SÃO PAULO - Durante a primeira reunião do comitê da crise hídrica, na manhã desta terça-feira, o governo do estado de São Paulo afastou a possibilidade de decretar rodízio. Acompanhado pelo secretário de Recursos Hídricos, Benedito Braga, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse aos prefeitos da região metropolitana que as obras que devem ser entregues até agosto são suficientes para garantir o abastecimento da Grande São Paulo durante o inverno mesmo que o volume de chuvas fique 20% abaixo do que foi registrado no ano passado, considerado o mais seco dos últimos 100 anos.

 

 

Durante o encontro, os gestores públicos concordaram em elaborar um plano de contingência que só entraria em vigor caso o rodízio fosse decretado. O documento estipularia quais são os equipamentos públicos que precisam receber água durante a crise e que obras precisariam ser feitas. Os prefeitos se comprometeram também a trabalhar para tentar reduzir o consumo de água em suas cidades.

 

 

— Há uma perspectiva com as obras que estamos realizando até o meio do ano. Considerando um cenário de baixíssimas afluências ao sistema [quantidade de água que chega às represas], há condição de passar por esse período [sem decretar rodízio] — afirmou o secretário de Recursos Hídricos, Benedito Braga, que ponderou:

 

 

— Isso significa que está tudo bem? Claro que não. É muito importante que a população entenda a gravidade do momento. Estamos vivendo uma época de incertezas climáticas. População tem que continuar empenhada na redução de consumo.

 

 

No mês passado, o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, admitiu que a companhia estudava a aplicação de um rodízio que entregasse água para a população apenas dois dias por semana. Embora não haja um racionamento oficial, muitos moradores da região metropolitana já reclamam de falta d’água sistematica em suas casas. A interrupção no abastecimento é causada, segundo a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), por uma manobra chamada redução de pressão, que diminui a intensidade com que a água passa pelos canos e faz com que áreas mais altas e distantes das bombas fiquem secas.

 

 

Ao falar com a imprensa, já no início da tarde, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que a Sabesp pretende aumentar a produção de água para a região metropolitana de São Paulo em 6 mil litros de água por segundo a partir de agosto devido a três obras. A quantidade é suficiente para abastecer 1,8 milhão de pessoas e poderia socorrer os sistemas Cantareira e Alto Tietê, os mais afetados pela crise. Estão sendo feitas a ligação dos rios Guaió e Taiaçupeba; das represas Rio Grande e Taiaçupeça; e o reúso de água da Billings.

 

 

— Não se pode dizer que não vai ter rodízio. É uma questão que a gente avalia permanentemente. Todo o trabalho está sendo feito para evitar o rodízio com máxima segurança. Estamos tentando equilibrar com redução da demanda.

 

Nos últimos dias, o Cantareira registrou aumento do volume de água armazenado e voltando ao patamar que tinha um mês atrás. Hoje ele está operando com 6,9% da sua capacidade, mesmo índice registrado em 6 de janeiro. No início de fevereiro o reservatório chegou a 5%. Alckmin (PSDB) declarou que, embora a possibilidade de rodízio seja remota, não deve ser descartada:

 

 

Representando os prefeitos que estiveram no encontro, Fernando Haddad (PT) disse que o documento deve ser entregue em até 30 dias:

 

 

— O que nos foi apresentado hoje é que no pior cenário fica afastada a possibilidade de rodízio. Ainda assim a decisão foi de fazermos um plano de contingência esperando não usá-lo, só por segurança.

 

 

Embora a região metropolitana de São Paulo sofra com falta d'água há pelo menos um ano, esta foi a primeira vez que um comitê de crise se reuniu. Além de Alckmin, Braga e Haddad, cerca de 50 pessoas participaram do encontro, entre representantes de secretarias estaduais, prefeituras, sociedade civil, indústria e comércio. A formação do grupo havia sido cobrada pelos prefeitos da região os metropolitana duas semanas atrás.