Professor Nazareno: as grades transitórias do saber libertam dos grilhões da ignorância / Foto.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)
Texto.: Vinicius Canova
Porto Velho, RO – Toda moeda tem dois lados; todo sentimento, sua antítese. A do ódio é o amor. Esta mescla perigosa colocou trágico ponto final em um dos maiores escritores brasileiros, Euclides da Cunha, autor do renomado Os Sertões.
Cunha fora assassinado pelo amante de Anna Emília, sua esposa. Desengonçado, míope, habituado ao pleno domínio da consciência utilizando apenas caneta e tinta como material "bélico" de sua essência, aventurou-se à vindita armado. Seu algoz, um militar, sagrou-se vencedor na batalha campal escolhida a partir do momento em que o intelectual brasileiro resolvera empunhar a pistola dando vazão ao orgulho do bastião adormecido e bem guardado até ali.
O lúgubre paradoxo apresentado pelo poeta Augusto dos Anjos ao destacar no soneto Versos Íntimos a frase "A mão que afaga é a mesma que apedreja" é outro sintoma ardiloso de sentimentos mútuos e cíclicos a coexistir em contextos e personalidades.
"Somos destemidos idiotas!" / Foto.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)
Estas figuras de linguagem, até então expostas apenas em lousas pelo 16º convidado a participar de RD Entrevista, seção publicada exclusivamente pelo jornal eletrônico Rondônia Dinâmica, agora caracterizam aquele que as costumava e ainda costuma explicar.
José do Nazareno Silva, o Professor Nazareno, é reconhecido socialmente pelos textos críticos, exagerados, cheios de ironia, repletos de ofensas genéricas e adornados por um tom satírico jamais visto até então nestas paragens do poente, trecho este retirado do Hino de Rondônia, o qual garante detestar.
Conversa descontraída entre o professor José de Arimatéia Dantas; o repórter Vinicius Canova e o escritor Nazareno / Foto.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)
Para compreender melhor o cidadão que inventou alter ego homônimo – por vezes transmutado num pseudônimo feminino escrachado – de espírito anárquico e totalmente sem rédeas, a equipe encontrou Nazareno em duas ocasiões distintas no reduto profissional que tanto o orgulha: a Escola Estadual João Bento da Costa (JBC).
Na primeira oportunidade, sexta-feira (09), o jornalista Vinicius Canova, o repórter fotográfico Gregory Rodriguez e o jovem universitário Francesco Neto foram ao educandário para conversar, principalmente, com outros professores, funcionários dos demais setores do colégio e, claro, os próprios alunos.
A frase repetida exaustivamente pelo docente é tão exagerada quanto seus escritos: “40% dos alunos entrariam na frente de uma bala por mim; outros 40% dariam o tiro e os 20% restantes não participaram da pesquisa” / Foto.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)
Extraiu-se, a partir dos depoimentos colhidos, ala desconhecida da personalidade do homem que creem só odiar; do outro lado, diferentemente do que se observa na Internet nos comentários postados em seus artigos, há um ser humano capaz de receber afeto e reconhecimento apesar das controversas posições enquanto autor de textos.
O saldo do bate-papo com os alunos do Terceirão você confere abaixo (ative as legendas no vídeo no canto inferior direito)
Seriedade só quando o assunto é Educação; no mais, o deboche é marca registrada de seus dizeres e o que sobra é a personificação de um verdadeiro caos em profusão / Fotos.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)
Na terça-feira seguinte (13), novo encontro: desta feita para questionamentos apresentados na tradicional conversa travada a olho no olho de maneira franca e aberta.
O professor falou sobre as consequências geradas pelos artigos polêmicos que costuma escrever; expôs o orgulho que tem pelo JBC; relatou por que o ENEM virou negócio e garantiu corrigir, em média, 14 mil redações por ano.
E ainda:
Por que Educação é o único tema tratado com seriedade em suas dissertações; reflexos familiares diante das ofensas recebidas; como um grupo de professores reergueu e impulsionou – sem apoio do poder público – a instituição onde leciona e a importância do Projeto Terceirão.
"Um redator não nasce do dia para a noite, é um degrau de cada vez" / Foto.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)
Apesar do carinho demonstrado por alguns de seus pupilos, há quem destoe, impondo ao educador a pecha de "carrasco". Ele rejeitou ou assumiu o rótulo? Nazareno se desculpou com Rondônia? Existe arrependimento em relação às publicações?
Só na segunda-feira (19) em RD Entrevista, quando o leitor poderá chegar às conclusões acerca do multifacetado cidadão cujas mãos que apedrejam os homens públicos e a inércia coletiva são as mesmas que afagam seus detratores.
Quinta-feira, 15 de junho de 2017, feriado de Corpus Christi: alunos do JBC encaram simulado / Fotos.: Arquivo pessoal
Alunos garantem: professor aceita e respeita posições contrárias, mas exige embasamento em todas as visões; domínio do vernáculo também é critério pontual nas aulas de Redação / Fotos.: Gregory Rodriguez
O homem que inspira e desencadeia coléra também faz rir... E muito / Fotos.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)
"O Projeto Terceirão e o JBC são como se fossem meus filhos" / Fotos.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)
Autor / Fonte: Rondoniadinamica
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