Família de Moisés Rodrigues finalmente descansa em paz quase cinco anos após assassinato e desova no Rio Madeira

Família de Moisés Rodrigues finalmente descansa em paz quase cinco anos após assassinato e desova no Rio Madeira

Porto Velho, RO – São quase 1.825 dias, aproximadamente 43.800 horas. Praticamente cinco anos sem respostas para uma busca que, finalmente, terminou. Aliás, terminou apenas para a família do servidor Moisés Rodrigues Lima, assassinado e desovado no Rio Madeira em janeiro de 2013 quando fora convocado de forma extraoficial para largar as férias e embarcar numa expedição de ofício rumo a Nazaré, o último trecho de terra firme onde pisou em vida.

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Quem o matou provavelmente não sabia que o irmão do funcionário público vinculado à época à Secretaria de Estado da Educação (SEDUC) era – e ainda é – policial. Mas não qualquer policial. Estamos falando de Flávio Rodrigues, o homem que até há pouco chefiava o Serviço de Investigação e Capturas (SEVIC) da Polícia Civil (PC/RO), atualmente integrante da Comissão de Processo Administrativo da Corregedoria-Geral da Policia Civil (CPPAD). Um investigador sereno, paciente, mas conciso e insistente, do tipo que não larga o osso ao averiguar casos sob sua responsabilidade. Sua participação ativa e enfática na investigação rendeu-lhe, inclusive, retaliações. Retaliações por parte da Administração Pública, que gostaria de vê-lo longe da imprensa e dos holofotes negativos das redes sociais.

Não deu certo, o Poder Judiciário garantiu ao policial o direito de acompanhar de perto todos os passos das investigações da forma que bem quisesse por trata-se de familiar, obrigando a Corregedoria a arquivar o procedimento.

Mal de árvore genealógica, provavelmente, já que tanto a irmã Marilza Lima quanto a mãe Ambrosina dos Reis foram tão afincadas, aguerridas, perseverantes e obstinadas quanto Flávio no intuito de manter a chama do caso acesa. Deixá-la apagar seria o mesmo que decretar o fim da memória e honra de Moisés junto com sua morte prematura naquele janeiro cada vez mais distante.


Marilza (à esq.), o jornalista Vinicius Canova e Ambrosina Reis

A família Rodrigues chegou a me procurar em uma de suas inúmeras andanças excursionando em gabinetes de autoridades e veículos de comunicação para que o suspiro derradeiro do irmão, que também era um filho muito querido, não tenha sido em vão.

Entregaram em minhas mãos um calhamaço de provas, indícios e versões que destoavam completamente às teses iniciais que pintavam Moisés Rodrigues primeiramente como o bêbado descuidado; logo mais como louco, surtado e desvairado. As hipóteses tratavam o desaparecimento como acidente, com traços de enredo suicida.

Os familiares me garantiram de pés juntos que o servidor não tinha razões para se matar. Sequer demonstrava quaisquer mínimos flagelos psicológicos e/ou emocionais que denotassem amargura interna. Não havia absolutamente nada em sua personalidade nem em seu temperamento que o levasse ao fantasioso surto ou mesmo à suposta bebedeira irresponsável que teria desencadeado o tal acidente.

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Essas versões foram apresentadas pelos remanescentes da embarcação Nossa Senhora Aparecida, todas rechaçadas por laudos da Marinha e da própria Polícia Técnico-Científica. Sem contar que a família Rodrigues fora avisada do desaparecimento de Moisés só 12 horas após o retorno dos demais tripulantes e outros servidores a Porto Velho.

Por quê?

Os familiares sempre sustentaram que Moisés sabia demais. Sabia demais sobre o quê? Houve uma época em que inúmeros objetos de valor foram furtados do Almoxarifado da SEDUC, onde o funcionário desaparecido estava lotado. Televisões, notebooks, centrais de ar-condicionado e por aí vai sumiram nas mãos dos criminosos que, pelo menos até agora, não foram punidos. Se foram, ninguém ficou sabendo. Afinal o maior interessado em limpar o nome do órgão não se manifestou.

Agora, com a intervenção do promotor de Justiça Gerson Martins Maia solicitando a redistribuição do inquérito à Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes Contra a Vida (DECCV), Ambrosina, Marilza e Flávio podem sossegar, pois fizeram tudo o que podiam, o possível e o impossível. Moveram montanhas por respostas e para limpar a reputação do familiar que nunca pôde se defender.


O irmão e a mãe de Moisés: o policial Flávio e dona Ambrosina no Rondônia Dinâmica

Moisés, o bêbado. Moisés, o louco. Moisés, o surtado. Estes sempre foram os adjetivos que acompanhavam seu nome nos desenlaces da ocorrência. Não mais. Não após a árdua luta da família Rodrigues. Não após noites de sono perdidas. Não após choros intermináveis, desolação infinita e amarguras constantes.

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A batalha está prestes a nos apresentar um novo personagem com caracterizações inéditas: Moisés, o assassinado. Moisés, o injustiçado. Moisés, o honrado.

Confesso, é provável que tenha falhado como jornalista quando fui procurado para ajudar, já que deixei a desejar. Os meus problemas – e sabemos que desculpa de aleijado é muleta – são ínfimos diante do suplício imposto a essa gente irresignada que, no fim das contas, só quer a verdade – doa a quem doer, ainda que a realidade corte a própria carne.

Agora resta a conclusão do inquérito e cadeia para o homicida e os mentores que tiraram a vida de Moisés Rodrigues Lima.

Família Rodrigues, descanse em paz!

Autor / Fonte: Vinicius Canova

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