuciosamente em sua decisão os motivos pelos quais 21 entre 50 réus deverão cumprir penas no regime inicial fechado em punições que, somadas, ultrapassam a marca de um milênio de cadeia.
Cabe recurso.
As prisões preventivas foram decretadas somente contra Jair Montes, Fernando da Gata, Beto Baba, Edina Maria de Lima e Sheila Kelle Vieira Corcino: os três últimos estão foragidos.
“Com efeito, consta dos autos a real periculosidade dos condenados Alberto, Fernando e Jair, pois são líderes da quadrilha voltada para a prática dos crimes de estelionato, bem como associação para o tráfico de drogas, de modo que a prisão preventiva encontra-se justificada na garantia da ordem pública”, justificou o juiz.
"Fui considerado mais perigoso do que Fernandinho Beira-Mar", contou Jair Montes à reportagem em 2017
Foto: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)
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Dessa forma, ainda de acordo com o magistrado, a gravidade em concreto do crime, o modus operandi e a propensão à reiteração conforme os autos, demonstram que os réus reincidiram por centenas vezes na mesma prática delituosa e, portanto, comprovam fundamentos suficientes para decretar a prisão do quinteto.
“Somado a este elemento, a condenação dos réus a penas elevados, em regime fechado, evidencia ser temerária a manutenção da liberdade dos acusados, pois há grande risco de se furtarem à persecução criminal do Estado. Deve-se considerar, ainda, que Alberto e Fernando são reincidentes. Não bastasse, a ordem econômica também resta afetada, considerando a magnitude da lesão financeira causada pelo grupo criminoso liderado por Alberto, Fernando e Jair”, concluiu.
Autor / Fonte: Rondoniadinamica
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