O João não é de Deus
Professor Nazareno*
O escândalo que sacudiu o Brasil e até outras partes do mundo em 2018 envolvendo o médium João de Deus, da cidade de Abadiânia em Goiás, pode trazer algumas lições para todos nós. Pesa contra o sensitivo a acusação de mais de 340 mulheres de que as mesmas teriam sido abusadas, molestadas sexualmente e bolinadas por ele durante as sessões espíritas de que participaram para curar seus males doenças. De um modo geral as pessoas costumam endeusar outros seres que apresentam algumas características “diferentes”. O senhor João Teixeira de Faria é um médium. Ou seja, uma pessoa que nasceu com alguns dons que a maioria de nós não possui. Dependendo do grau de sensibilidade, essas pessoas conseguem de fato curar algumas doenças. E só. Alguns conseguem também “perceber” o pensamento de outras pessoas mais próximas.
Se todas essas denúncias forem verdadeiras, estaremos diante de um caso de extrema gravidade, infelizmente. Vidas foram ceifadas psicologicamente, casamentos foram desfeitos, problemas psicológicos insolúveis advieram nas mulheres afetadas, decepções, medo, síndromes inevitáveis. João de Deus já se entregou à polícia e está devidamente preso pelo que dizem que ele fez. Está à disposição da “Justiça dos homens” como disse. No entanto, precisamos compreender o porquê de tudo isto ter acontecido. Nós brasileiros, precisamos urgentemente parar de dar essa aura divina a indivíduos que são tão humanos quanto qualquer um de nós. Fazemos isso todos os dias na política, por exemplo. Desde o ditador Getúlio Vargas que damos uma total divindade a essas autoridades e não percebemos que são apenas pessoas de carne e osso.
Enaltecemos seres humanos e talvez por absoluta falta de leitura de mundo e de conhecimentos mais apurados damos a eles essa aparência meio que divina. Getúlio Vargas, para que se tenha uma ideia, foi o “pai dos pobres”, mas a mãe dos ricos. Depois admiramos o JK, os militares golpistas, o Tancredo Neves, o Collor de Melo, o FHC e até o Lula. Lembro-me do povo chorando quando via o “sapo barbudo” discursando na televisão. Ainda hoje o miserável, mesmo em cana, é amado e adorado por vários de seus seguidores. Collor foi expulso do poder por um impeachment e Lula está preso em Curitiba acusado de corrupção e desvios de dinheiro público. Mas outros “deuses” enfeitiçaram os otários dos brasileiros: o ministro do STF Joaquim Barbosa, o juiz Sérgio Moro e mais recentemente temos o Jair Bolsonaro que é chamado de “Mito”.
Hipnotizados e sem conhecimentos, muitos brasileiros não percebem o óbvio: todos os “seus deuses” são seres humanos de carne e osso. Bolsonaro é um político que há quase 30 anos foi um deputado que neste período nada fez de bom para o Brasil nem para os brasileiros. Mas é considerado um “Mito”, alguém fora de série, uma espécie de “Deus” na terra. Ninguém percebeu que seus filhos são tão iguais aos filhos do Lula. E que ele, apesar de defender a família, já está no seu terceiro casamento. Diz combater a corrupção, mas um de seus filhos está enrolado com o Coaf e com outras maracutaias. O povo enaltece muito os seus ídolos, e quando se depara com a verdade, se decepciona, se frustra, fica amargurado. Nem o João é de Deus, nem o Bolsonaro é um “Messias” muito menos um “Mito”, nem o Lula era líder de coisa nenhuma. O povão é que é burro, desinformado e que usa o seu fanatismo para ver no outro aquilo que não existe.
*É professor em Porto Velho
Autor / Fonte: Professor Nazareno
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