Entrevista e texto: Vinicius Canova
Fotos: Gregory Rodriguez
Porto Velho, RO – Não se engane. A pouca idade cronológica de Vinicius Miguel, da Rede, esconde uma vasta bagagem político-social. Prestes a completar 33 anos, o jovem advogado e professor universitário pretende disputar uma eleição pela primeira vez – e quer logo de cara a cadeira-mor do Palácio Rio Madeira.
É formado em Direito e Ciências Sociais; fez especializações em Administração Pública, além de Filosofia, Ética e Direitos Humanos. É mestre em Ciência Política e doutorando na mesma área. Advoga há uma década e já completou seis anos como docente efetivo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), onde também foi professor temporário. Lecionou, ainda, em instituições privadas de ensino, como na Faculdade Católica e no Instituto Federal de Rondônia (IFRO).
Ao Rondônia Dinâmica, o pré-candidato confidenciou suas pretensões, falou sobre o ex-presidente Lula (PT) e o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL); opinou acerca do controverso auxílio-moradia e expôs sua visão atrelada aos direitos humanos.
Discorreu, também, a respeito de pontos positivos e negativos na administração do ex-governador Confúcio Moura (MDB); cobrou imparcialidade nas investigações da Lava Jato; enfrentou questões sobre seu sobrenome – e contou como irá disputar contra o poderio econômico do cacicado eleitoral.
Rondônia Dinâmica – Você vai se apresentar como um não-político nas eleições de 2018, como fizeram João Doria e o próprio prefeito Hildon Chaves, ambos do PSDB?
Vinicius Miguel – Primeiro, quero dizer que quem fala que não é político está mentindo. É uma desfaçatez. Quando somos consumidores, pagamos tributos, votamos, somos políticos. É mau-caratismo ou ignorância em relação aos fatos uma pessoa que se apresenta assim.
RD – E por que essas pessoas mentiram?
VM – Essas figuras públicas que se anunciavam nas eleições como não-políticas tinham envolvimento com política muito antes de lançarem candidaturas. Às vezes um envolvimento quase que umbilical com outras lideranças, a exemplo do caso Doria, que passou por vários cargos públicos como agente político. Esse discurso é danoso porque soa como se a política tivesse de ser, obrigatoriamente, associada a algo ruim.
RD – Mas você não é um novato na política fora das hostes partidárias, não é mesmo?
VM – Sempre tive alguma forma de envolvimento político, seja como representante estudantil na época de acadêmico, seja participando de protestos e manifestações ou ajuizando ações populares e atuando em conselhos de direitos e outros espaços políticos, mas sem vínculo ou representação partidária – ou de alguém com mandato.
RD – Exerceu mandatos ou outros cargos nessas frentes?
VM – Cheguei a exercer mandatos em órgãos nacionais de conselhos de direitos, cargos na OAB/RO. Então você vai me dizer que uma política de classe, corporativa, não é política? É política! Precisamos romper esse medo da política e a sua consequente demonização superando o receio e encontrando em todos os nossos atos um meio de viver fundamentalmente político.
RD – O que diferencia a atividade política no mundo corporativo da exercida no âmbito eleitoral comum?
VM – Se não houver transparência inclusive nas contas intrapartidárias e subsequente autonomia das legendas, as siglas continuarão nas mãos dos grandes feudos dominados pelos mesmos clãs de sempre.
RD – E por que a Rede Sustentabilidade?
VM – A Rede se mostrou localmente como um partido – ou organização política, aberta a outras candidaturas, que não fossem tipicamente ligadas poder político e/ou econômico. Nisso, a Rede defende candidaturas avulsas e, enquanto não for possível, pratica uma espécie de “empréstimo” de seu nome a quem quiser ser candidato. E valoriza candidaturas cívicas, que seriam daquelas pessoas com alguma representatividade social.
RD – Esse é o diferencial?
VM – Sim, porque essa fluidez maior e a natureza híbrida da Rede me atraíram bastante, mais que aqueles partidos fechados, engessados, com os caciques de sempre. Aliás, caciques não, porque os caciques são abertos ao diálogo nas aldeias indígenas [risos].
RD – Pensando na Rede, recordo quando Marina Silva disse que o partido não era de esquerda nem de direita – e aí os críticos zombaram incluindo aí um “muito pelo contrário”. Afinal, a sigla tem identidade?
VM – Acredito que a Rede tenha, sim, uma identidade, mas não é pré-definida a partir do rosto de uma grande liderança. Por conta disso é um espaço em disputa. Existem grupos muito à direita dentro da Rede, conservadores, assim como existem progressistas e alinhados, de modo geral, até com políticas econômicas da esquerda. Essa, a meu ver, é a beleza da Rede: não se fechar a ideias e posicionamentos e construir, com isso, passos coletivos enquanto entidade política.
RD – A Rede se distancia, então, dos extremos na política?
VM – Nós barramos as fronteiras daquele modelo clássico de extremas direita e esquerda. É um pouco complicado manter do jeito que está. Você vai me dizer que dá pra descartar por completo a categoria de análise de classe social? Não, não dá. Mas dá pra dizer que classe social é aquele modelo engessado, clássico, de um folhetim marxista de proletariado e burguesia? Não, também não dá. Não existe mais isso, esse modelo tão enraigado, como o próprio Marx não colocou dessa maneira. Precisamos de olhares múltiplos e plurais em vez de simplesmente falar que a salvação está em Milton Friedman ou Mao Tsé-Tung.
RD – E por que o Governo de Rondônia logo de cara?
VM – Ué, e por que não? [risos] Se somos e acreditamos que política não deve ser meio de vida e ser político não deve ser um emprego, por que pensar em um modelo carreirista? “Ah, eu vou ser vereador por dois mandatos; aí serei deputado estadual por outros dois, depois deputado federal...”. Bom, você fez uma carreira, não pensou sequer em arejar os espaços onde pretendia se inserir politicamente.
RD – Essa prática dá vazão para a perpetuação dos clãs tradicionais pleito após pleito?
VM – Sim, porque é praticamente uma transmissão quase que hereditária do posto. Se a gente pensar um pouco nisso, há grupos familiares que se perpetuam assim. Então foi um jeito de dizer: vamos romper com isso. Mas não foi decisão única, exclusivamente minha [ser candidato ao governo] – também quero enfrentar o debate, que está polarizado, sem discussão sobre ideologias e planos de governo, mas encarnado em antagonismos de figuras. O “Figurão A” contra o “Figurão B”. Isso também tem de mudar!
RD – E no que você se difere nesse contexto dos figurões?
VM – Na intenção de apresentar propostas que caminhem junto com a sociedade, e não saídas da cabeça de um “grande messias” que se apresenta como salvador da Pátria, geralmente calcando esses ideais naquilo que foi feito em sua carreira política, nunca fora dela.
RD – Ainda falando em figurões, como irá enfrentar o poderio econômico dos adversários? Você já concedeu entrevista dizendo que tem milhões de sonhos. Não soa utópico combater dinheirama interminável com sonhos e ideais?
VM – Hoje, fundamentalmente, pensamos em abrir duas frentes, que é a doação coletiva, e aí é pensar que, além de doar dinheiro, o sujeito precisa se envolver. “Se eu acredito que é preciso mudar isso, tenho de contribuir, com engajamento financeiro, inclusive”. Aquela microfinança, a doação de pequenos valores – até mesmo pela internet. Aí entra a segunda questão, que é fazer um enfrentamento via redes sociais. Aliás, estou aqui, né? Dando uma entrevista sem apoio de um canal de televisão, de um programa de rádio, o que custariam muito mais. Existem veículos de informação alternativos e conseguimos romper um pouco esse bloqueio. É a nossa esperança, inclusive, atuar com informações através das redes sociais. Porque se não for assim, honestamente, só os milhões de sonhos e esperanças não vão resolver [risos].
JOGO RÁPIDO
RD – Direitos humanos...
VM – Uau! Conquistas e avanços civilizatórios muito incompreendidos, absolutamente difamados e extremamente valiosos para se assegurar a sustentabilidade humana no Planeta.
RD – Por que o brasileiro incorporou a ideia de que os direitos humanos existem só para bandidos?
VM – Precisamos entender que o Brasil tem uma população um pouco avessa inclusive a conquistas democráticas. Aliás, democracia é fundamentalmente um direito humano. A ideia de direitos humanos e democracia são absolutamente indissociáveis. Você não tem democracia se não tiver Estado de Direito. Você não tem democracia se não tiver a possibilidade de cidadãos e cidadãs, em igualdade – outro direito humano – disputarem eleições. Você não tem imprensa se não houver liberdade de expressão, de crença e de crítica. Sem esses elementos você não tem nem democracia nem direitos humanos.
RD – Então não existe exatamente um motivo específico?
VM – Eu não consigo precisar qual o fundamento social, além de uma ordem autoritária e escravocrata, racista e preconceituosa para o atual entendimento errôneo do termo. Ainda há incorporada a equivocada concepção de que podemos resolver tudo no pelourinho, no açoite, em vez de discussões das ideias, de posicionamentos.
RD – Lula...
VM – Precisa fazer a profunda autocrítica de suas políticas, práticas e de seu governo.
RD – Bolsonaro...
VM – Igualmente. Precisa repensar e rever seus posicionamentos, principalmente os que atingem direitos e o âmago de pessoas com falas violentas. Ele pode se tornar uma liderança absolutamente carismática e atrair a simpatia de muitas pessoas, mas precisa abolir de suas falas e discursos esse extremo antagonismo que aparenta ser ódio, raiva, virulência gratuita.
RD – Prisão em segunda instância...
VM – Um aspecto que precisa ser muito amadurecido num País que tem um sistema de Justiça absolutamente seletivo, um sistema punitivo pior que medieval, não ressocializador, e um sistema judicial que possibilita, pela precariedade da produção de provas, um conjunto de erros que pode levar ao encarceramento de pessoas inocentes.
RD – Lava Jato...
VM – Precisa provar que não é seletiva, seja com algumas personalidades ou mesmo com alguns partidos.
RD – Políticos de Rondônia também são investigados pela Lava Jato. Como fica a imagem do Estado diante desse novo caos?
VM – Eu acho que existe um pacto de cumplicidade nos processos dos donos do poder, do coronelismo. Entre os proprietários do poder político e econômico. E uma ideia de uma cidadania corrompida, inclusive na base da extrema miséria e pobreza. Corrompida na medida em que precisa da troca de favores, gentilezas, pequenas benesses. E muitas vezes são ações de caráter pouco ou nada republicano – e muito ilícitas.
RD – Qual a solução para esse comportamento?
VM – Precisamos romper essas cadeias de dependência, inclusive psíquicas, de cidadãos para com os donos do poder. É inegável que existam esses vínculos com essas figuras messiânicas, como falávamos há pouco. Líderes carismáticos que são verdadeiras abominações para o sistema democrático, o Estado de Direito, com sucessivas acusações e, mais do que meras ilações, com inúmeras condenações – penais, de improbidade administrativa ou mesmo nos tribunais de contas.
RD – A Lava Jato pode contribuir para que isso seja passado a limpo?
VM – Talvez. Precisamos rever esse comportamento e, sim, nós falávamos de Lava Jato quando mencionei que ela precisa provar que não é seletiva. A operação precisa atingir os rincões periféricos da Amazônia da mesma maneira com a qual supostamente atinge o núcleo da estrutura financeira da Petrobras e das grandes construtoras. E são grandes construtoras que também passaram por Rondônia, também deixaram obras aqui. E, como apontam algumas acusações do Ministério Público, deixaram rastros não só de construções, mas também de violações de direitos e corrupção.
RD – Você tem uma carreira no mundo jurídico e foi e ainda é ativista social. Qual é sua visão sobre os penduricalhos da Justiça, a exemplo do controverso auxílio-moradia?
VM – Acho, Vinicius, e mais uma vez a gente retorna à questão da desigualdade, pois o que talvez choque não seja exatamente o nome que a gente dá para a suposta vantagem econômica ou não. O que choca é a profunda desigualdade quando comparamos os casos. O auxílio-moradia, seja de um parlamentar, seja de um membro da magistratura, acaba correspondendo a uma vez, uma vez e meia, ao salário de um professor. Isso precisa ser posto a nu antes de qualquer coisa. A outra coisa que sempre defendi é que todas as categorias precisam ter condições dignas – e dignidade também passa por uma boa possibilidade de vida econômica, pois até que alguém revogue o modo de produção capitalista nós seremos cidadãos econômicos, homens e mulheres que consomem e precisam gastar.
RD – Essa é uma questão além da compreensão moral e legal da coisa?
VM – Nós precisamos fazer essas discussão sobre o que são os penduricalhos ou não numa perspectiva jurídica e moral, não somente falar “Ah, tem previsão legal”. Mas também temos de perguntar: “Existe uma previsão ética, de uma justiça econômica do recebimento ou não desses valores?”. Claro, também vinculando com uma ideia de previsão jurídica. “Olha, se alguém recebe, recebe porque existe uma lei. Então, podemos revogar essa lei? Ou podemos aprovar novas leis?” Com esses questionamentos podemos fazer essa discussão ampla, coletiva.
RD – Mas isso é algo instituído há muito tempo. Por que só agora veio à tona o debate?
VM – Parece que o debate sobre o auxílio-moradia da magistratura ser absolutamente imoral e supostamente ilegal vem num momento de tentativa de cerco do próprio Judiciário quando não se questiona às vezes o mesmo benefício voltado ao parlamento, recebido por parlamentares. Então precisamos ser menos hipócritas e ter mais senso de realidade. Que o auxílio-moradia de todas as categorias seja revisto, então, ou vamos possibilitar a extensão do benefício a todos os servidores públicos, e por que não a todos os cidadãos e cidadãs deste País?
RD – Você enxerga algum paralelo dessa discussão com os reclames voltados ao pagamento de contribuições sociais, a exemplo do Bolsa-Família?
VM – Agora, de novo falando em hipocrisia, é muito interessante quando, por exemplo, um benefício como o Bolsa-Família é visto como compra de votos, um favor menor, uma coisa esdrúxula e espúria, quando outros penduricalhos, usando a terminologia que você mencionou, são utilizados por categorias e observados como benefícios legais e direitos adquiridos.
RD – E como chegar à resposta derradeira?
VM – Precisamos esclarecer e não aceitar que uma pequena contribuição social para classes mais baixas seja considerada imoral, e valores pagos a autoridades, ainda que previstos em lei, sejam considerados algo como benesse possível, justa, adequada. Precisamos nivelar os argumentos, ter congruência, coerência nas justificativas de nossos discursos políticos. Ou é imoral para o Judiciário e o Legislativo, ou não é nem para um nem para o outro. Ou é imoral o pagamento de políticas sociais que visam diminuir as desigualdades sociais, e a mesma coisa se aplica aos auxílios de qualquer tipo como auxílio-paletó, auxílio-moradia, ou nenhum dos dois deve ser considerado imoral.
RD – Mais especificamente ainda, e quando o juiz já tem moradia e/ou é casado com uma magistrada e ambos recebem o auxílio, isso não é mais do que imoral?
VM – Se o benefício é voltado, supostamente, para assegurar uma residência digna, e ambas as pessoas habitam na mesma casa, não tem como pensar numa cumulação desses auxílios.
RD – O que você faria de diferente do ex-governador Confúcio Moura (MDB) e, se eleito, o que fará de janeiro de 2019 adiante?
VM – O primeiro aspecto é aprofundar os mecanismos e formas de participação popular. Isso passa por empoderar as ouvidorias das autarquias e secretarias, realizar mais conferências de modo a colher a contribuição da participação ativa da cidadania para construção de políticas sociais e fortalecer a existência de conselhos de direitos para que possam, de fato, ser um instrumento de qualificação da política pública. Com isso, mudar a roupagem atual dos conselhos de direitos que acabam se tornando grandes parlatórios, espaços onde se fala muito, mas pouco se delibera e concretiza. Seja pela falta de previsão legal para isso, seja pela incapacidade técnico-gerencial dos integrantes, seja, também, pela ausência e omissão dos representantes do poder público que deveriam se envolver.
RD – O outro aspecto seria...
VM – O segundo aspecto é que Rondônia tem sofrido bastante na questão da segurança pública em grandes termos. Temos muitas peculiaridades que precisam ser olhadas, como o fato de formarmos um Estado fronteiriço com um país que usualmente acusamos de contribuir com o aumento do tráfico de drogas, roubo de cargas, enfim, entre outras coisas. Precisamos olhar hoje mesmo a segurança e os profissionais do setor com um novo cuidado.
RD – Por que especialmente a segurança pública?
VM – Porque os trabalhadores da área formam uma categoria profissional absolutamente esquecida, muito marginalizada, e que acaba fazendo um trabalho muito artesanal e com pouca cientificidade. Não por má vontade dos integrantes das carreiras policiais, mas exatamente por falta de condições. Embora nós tenhamos observado evoluções com a questão da polícia técnica, a instrumentalização do Instituto Médico Legal (IML), muito ainda pode ser feito de modo a encontrar maior resolutividade e eficácia às policias.
RD – E a solução para isso?
VM – Passa também por um maior investimento em tecnologia: de vigilância, monitoramento. Outro aspecto que é um nó difícil de desatar nos Estados da Amazônia Legal, mas que temos de pensar aqui, é a questão do campo. Precisamos diminuir os índices de violência no campo e isso passa por uma profunda regularização fundiária, revisitação dos conceitos de reforma agrária – que não são exclusivamente de atribuição do Estado enquanto ente federativo, mas também da União. Pensar em assegurar o mínimo de segurança jurídica aos proprietários e posseiros de terras, evitando conflitos armados como tem ocorrido e, ainda, pensar no nosso zoneamento econômico e ecológico de modo a evitar essas profundas disputas que se dão por conta da insegurança político-ambiental. Temos de pensar também em como melhorar a produção agrícola e a agropecuária sem promover mais devastação ambiental e novas depredações do meio-ambiente.
RD – Para ficar claro: quais foram os maiores pecados da gestão Confúcio Moura?
VM – Há uma dificuldade em assegurar celeridade nas decisões. Tivemos inúmeros avanços em alguns aspectos, e eu penso aqui, por exemplo, na criação do Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura, penso no Conselho Estadual de Direitos Humanos, penso no Programa de Proteção às Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, na Câmara de Mediação e Violência no Campo, mas que são, ao mesmo tempo, programas com dificuldades e entraves internos para que haja efetividade prática. Mas isso é um velho problema do Estado onde se associa a ele a própria burocracia incessante, demora, lentidão, vagarosidade.
RD – E como você pensa em driblar essa burocracia mesmo propondo uma gestão mais participativa?
VM – Precisamos pensar em simplificações. É um processo de inovação criativa que é pensar fora das caixinhas, fora das amarras burocráticas. Olhar para dado problema e pensar em qual é a solução, não pensar em torná-lo ainda mais problemático, mais dramático, se é que posso falar desta maneira. Houve inúmeras greves do funcionalismo público nesse governo porque não houve diálogo. A administração não conversou com as categorias para encontrar soluções céleres, pinçar, às vezes, um meio-termo entre o que se pode ou não oferecer de acordo com a realidade financeira do Estado.
RD – O que você faria no lugar do ex-governador neste aspecto específico das greves?
VM – Seria importante invocar instrumentos como o Orçamento Participativo. Por isso, coletivamente, vamos deliberar e falar. “Olha, daqui podemos tirar. Daqui não”. Vamos enxugar e diminuir despesas, por exemplo, com propaganda. Não vai existir aquele velho endeusamento que a máquina pública costuma fazer de suas próprias ações, personalidades, eternos autoelogios em vez de pensar em assegurar algo realmente fático, realizações.
RD – E a educação, também não padece pela negligência estatal?
VM – Na educação, outro exemplo, principalmente no Ensino Médio, como é que vamos conseguir ampliar os índices de aprovação dos estudantes nas universidades públicas? A gente tem de dar respostas para essa questão, não pensar em pintar muros do lado de fora das escolas a cada dois anos, às vésperas das eleições. Eu usaria uma expressão em inglês para ilustrar. É o problem solving, a solução de problemas. Vamos encurtar distâncias de tramitações. Quantos setores existem dentro de uma determinada autarquia fazendo você perder dias até a documentação passar do lugar “X” ao “Y”? Ainda que seja uma tramitação via processo eletrônico. Tem que ter o “enter” do fulano, depois a assinatura digital do beltrano, aí depois o sicrano tem de tramitar o processo clicando não sei onde. Então como a gente faz para simplificar o método? É isso que eu quero.
RD – Rondônia tem um histórico de chagas legislativas em composições corruptas e não republicanas. Se eleito, como pretende lidar com os deputados, principalmente se forem mal intencionados?
VM – Em primeiro lugar, se tenho alguma chance de ser eleito, e acredito que sim, espero também que o Legislativo seja renovado. Do contrário, serão meros arremedos e reparos localizados e que levam, de fato, à situação que você colocou de ingovernabilidade. A gente bem sabe que se o parlamento for malicioso, de pessoas astutas, minimamente espertas e não energúmenas, é possível derrubar um governador por questões de 180 dias, que é o prazo de tramitação de um processo de impeachment. Basta querer.
RD – Você acha que pode passar por isso?
VM – Eu não sei, já que você não precisa de muitos fundamentos jurídicos para que ocorra algo como um impeachment. Nós sabemos que é plenamente possível, factível, inclusive com parâmetros expostos na América Latina. Isso é muito comum, deposições de governadores e presidentes. Através do parlamento você dá ares de decisão democrática e legítima a essas deposições obtusas.
RD – Então a única solução é a renovação integral do Legislativo?
VM – Olha, eu espero que esses membros danosos – verdadeiras ervas daninhas do Poder – sejam expurgados. Se não for possível, o caminho é ter a coragem de enfrentar. Primeiramente com diálogo, possibilidade de negociação, que é própria da política, da diplomacia, mas também usando a altivez no enfrentamento se for necessário, a partir de denúncias. Não quero fazer guerra de Poder, mas expor o que está errado porque temos de estar preparados para problemas e também à paz. E existe um terceiro Poder, que é o Judiciário. Então se existirem achaques, tentativas nada legítimas de tomada do Poder e derrubada por intenções imorais e injustas, acionarei a Justiça e vou para o enfrentamento. Eu não sou covarde! [risos].
RD – O site Mais RO, do jornalista Roberto Kuppê, informou que você não se escora ao sobrenome da sua família para desenvolver suas funções, inclusive políticas. Por que isso foi levantado e quais são suas raízes?
VM – Eu falei que não tenho medo. E gosto muito de raízes. Raízes no sentido não de genealogias aristocráticas, mas daquela velha divisa sobre honrar pai e mãe. Há um ditado árabe e islâmico que diz: todo filho tem uma dívida impagável para com seu pai e sua mãe. Então são coisas simples, e não uma dívida no sentindo de compromisso histórico de vinculação financeira ou débito moral. Até porque o próprio ditado já menciona, é impagável. Creio no sentido de dignificar pai e mãe. Então amo e admiro meus pais, ambos vivos, graças a Deus. Eles foram e ainda são verdadeiros heróis e fontes de inspiração para mim.
RD – E seus pais são...?
VM – A minha mãe, você perguntou, é procuradora federal aposentada, também teve uma passagem pelo magistério, e o meu pai é desembargador no Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ/RO). Ele também passou por outros cargos de representatividade política nos órgãos de classe. Mas é óbvio que todos nós, no mundo jurídico, emitimos opiniões e decisões que agradam uma parte e desagradam a outra. Isso é evidente. E muitas vezes essas decisões são questionáveis, sejam administrativas, em pareceres jurídicos ou em sentenças e acórdãos.
RD – Vocês discutem?
VM – Como acabei de dizer: uma parte sai muito contente, e a outra sai muito descontente. Isso quando não saem as duas parcialmente descontentes. E tudo isso é minimamente questionável dentro dos paradigmas de direitos humanos, afinal existem o contraditório, a ampla defesa, o duplo grau de jurisdição, então é possível que decisões que eles tenham emitido no âmbito profissional, e não familiar, sejam questionáveis e algumas pessoas têm todo o direito de levar isso a outras instâncias.
RD – Receia, como já ocorreu aqui, que seu sobrenome seja utilizado por adversários para promover ataques pessoais?
VM – Eu vou dar nomes. Não vejo problema nisso. Mas acho curioso e penso em como meus pais, integrantes de carreiras de Estado, possam ser usados para mitigar a minha qualidade ou minha capacidade quando nós temos tantos outros integrantes da vida eleitoral, partidária e política que não foram questionados por isso. O próprio Leo Moraes (Pros) vem de uma família da política, a Mariana Carvalho (PSDB) também e até o Expedito Netto (SD) – os dois últimos exercendo primeiro mandato na Câmara Federal. Todos eles são filhos de políticos, ou ex-políticos, e são inclusive mais jovens do que eu. E ninguém questionou qualificação, titulação, habilitação, idade, filiação... Outro parlamentar, o Jean de Oliveira (MDB), também, né?
RD – Então nunca usou seu sobrenome e o peso que ele carrega para obter vantagens pessoais?
VM – Sem entrar numa análise qualitativa do mérito dos mandatos desses personagens que citei, ou das trajetórias pessoais e profissionais deles, preciso perguntar: por que eu não posso ser candidato? Por que isso tem de ser visto como problema? Nunca vivenciei essa sombra do sobrenome. São pelo menos dez anos de trajetória política e profissional autônomo. Me distanciei e não busquei guarida ou guarita em sobrenomes. Aliás, exceto quando as pessoas mencionam e levantam esse ponto, eu nunca trouxe, nunca utilizei nem nunca apontei isso para ter favor pessoal ou benesse própria.
RD – Como pretende enfrentar o debate neste contexto de política extremamente beligerante e de jogo baixo?
VM – Quanto aos erros apontados, e não descarto que qualquer um possa se equivocar, se enganar, e até num momento de distração cometer uma verdadeira burrice, acho que temos de ter a humildade e a dignidade de reconhecê-los. Ter a hombridade de dizer: “Olha, nisso aqui eu poderia ter feito melhor”. Quanto a ir para o enfrentamento, digo, de novo, eu não sou amador, não sou uma pessoa inexperiente, e tampouco sou covarde. Nem covarde para chutar os que estão caídos nem no sentido de me amedrontar. Acho que posso, de alguma maneira, contribuir com o debate político e com engrandecimento das instituições, inclusive das instituições eleitorais para o pleito outubro.
RD – Se você for mesmo o candidato da Rede ao governo, o que diria à população para atrair a confiança do eleitorado?
VM -Eu me preparei para isso, para o exercício de cargos públicos, para o exercício da administração pública. E esse preparo vai muito além da prática do envolvimento exclusivo com a administração pública em si, pois abraço, também, o campo teórico. Então tanto a questão do direito, da administração pública, da teoria política foram áreas que associei à teoria social numa vivência proba, ética, sempre envolvido com a defesa de direitos, seja individualmente através da advocacia ou coletivamente com as associações, entidades de classe. Então posso passar a mensagem de que sou mais uma alternativa, uma boa opção para aqueles que desejarem votar.
Autor / Fonte: Vinicius Canova / Rondoniadinamica
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