O meu encontro com João de Deus – Parte III
— Publicada em 10 de dezembro de 2018 às 11:22Entrada franca? Nem tanto...
Na Casa de Dom Inácio, as pessoas se distribuíam pelo terreno. Os veteranos sabiam exatamente onde ir; já os novatos como nós buscavam placas de instrução ou informações com ajudantes do espírita.
À esquerda, lojinhas de souvenirs e badulaques e uma lanchonete interna com valores inflacionados. É em uma dessas lojas que cada visitante deve pegar uma ficha de sua preferência, gratuitamente.
LEIA TAMBÉM
O meu encontro com João de Deus – Parte I
O meu encontro com João de Deus – Parte II
O meu encontro com João de Deus – Final
Salvo me engano, havia três opções de ficha: a primeira, para quem jamais esteve ali anteriormente; a segunda, para quem estava retornando, tal qual o retorno de uma consulta normal, e a terceira aos que pretendiam pegar a fila somente para cumprimentar a entidade bola da vez.
À direita, um grande salão aberto, com lugares para sentar e aguardar, além da visão para um vasto quintal cheio de árvores, flores e banquinhos espalhados, dispostos às pessoas que optavam por vagar pelas dependências do jardim. Uma cena tão bonita de ser ver que remetia à concepção ilustrada dos Campos Elíseos.
Havia a farmácia de um só medicamento que vendia, além do passiflora (uma caixa com 175 comprimidos custava R$ 50), água fluidificada/abençoada cujo preço não me recordo, mas não era bagatela.
Foi aí que comecei a desconfiar da expressão: não cobramos pelo atendimento.
Também observamos uma saleta particular de meditação para João de Deus e, obviamente, a estrutura onde ele atende todo mundo.
Para chegar ao momento crucial, é preciso entrar na fila e esperar. Claro, existe todo um ritual burocrático de apresentações e preces antes disso.
O casal de atores Taís Araújo e Lázaro Ramos estava lá, circulando entre nós, longe dos holofotes e do assédio de fãs e repórteres. Tecnicamente, isso não quer dizer o que quer que seja. A menção é importante no momento em que falar sobre a disposição dos adeptos em volta de John of God.
Taís chorava de maneira contida andando para lá e para cá assim que meu pai e eu chegamos, acompanhada por uma espécie de instrutor da Casa, enquanto Lázaro caminhava avulso em outro canto.
Embora não houvesse perturbação direta às estrelas globais, os anônimos acompanhavam furtivamente os dois com olhos atentos, curiosos. Mas a presença de ambos se diluía no vasto suplício experimentado por aquela gente desenganada, cansada, destruída e prestes a desistir.
Naquele espaço residia o último fio de esperança de uma porção significativa de desperados.
Americanos, holandeses, japoneses, chineses, alemães, austríacos, espanhóis, italianos, franceses, enfim, várias línguas se misturavam ao nosso português naquele ambiente cosmopolita deixando a coisa toda um tanto quanto confusa e, justamente por isso, John incumbiu a tarefa da tradução a auxiliares que outrora estiveram no templo também para pedir socorro.
Convidados a ficar, aceitaram a missão e passaram a traduzir tanto o regramento quanto as deliberações do local sagrado em diversos idiomas em todas as sessões de atendimento.
CONCLUSÃO NO QUARTO E ÚLTIMO ARTIGO
Autor / Fonte: Vinicius Canova
Comentários