O que é isso, vereadora?

O que é isso, vereadora?

Acessos de raiva traduzidos em postagens na Internet podem ser reveladores quanto à personalidade das pessoas. No caso de agentes públicos, um cartão de visitas

Porto Velho, RO – Este não é um artigo fustigador, aviso de antemão. Portanto, o leitor que veio aqui buscando nomes pode fechar a aba do navegador. Não quero execrar ninguém. As identidades dos envolvidos no episódio em questão estão aí em todos os lugares tão voláteis quanto os nossos comportamentos mais primitivos que, ingenuamente, acreditamos guardar a sete chaves.

Falando nisso, vaidade é a palavra-chave aqui. E a vaidade potencializada por uma ideia deturpada de poder e autoridade é tóxica tanto para o portador do veneno quanto para a vítima; é, ainda, etílico, pois embebeda e deixa os passos trôpegos.

Retrato aqui dois seres humanos que cometeram erros – totalmente distintos em dosimetrias, porém, ainda assim, equívocos. Evidente que, a seguir, irei sopesá-los e explicar o porquê de suas respectivas cargas adiposas.

A confusão cibernética foi gerada por  comentário extremamente incisivo de uma professora na rede social Facebook. Esta, sem pestanejar, acusou uma vereadora de Porto Velho de ter recebido dinheiro para ajudar a aprovar as férias do prefeito Dr. Hildon Chaves  (PSDB) na Câmara de Vereadores.

A acusação é tão séria que, com apresentação de provas da alegação, poderia render cadeia de 2 a 12 anos por corrupção passiva e até mesmo a cassação do mandato por quebra de decoro parlamentar. Logo, imputar a alguém conduta criminosa sem qualquer substância indicativa também é crime: há, nesta hipótese, a figura da calúnia, que não se confunde com injúria ou difamação.

É bom destacar que para cada corrupto passivo é preciso pelo menos um ativo: a suposta propina teria sido –
 na narrativa da docente recriminadora – recebida para obter aprovação das férias de quem mesmo? Calúnia também, pô!

Até aí, assistia exclusivamente razão à representante do povo, que poderia, e parece que ainda irá, buscar reparação por dano moral na esfera cível. Ah, amigo leitor, assistia!, no passado, porque o temperamento sem rédeas e um computador (ou celular) ligado à Internet são verdadeiras máquinas de massacrar reputações!

Convenhamos: geralmente também prestam enorme serviço de utilidade pública vez que escancaram as reais credenciais do hospedeiro da máscara social.

E assim posso dizer finalmente e tanto quanto desanimado:

– É um prazer (?) conhecê-la, vereadora!

Num rompante descompensado recheado de palavras de baixo calão – impublicáveis neste espaço que administro por mera questão de coerência já que equiparo a atroz manifestação às fotografias de gente esbagaçada em acidentes de trânsito, despiu-se da fidalguia, fugindo à urbanidade que deveria reger toda relação humana, ainda que em contraposição. Jogou fora a oportunidade de demonstrar superioridade fazendo justamente o contrário: apelou à baixeza digna dos empobrecidos de essência. De quebra, não esqueça, cometeu crimes de injúria, difamação e ameaça.

Não fossem suficientemente vexatórios os impropérios tagarelados pela vereadora, houve mais uma postagem com a intenção de justificar a conduta censurável: ao tentar explicar o que a levou a proferir o palavreado chulo em forma de adjetivação, ainda me sai com essa:

"De tudo isso, o que me deixa extasiada é de (sic) saber que você é uma EDUCADORA. Por isso, a educação de nossas crianças está um caos, por pessoas como você nas escolas... Não tem educação e é professora! Lamentavelmente!", bradou cheia de si.

Caramba!

A mulher que acabara de demonstrar a quem quisesse ver o ápice da falta de respeito, cordialidade e civilidade teve a ousadia de tentar lecionar aos espectadores o que é ou não essencial à educação.


Se estivermos diante de reflexos promovidos por uma disciplina militar, já que é defensora da militarização dos educandários estaduais (brincando de deputada, que legal!), pobres crianças e adolescentes!

Pior ainda: se a nota pública e oficial de esclarecimento apresentada pela vereadora fora redigida por alguém instruído em escola militarizada... Céus, Deus proteja essas moças e rapazes na hora do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), porque só a divindade os fará colocar as vírgulas nos lugares certos.

Constasse no Código Penal pátrio o capítulo Dos crimes contra a Língua Portuguesa, e deveria constar, diga-se de passagem, estaríamos diante de algo equivalente a um homicídio qualificado: execução sumária por motivo torpe (desculpa esfarrapada), impossibilidade de defesa da vítima (cadê a revisão?) e emprego de tortura (por que bater tanto?).

Caracterizado o flagrante, poderia ser presa, ou, caso batesse o peso da consciência, deveria se entregar às autoridades policiais tão próximas a ela, já que é para isso que servem.


Eu mesmo acionaria o 190 gritando desesperado:

– Corram, prendam quem matou Vernáculo!

Autor / Fonte: Vinicius Canova

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