Texto.: Vinicius Canova
Fotos.: Gregory Rodriguez
Porto Velho, RO – A sétima edição de RD Entrevista, seção publicada exclusivamente pelo jornal eletrônico Rondônia Dinâmica, traz uma conversa franca e direta com o secretário-chefe da Casa Civil, Emerson Castro (PMDB). Castro conta pela primeira vez à imprensa sua versão sobre denúncias envolvendo seu nome. Explica, por exemplo, se o contrato da empresa de sua esposa com o governo é ou não ilegal; fala sobre como voltou à vida pública através de um convite feito pelo governador Confúcio Moura (PMDB), revela facetas de sua vida pessoal e aborda inúmeros outros pontos acerca de suas atividades.
O secretário, novo homem forte do governo Confúcio, destaca ainda como foi lidar com a Prefeitura de Porto Velho em apenas um mês, dezembro de 2012, quando o ex-prefeito Roberto Sobrinho (PT) fora afastado de suas funções em decorrência de decisão judicial; relata se sabia ou não sobre as denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF/RO) através do procurador Reginaldo Trindade envolvendo a gestão petista e apresenta Xerém, seu galo de estimação.
E mais: impressões sobre o presidente Michel Temer; possibilidades de ser conselheiro do Tribunal de Contas (TCE/RO); empreendimentos de sua família em outras regiões do País e a acusação de ter usado a estrutura da Secretaria de Estado da Educação (SEDUC) para atacar adversários políticos de Confúcio durante a campanha à reeleição.
"Política é desinteressante, apesar de ser apaixonante", diz Emerson Castro
Foto.: Gregory Rodriguez
Perfil e trajetória
Emerson Castro nasceu em Porto Velho no dia 11 de junho de 1973. Aos 43 anos, é casado e pai de três filhos. É o atual secretário-chefe da Casa Civil do Estado de Rondônia na gestão Confúcio Moura (PMDB). Castro também é peemedebista, ex-presidente estadual da Juventude da sigla e membro titular do Diretório Estadual da legenda. Formado em Direito e Hotelaria, foi prefeito em exercício no mês de dezembro de 2012, devido ao afastamento do ex-prefeito Roberto Sobrinho (PT), por força judicial; foi vice-prefeito de 2008 a 2012; secretário municipal de Esportes e vereador por dois mandatos. Em janeiro de 2013, a convite de Confúcio, assumiu a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Economico e Social (SEDES), cargo que ocupou até setembro do mesmo ano, quando assumiu a Secretaria de Estado da Educação (SEDUC), onde ficou até o mês de novembro de 2014, data em que se desincompatibilizou da secretaria para assumir a articulação política na Casa Civil do governo. Empresário, foi presidente da Associação de Jovens Empresários de Rondônia (AJE-RO) e presidente interino da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira em Rondônia (ABIH-RO).
Vida pública
Rondônia Dinâmica – Secretário, o senhor poderia nos contar um resumo da sua biografia até o seu atual momento político?
Emerson Castro – Obrigado, primeiramente. Bom, sou portovelhense, nascido aqui e minha família mora em Porto Velho há mais de cem anos. Tenho bisavó nascida em Porto Velho, na Vila da Candelária. A avó nasceu em Porto Velho, no Olária, na casa em que ela morou a vida inteira até morrer. E a minha mãe nasceu na Vila do seu Mário Alfaiate, quem desce ali a Biblioteca, antes da Júnior Sun, naquela esquina. Ela inclusive costumava descer até onde era a Praça Jonatas Pedrosa, onde havia um canal, chamado Canal Santa Bárbara. Ela costumava descer lá para pegar água para fazer comida e lavar roupa. Era um canal de água limpa. Eu nasci na Maternidade Darcy Vargas e meus três filhos nasceram em Porto Velho também. Então são cinco gerações de portovelhenses. Minha formação toda foi aqui.
O Ensino Fundamental e o Médio, até o segundo ano do Segundo Grau, agora chamado como décimo primeiro ano. Então fui para Campinas, encerrei o Médio lá e fiz um ano de Economia. Depois voltei para Porto Velho só que eu tranquei o curso porque ganhei uma bolsa para fazer Hotelaria na Europa. Passei um tempo na Europa e o curso de Hotelaria lá é um curso prático, como são os ‘colleges’, né? É um curso de um ano, dois anos... E eu passei pouco menos de um ano e concluí o curso. Eu estava em Berlim, inclusive, na época da queda do muro. Passei um tempo em Frankfurt, em Paris, Palma de Maiorca e fui até Berlim quando soube do acontecido. Voltei com o curso de Hotelaria [concluído] para ‘tocar’ o hotel da família e continuei depois o curso de Economia. Fiz mais dois anos do curso de Economia na UNIR. Faltando um ano, parei. Porque apesar de ser um curso de Humanas, é um curso muito matemático para o meu gosto [risos]. Eu gosto de Humanas.
É... Em seguida eu fiz Direito na Faro e, já no governo, fiz duas pós: sou APG Senior da Amana-Key, que é um instituto de formação de líderes e a outra no Centro de Liderança Pública (CLP), ambas em São Paulo. Isso já no governo Confúcio, porque o governador Confúcio é obcecado por formação. Ele obriga o secretário, literalmente, a se capacitar continuamente. Obriga no sentido de que ele dá o próprio exemplo: ele faz cursos também. Comecei na vida pública no PSDB como vereador, depois, na minha segunda campanha, já foi pelo PMDB e engraçado que, há 15 anos, fui convidado para o PMDB por ele, pelo Dr. Confúcio, que era deputado federal. Então de lá pra cá a gente fez amizade e nunca perdemos o contato. Aí fui vereador pelo PMDB, fui secretário municipal de Esportes já na primeira gestão do ex-prefeito Roberto Sobrinho (PT) e disputei as convenções do partido com outros dois candidatos para concorrer a vice-prefeito. Então era o Pedraça, o Nerival Pedraça, o Fernando Prado e eu. Ganhei as convenções e aí fui candidato a vice-prefeito com o Roberto e, de lá para cá, é história.
No governo, fui secretário de Desenvolvimento, cheguei a assumir [a Prefeitura de Porto Velho] um período curto no final do mandato do Roberto. Saí do governo achando que havia encerrado minha carreira política, quando o governador me chamou para assumir a Secretaria de Desenvolvimento; um ano depois me chamou para assumir a Secretaria de Educação, onde fiquei cerca de um ano e meio e em seguida na Casa Civil, há dois anos e alguns meses onde estou até hoje.
Ascensão no governo Confúcio
RD – Secretário, o senhor ocupa um dos postos mais importantes no Governo do Estado em termos estratégicos. E é um dos poucos que subiram de funções na gestão Confúcio Moura. A que o senhor credita essa confiança debitada pelo governador do Estado?
EC – Difícil... O Dr. Confúcio é um homem que faz uma análise sobre vários aspectos de qualquer pessoa, de qualquer área do governo. Eu não poderia dizer qual é o real valor que ele viu em mim para ter essa confiança. O que eu sei e ele sabe também é que estava fora da vida pública. Então ele me resgatou. E a medida que ele me resgatou, e eu falei, fui bem claro pra ele, só voltei, só assumi [as funções no governo] porque era ele o governador. Eu não trabalharia com outro governante que não admirasse. Cem por cento de mim, da minha inteligência, da minha vida de trabalho estão dedicados a ele. Não tenho nenhum tipo de interesse particular, não tenho projeto pessoal, político, nenhum! Porque eu devo a ele esse resgate. Acho que ele foi me observando, talvez, não é? E viu em mim algum valor que ele considera importante para a Casa Civil para fazer o contato com os Poderes, o Parlamento Estadual, com as Prefeituras, enfim, ajudá-lo na coordenação de governo. Enfim, ajudá-lo no sentido de cumprir as ordens do governador. Não tomo nenhuma decisão que não venha do próprio governador ou analisando o que ele pensaria sobre determinada situação. Muitas vezes as pessoas acham que a Casa Civil é um Poder paralelo, e isso não acontece, absolutamente. Eu só estou aqui, como disse, porque ele me trouxe à vida pública novamente e me dedico integralmente ao sucesso do governo dele, à boa execução do plano de governo e ajudar os meus colegas a terem um bom relacionamento com o parlamento.
RD – O senhor foi vereador de Porto Velho por dois mandatos; secretário municipal de Esportes e vice-prefeito do município durante a gestão do ex-prefeito Roberto Sobrinho (PT). O que, na sua visão, mais se destaca em suas atividades nessas mais variadas atuações políticas?
EC – Como vereador eu gostava muito de atuar na área rural. Na época, fui vereador com o Ribamar Araújo [atualmente deputado estadual pelo PR], que também foi secretário de Agricultura e, assim que ele saiu para ser candidato a deputado estadual, assumiu uma senhora chamada Josélia, que é minha amiga até hoje e trabalha inclusive com o Ribamar, e a gente fez uma parceria muito boa. Nos entendemos bem nesse trabalho na área rural. Então, questão de abertura de estradas, fomento à produção, escoamento de produção, isso foi uma área em que atuei muito fortemente. Na Agrovila, no Km 13, na Comunidade Bom Jesus, perto do Rio Preto, descendo o Madeirão, conheço todos os distritos e vilas da minha cidade, da nossa cidade. Você é nascido aqui, Vinicius?
RD – Eu sou nascido aqui...
EC – Conheço todos os distritos e vilas. É... Então a área que eu gostava de atuar, além do turismo, sempre estava envolvido com atividades voltadas ao turismo, até pela minha formação também e a própria área de atuação, e também áreas voltadas à juventude, esporte e lazer, o que era natural pela minha idade e pela minha vivência aqui de Porto Velho, quer seja profissional, quer seja pessoal também com líderes e pessoas ligadas ao turismo.
RD – O senhor chegou a ocupar a Prefeitura de Porto Velho quando, em dezembro de 2012, o prefeito Roberto Sobrinho foi afastado de suas funções. Como foi receber essa incumbência em meio à ‘turbulência administrativa’ vivenciada pela gestão petista à época?
EC – Foi traumático e uma surpresa. Porque eu sempre tive vontade de administrar minha cidade. Sempre tive vontade de ser candidato a prefeito, de ser o prefeito de Porto Velho, não nego isso. Uma vontade que hoje já não tenho mais. Mas à época eu tinha. E ser vice-prefeito era uma forma de estar próximo desse sonho. Mas eu jamais imaginava que iria assumir daquela forma. Minha relação com o prefeito Roberto era boa, de respeito mútuo, não posso reclamar disso. Muitas vezes as pessoas me perguntam: “Emerson, por que você não aproveitou aquele período para ‘bater’ na prefeitura, no prefeito?”. Porque eu não tenho e não tinha motivos para isso. Ele nunca foi desagradável comigo. Ele nunca foi...
É... Em nenhum momento eu posso falar alguma coisa de negativa a respeito do Roberto. Mas infelizmente havia, em que pese a pergunta, muitos amigos no PT, amigos de infância, amigos de grupo de jovens de igreja, pessoas com quem eu estudei, havia algumas pessoas na administração, que eram do Partido dos Trabalhadores e me boicotavam muito. Então aos poucos eu fui me afastando do núcleo de governo, do centro de tomadas de decisões. E realmente eu não esperava que houvesse todos esses problemas que foram apontados na época, até o afastamento do Roberto como, inclusive, ainda têm de ser comprovados, porque ainda estão sendo processados. Todos [os envolvidos] têm direito à ampla defesa e tudo o que a Constituição e o Código Penal reservam a eles. Então me dediquei, quando assumi, à primeira coisa: precisava tranquilizar a população. Nós estávamos num período de fim de ano, congestionamento terrível ali na região dos viadutos, [a área estava] interditada. Minha porta ficou lotada de fornecedores preocupados se iriam receber, se não iriam receber. Porque tinham de pagar décimo terceiro a seus funcionários.
Servidores também preocupados, enfim. Então a primeira coisa que eu fiz foi me comunicar com as pessoas, com a sociedade, para tranquilizá-las. Eu estava garantindo que iríamos pagar a folha antes do Natal; o décimo terceiro antes do Natal; que os fornecedores iriam ser honrados, todos; que não havia nenhum tipo de favor que tivessem de me fazer para receber seus empenhos, suas obras, seus serviços, suas locações, como o foi. Todos receberam direitinho. Pagamos a folha no fim do mês e montei uma força-tarefa, inclusive na época com ajuda do governador para desobstruirmos, liberarmos o acesso do Trevo do Roque e do elevado da Jatuarana. E é engraçado porque foi no período de dezembro e chove, né? Pra caramba... Fim de ano a gente sabe que aqui chove. Mais em janeiro, né? Mas em dezembro chove! E eu precisava de oito dias de sol para poder fazer aquilo e diminuir um pouco do sofrimento do pessoal da Zona Sul, que passava uma hora para vir... Período de Natal, tendo de fazer compras, ir e voltar do trabalho, festejos e tal.
E eu tive exatamente oito dias de sol! Eu ia às 06h da manhã até o Prestes, que estava na Semob e me ajudou muito, acho que hoje até está na Semusb, e eu ia às 06h junto com o pessoal que chegava logo no início do dia e começava a fazer alargamento de pista, asfaltamento, conserto de buraco e chegou num determinado momento que a gente precisava pedir análise de engenharia para ver se o elevado estava em condições de receber carga, e estava em condições. E aí chegou num dilema que eram as laterais, o ‘guard rail’ [conhecido como guardirreio, proteção na pista]. E nós não tínhamos como licitar, não tinha ninguém que topasse fazer porque estava com medo de que o próximo prefeito não pagasse, porque [na cabeça deles] não teria condições de pagar, não iria dar tempo [para fazer o serviço] e me veio a ideia de botar manilhas [risos]. E ficaram aquelas manilhas lá, que era um negócio que o próximo prefeito que iria assumir, ao menos na minha cabeça, com poucos meses retiraria as manilhas e colocaria o ‘guard rail’. Então coloquei as manilhas e enchi de pedras para que as pessoas evitassem as laterais e não haver risco de cair. Criatividade!
RD – Necessária e paliativa?
EC – Absolutamente! Gente, eu tinha um mês. Em oito dias eu fiz o que as pessoas estavam pedindo que fosse feito há dois ou três anos. E fizemos. E no oitavo dia eu me lembro de ter subido o alto do elevado da Jatuarana, dei um giro sobre meu corpo de trezentos e sessenta graus: estava chovendo em toda a cidade! Cem por cento de Porto Velho, por onde eu olhasse, estava com céu negro, chovendo, menos lá onde a gente estava trabalhando. Quando a gente começou a tirar os gelos-baianos para liberar o acesso e os carros começaram a passar, lembro até que o primeiro que passou foi um ônibus, começou a chover torrencialmente. E eu estava lá com a turma, pegando chuva e nós nos abraçamos e choramos. Foi um negócio muito forte, sabe? E de lá para cá, fizemos mero trabalho administrativo para pagar a folha, fornecedores e fazer a transição para o prefeito Mauro e encaminhar para a Justiça tudo o que estava sendo pedido de documentação, processos sem nenhum tipo de resistência ou negativa.
Corrupção na gestão Roberto Sobrinho: o vice sabia?
RD – O procurador da República Reginaldo Trindade disse que, durante a gestão de Roberto Sobrinho, foi desbaratada uma ‘verdadeira quadrilha que havia na Prefeitura de Porto Velho’. Passados quase cinco anos e após ter assumido a administração da cidade naquela ocasião, o senhor, que integrou a gestão, sabia o que ocorria?
EC – Já me perguntaram sobre essa situação e eu vou falar com toda a franqueza: o Dr. Reginaldo Trindade é uma das pessoas que eu reputo íntegras, inteligentes e dedicadas à causa pública. Tenho o maior respeito pelo doutor Reginaldo, somos amigos e até hoje a gente se relaciona. Eu não sabia. E eu não sabia não no sentido covarde de dizer. Eu não sabia porque, não sei se por conta da minha personalidade, alguns tipos de propostas, alguns tipos de informações jamais chegariam a mim. Porque as pessoas sabem como eu sou. Eu não tenho apego a nada que não seja correto. Não vim para a política, para a vida pública para fazer o errado. Eu vim por idealismo. Eu vim por amor a esta terra. Eu vim por um sonho. E eu não tinha motivo nenhum para jogar esse sonho na vala. Eu falo sempre o exemplo... Um dia... Um dia não, já tem alguns anos, fui chamado na escola do meu filho e... Você tem filho?
RD – Ainda não...
EC – Me chamaram na escola do meu filho e o diretor me chamou porque ele estava bagunçando. E mostrou: “Olha aqui, e inclusive ele está compartilhando com os colegas dele vídeos eróticos” [gargalha]. Ele tinha quatorze anos à época e aquilo me deixou bravo, né? Enquanto estava indo da escola do meu filho para a casa lembrei de mim. O que aconteceu? A mídia mudou. A gente, na minha idade, na idade dele, pegava as revistas do pai da gente e levava para a escola, porque a mídia era impressa. E é a mesma coisa: a mídia mudou, só que os pais não se adaptaram a essa modernidade. Nós estamos dentro da era da velocidade de informação. E aí eu cheguei lá, conversei com ele e aquele negócio todo e depois nunca mais me chamaram na escola. Por que estou falando isso? Porque estou falando do meu filho, que fez uma coisa que eu não pedi.
Meu filho mora comigo, a gente no mínimo toma café e janta junto, criei ele, conheço razoavelmente bem a personalidade dele e ele fez uma coisa que eu não sabia. Por isso falo com muita tranquilidade que, se houve coisas erradas, e aparentemente houve mesmo na administração, eu não sabia. Eu não sabia mesmo! Se às vezes os filhos da gente fazem coisas que a gente não sabe e vão ao arrepio daquilo que a gente orienta, quanto mais adultos que a gente não tem convivência familiar nenhuma. Então eu não sabia mesmo. E como eu era sempre muito crítico, o gabinete do vice-prefeito ficava no piso superior, e lá gostava de receber a população. E no piso superior não tinha acessibilidade à época e eu não conseguia receber cadeirantes, idosos e então desci. Montei o gabinete no térreo para a gente receber as pessoas.
E nisso fiquei um pouco distante do gabinete do prefeito. E quando eu era convidado para as reuniões de secretariado sempre fui muito crítico porque não entendo como é que pode até hoje a gente fazer tapa buraco com servidor de chinelo de dedo, chapéu de palha na cabeça e jogando asfalto com pá às 14h, às 15h num sol de 40 graus e um asfalto quente. Esse negócio não existe. E eu também não entendo por que no período da chuva não faz tapa buraco. Que história é essa? Então, pra citar só um exemplo, né? Eu era muito crítico com essas coisas. E a última reunião, e dessa eu não esqueço, foi no gabinete do Roberto, e lá estava todo o secretariado. E começaram a falar sobre os transtornos de fazer asfalto de dia. Então eu comecei a falar: “Gente, não se faz asfalto de dia. Se faz asfalto de noite, de madrugada, paga adicional noturno, a temperatura é muito mais agradável, tem menos trânsito, não atrapalha e nem congestiona as vias públicas e a pessoa vai dormir com a rua esburacada e acorda com a rua asfaltada. E é uma surpresa boa, não é mesmo?”. E aí o secretário de Obras à época falou que não dava para fazer asfalto à noite porque não dava para fazer a emenda corretamente porque a iluminação pública não seria adequada.
Naquele momento retruquei: “Então, Roberto, manda parar agora as obras de Santo Antônio, de Jirau, porque não sei se vocês estão sabendo, mas estão concretando lá 2h da manhã, 3h da manhã. A menos que eles estejam colocando iluminação portátil, não é não, secretário? [emprega tom de ironia]”. Depois que eu disse isso ficou um silêncio no ambiente. E ai continuou a reunião e eu nunca mais fui chamado. Nunca mais [risos]. Poxa, você faz obra de noite e se a iluminação pública não é adequada, porque não é feita para obras, leva aqueles carrinhos de iluminação portátil que tem para alugar e foram usados nas obras das hidrelétricas, na construção civil à noite, enfim. Como eu venho da iniciativa privada, minha visão de administração pública se mistura com a privada. E a visão de resultado, eficiência, conforto, preço e qualidade.
E aí aquilo me indignava a ponto de eu me tornar ‘persona non grata’ nas reuniões de secretariado. Não era com todo o secretariado, é bem verdade, mas o fato é que depois dessa reunião nunca mais fui chamado para uma reunião com secretários e fiquei tocando minha vida e minha agenda, que era bastante intensa graças a Deus na vice-prefeitura, recebendo as pessoas, participando de reuniões, reuniões de Conselho, da cidade, Conselho Municipal da Criança e Adolescência, enfim, nos Conselhos me agradava participar de debates, de discussão social para conhecer as demandas e tentar de alguma maneira ajudar dentro do Executivo.
Contrato ilegal de empresa familiar no governo
RD – Informações apresentadas pela imprensa de Rondônia deram conta de que a empresa Lumiar Consultoria e Administração Ltda, de propriedade de sua esposa, teria contrato ilegal com o governo. Inclusive, em janeiro deste ano fora protocolada uma denúncia no Ministério Público de Rondônia (MP/RO) acusando a empresa de tráfico de influência e favorecimento. Dito isto, pergunto: o senhor utilizou sua influência junto ao Governo do Estado para beneficiar empresas de sua família, secretário?
EC – [Risos] Ai Jesus... Essa história vem de longe e já foi fruto inclusive de uma ação por danos morais e calúnia e difamação contra um site. Ganhei. Realmente, eu nunca me pronunciei sobre isso especificamente, fiz alguns desabafos em redes sociais, mas nunca me pronunciei porque não tenho o hábito de 'lavar roupa suja'. Eu procuro ser uma pessoa mais positiva possível com a vida. Sou da iniciativa privada. O que faz com que eu não tenha nenhuma necessidade e nem olhe para o que não é meu, na vida pública, é exatamente [o fato] de eu ter uma vida privada que me dá o conforto financeiro para criar minha família, meus filhos.
Eu trabalho desde os onze anos de idade, desde os doze anos eu tenho carteira assinada, contribuo com o FGTS desde os doze anos de idade e, pelas regras, eu já estaria quase me aposentando, mas não tem ‘perigo’, vou morrer trabalhando. Eu gosto de trabalhar. Meus pais, meu pai teve construtora, tem hotel, a gente tem casa noturna, a família tem casa noturna, mas... É isso que me dá o lastro para dizer que eu nunca roubei, nunca trafiquei influência e nunca precisei fazer nada de errado na vida pública para sobreviver. A empresa da minha esposa é uma empresa que já existe há alguns anos. Quando eu estava saindo da prefeitura e já tinha inclusive tomado a decisão de sair da vida pública, falei pra você logo no início [da entrevista], que eu iria sair da vida pública. Estava caminhando para isso. Eu estava cansado de tanto dar 'soco em ponta de faca', né? Dificuldades dentro do partido, em campanhas, na Administração Pública e das mais variadas possíveis. E meus filhos crescendo e eu sem vê-los crescer, sem acompanhar. Nunca joguei bola com esse meu filho mais velho.
Meu filho hoje tá morando fora, fazendo faculdade fora e ele saiu daqui sem saber dirigir, porque eu nunca ensinei. Saio de manhã cedo, de madrugada de casa e volto à noite. Então essa tinha sido a minha rotina. Então quando saí da prefeitura pensei: “Agora vou me dedicar à nossa vida particular, tanto a empresarial quanto à própria família”. Só que, enquanto isso, minha esposa estava tocando a empresa e ela inclusive tem uma empresa de lavanderia, lavanderia hospitalar. E ela participou de uma licitação, olha o ‘timming’ da coisa, quando eu ainda era vice-prefeito. Ela participou de um pregão eletrônico, ganhou pela condição de menor preço e depois que eu saí da vice-prefeitura e já estava no governo foi que... Porque da hora que faz a licitação à hora em que começa a prestação de serviços demora alguns meses, às vezes até um ano. Foi aí que ela começou a prestar serviço, mas ela já tinha vencido a licitação! E apresentou certidões, ganhou no menor preço e de lá para cá começou essa história.
Foi uma coincidência eu estar no governo e ela prestando serviço ao governo. Nunca foi irregular. O contrato já se encerrou, inclusive. Foi alvo, realmente, de denúncias e eu levei, antes que o MP me chamasse, toda a documentação com ela [minha esposa] lá. “Está aqui a vida da empresa”. Todas as certidões, os alvarás, os contratos que já teve, os contratos que tem, levei tudo para esclarecer e, inclusive, essa documentação foi apresentada na Justiça nessa ação que entrei contra um veículo [de comunicação] daqui e ganhei. Estou processando outro jornalista e também um parlamentar pelo mesmo motivo, pela mesma denúncia e pela mesma história. Então quer dizer que eu trafiquei influência no governo sem estar no governo e me programando para não estar no governo? [risos] Quer dizer... Eu não estava na vida pública, não é nem no governo. Eu não estava na vida pública!
É... Foi, eu não vou dizer uma infeliz coincidência, porque foi lícito e ganhamos de forma digna. Mas foi uma coincidência usada de maneira rasteira, mundana, leviana, mentirosa para me atacar. E a cada vez que surgem boatos de eventualmente eu ser candidato ou não ser candidato, e volto a dizer que não sou, vem essa história novamente. Mas eu estou com muita tranquilidade. Eu não faço isso, nem nunca fiz e nem nunca vou fazer qualquer tipo de uso de recurso público em meu benefício, a não ser aquele que, institucionalmente, me é devido. Como uma passagem de avião para uma viagem, uma reunião em Brasília ou alguma coisa assim. Nem o meu celular é institucional. Eu uso o meu celular pessoal há mais de quase vinte anos para trabalhar e minha conta é cara em decorrência disso.
Eu venho no meu carro, eu volto no meu carro e já, algumas vezes, inclusive viajei [a trabalho] e comprei minha passagem porque precisava com urgência e o governo, quando o Dr. Confúcio instituiu um processo de mais austeridade nessa questão de deslocamento, então hoje o secretário diz onde ele tem de estar e o dia. Ele não escolhe mais a companhia [aérea] e não escolhe mais o voo. Às vezes, para ir à Brasília, [o trajeto do voo] passa por Cuiabá, Campinas e só aí Brasília. Chega lá? Chega. Mas tem de ser a passagem mais barata. E tem que ser porque são mordomias e mordomias não cabem na Administração Pública, de forma alguma. Então essa é a história da bendita e já atacada lavada e deslavada acusação sobre o contrato e tráfico de influência, enfim.
Resumo a mais: ganhei quando não estava no governo, sempre fui empresário, minha esposa é empresária, hoje ela é mais do que eu até, porque estou cem por cento dedicado à vida pública e ela é quem está tocando as coisas todas. Não teve nenhum uso de influência porque não estava no governo e me preparando, inclusive, para sair da vida pública. Eu não imaginava que o governador iria me convidar para trabalhar com ele.
RD – Secretário, é moral um empreendimento familiar de um membro do governo prestar serviços ao Estado de Rondônia?
EC – Olha... Eu vou ser bem franco: imoral é você trabalhar para o Estado de forma legítima, por um preço justo , ou imoral é você comprar o mesmo produto ou serviço só que num valor ainda mais caro? O que é imoral? Gastar mais recursos do contribuinte para comprar o mesmo produto ou serviço mais caro e com isso esse dinheiro deixa de ser reaplicado em prol do contribuinte, ou você comprar algo mais barato com a mesma qualidade apresentada pelo mais caro? Nós temos um Estado que é o número um em pregões eletrônicos no País. Mais de 94% das contas públicas de governo são por pregão eletrônico. E no pregão eletrônico pode participar uma empresa do Paraná, pode participar uma empresa do Rio Grande do Sul, de algum político do Paraná, de algum político do Rio Grande do Sul, mas não pode participar de algum político ou próximo de algum político do Estado? E que reinveste no Estado, e os empregos ficam no Estado e o dinheiro vai ficar no Estado. Então essa distorção da análise do que é moral e do que é correto ou legal é que tem de ser feita. Eu já tenho a minha opinião, já deixei clara e implícita aqui na minha resposta.
RD – Então vamos prosseg...
EC – Ah, desculpa. Mas eu não participaria mais até o final do governo.
RD – Para evitar novos problemas?
EC – Não... Assim... Acho que ela, minha esposa, não sabia que eu iria estar no governo, participou de um pregão e ganhou. Ela tocou [o negócio]. E ela que sofreu. Porque... Até me atacar, tudo bem. Eu tenho couro grosso. Sabe... Assim... Eu não faço nada de errado. Pode me atacar, faz parte e eu defendo a imprensa livre, eu defendo a imprensa absolutamente livre, mas junto com a liberdade vem a responsabilidade. Quando eu acho que a minha família, que não tem nada a ver com as minhas escolhas políticas, o fato de eu estar na vida pública, está sendo ofendida... Meu filho me trouxe um site, que os coleguinhas dele mostraram na escola me ofendendo. Aí muda. Aí eu processo. Enquanto eu, só eu sou o atacado, nunca processei ninguém. Já fui atacado ‘n’ vezes. Quando era vereador, no meu primeiro e no segundo mandato, quando fui secretário de Esportes me atacaram pra caramba. Nunca paguei pelo silêncio e nunca processei. Agora, minha família não! Minha família não tem nada a ver com isso.
Vítima de extorsão
RD – E o senhor já foi extorquido?
EC – Já. Com certeza já [risos].
RD – Diretamente?
EC – Diretamente.
RD – Pela imprensa?
EC – Por pessoas ligadas, pessoas ligadas... É aquela história, né? “É... Olha, se você fizer isso ou aquilo, pode ser que facilite, pode ser que esqueça, pode ser que reconsidere”. Não estou falando que tenha sido algum desses que me atacaram. Já fui atacado antes desse episódio agora. Não estou dizendo de nenhuma maneira que fui extorquido por alguém que esteja me atacando neste momento. Mas já fui. Isso aí é... E qualquer político que diga que não foi, com algum tempo de carreira, e eu já passei de mais de uma uma década, são mais de quinze anos de vida pública, então não tem como eu não ter sido extorquido. A maior parte da imprensa é boa, assim como a maior parte das pessoas é boa. Mas são os ruins que aparecem mais, tanto pro lado político, na esfera onde eu atuo, quando no lado profissional da imprensa também.
Articulação para o Tribunal de Contas de Rondônia
RD – Nos bastidores, informações dão conta de que o senhor tem costurado parcerias e se fortalecido para ocupar o cargo de conselheiro no Tribunal de Contas de Rondônia, de indicação do Executivo. Mas nessa história há também a figura do vice-governador Daniel Pereira (PSB) que, aparentemente, nutre as mesmas pretensas intenções. O senhor tem trabalhado para ser conselheiro do Tribunal de Contas, secretário?
EC – [Risos] Vinicius, se te oferecessem uma cadeira, ou seja, você tivesse todos os pré-requisitos para isso, você abriria mão?
RD – Não, eu não abriria...
EC – [Risos] Eu brinquei outro dia com um conselheiro e disse: “Doutor, dizem que estar no Tribunal de Contas é que nem estar no céu, né? Só que para ir para o Tribunal de Contas precisa morrer”. Bom, nunca gastei um minuto [dá ênfase] do meu tempo, quer seja aqui no Palácio, quer seja fora do Palácio, fazendo um ponto de costura [risos] sobre essa vaga no Tribunal de Contas. Tenho projetos futuros, graças a Deus. Tenho muitos projetos na vida, mas não costurei. Não sou hipócrita de dizer [que não aceitaria], se surgisse a oportunidade, se eu viesse a ser indicado, eu jamais recusaria! Mas não é o meu projeto, não é meu ‘Plano A’ e nem meu ‘Plano B’.
O vice-governador, pessoa pela qual eu lutei dentro do meu partido para que ele fosse o vice-governador, tem todo o meu apoio, todo o meu apoio! Já falei isso pra ele. Já conversei com o presidente Maurão [de Carvalho, presidente da ALE/RO] sobre algumas coisas acerca do Tribunal de Contas, mas nunca com o meu nome, sempre com o nome de outras pessoas. Inclusive dentro do governo nós temos aqui secretários que têm acho que até mais legitimidade do que eu por conta de estarem há mais tempo no governo. De terem se sacrificado há mais tempo do que eu para termos um governo hoje considerado um dos melhores, senão o melhor em gestão. Então o secretário George Braga, de Planejamento, por exemplo, é um baita de um quadro. E isso desde o primeiro dia do primeiro mandato do governador. Eu entrei na metade do primeiro mandato. Então o George tem notório saber jurídico, conhecimento de gestão e todos os pré-requisitos que são necessários ter para ser conselheiro.
E outros secretários aqui também, procuradores do Estado, técnicos ligados à área de finanças, enfim. O George pode até ficar chateado por eu ter mancionado o nome dele, mas eu não tenho [interesse]. Não costurei. Não sou hipócrita, a gente está numa conversa muito franca, né? Eu não sou nem dado a... Você pode observar que eu quase não dou entrevista. Porque não acho muito legal a Casa Civil se expor, porque eu sei o que falo, mas às vezes não sei o que a pessoa entende. E muitas vezes uma palavra distorcida vai parecer que é a palavra do governador, então eu evito. Mas com muita franqueza: não costurei. Reafirmo que... É... Não sei nem se abre vaga do governo Confúcio para conselheiro do Tribunal de Contas, mas não sou nenhum louco de abrir mão se [ênfase], se indicado fosse. Mas não vou correr atrás disso, não!
RD – Já na gestão Confúcio, o senhor ocupou diversos cargos e tem se sobressaído pelo menos em termos de permanência e ascensão. Quais foram seus maiores feitos frente às variadas pastas que ocupou na administração Confúcio Moura?
EC – Na secretaria de Desenvolvimento, quando assumi, demos velocidade maior no Programa de Regularização Fundiária Urbana, que é o Título Já. Entregamos muitas escrituras no primeiro mandato. Também estávamos com um problema sério no que diz respeito à cadeia produtiva de peixe, porque nosso pescado, em que pese ser de muito boa qualidade e estar aumentando muito a produção, nós praticamente vendíamos somente para o Amazonas. Fiz várias rodadas de negócios com compradores de outros Estados e abrimos o mercado para Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, enfim. Hoje o nosso peixe rondoniense é vendido e não somos dependentes de um mercado só, que é o mercado manauara. Com isso melhorou o preço do peixe na revenda para venda e deu esse ganho maior ao produtor. Também, ainda enquanto secretário de Desenvolvimento, consegui, com apoio do senador Raupp, a aprovação da nossa Zona de Processamento e Exportação, que hoje foi, está sendo discutida a implementação dela, a efetivação dela com um grupo Russo. Eu sei que o superintendente Basílio já fez reuniões em Brasília e aqui em Rondônia e ele está interessado em aplicar recursos de Fundo de Pensão, de fundos russos, para construção dessa Zona de Processamento e Exportação bem como exploração da linha férrea dentro do Estado de Rondônia, de Vilhena a Porto Velho. Nós fortalecemos o CONDER, criamos uma agenda mensal de reunião no Conselho de Desenvolvimento do Estado. E... Assim, não me preparei para puxar isso da memória, mas é o que vem mais rápido à mente.
Fim dos vigilantes das escolas
RD – E na SEDUC?
EC – Na Secretária de Educação eu primeiro fui posto a teste todos os dias. Porque eu não era e nem nunca fui professor. Então as pessoas esperam sempre que o secretário de Educação seja professor, que o secretário de Saúde seja um médico e o secretário de Finanças seja um financista, contador ou alguma coisa assim. E não... Eu sou de gestão pública. Eu venho da iniciativa privada e com formação em gestão pública, formação esta inclusive que o governador pediu pra eu fazer. Isso sem que eu soubesse que estava me preparando para outra secretaria [risos]. E lá [na SEDUC], nós conseguimos implementar o Referencial Curricular. Nós não tínhamos no Estado. Uma escola em Pimenteiras, de Ensino Médio, por exemplo, podia dar aula do que quisesse, a grosso modo.
É óbvio que já existia uma grade curricular a ser seguida, mas não havia um referencial, aquela quantidade mínima de matérias, disciplinas e assuntos que devem ser ensinados ao aluno. Hoje nós temos Referencial Curricular do Ensino Médio; do Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos. E foram criados por mim, aliás, por mim não, pelos nossos técnicos enquanto eu estava na SEDUC. Outro problema era a qualidade no ambiente de trabalho do professor e do ambiente de aprendizado do aluno. As salas de aula muito quentes... E a gente não tinha dinheiro. Eu pegava o orçamento da SEDUC, apesar de ser muito grande, era voltado basicamente para a folha [de pagamento dos servidores]. E pensava: “Cara, de onde é que a gente vai tirar dinheiro para comprar [aparelhos de] ar-condicionado, para reformar salas de aula, para construir quadras cobertas e para ampliar escolas?”. Então resolvi naquela época cancelar os contratos de vigilância com as escolas.
RD – Uma decisão polêmica, não?
EC – Muitas pessoas criticaram essa decisão. Agora, eu estudei em escola particular. Nenhuma escola particular que estudei tinha vigilante e nem tem até hoje. Observe qualquer escola particular, nenhuma delas tem. Joalheria não tem vigilante à noite. Banco não tem vigilante à noite. É o quê? Inteligência, tecnologia. Sensor de movimento, câmera, alarmes... Só que o contrato custava R$ 50 milhões por ano numa secretaria que não tinha dinheiro para comprar ar-condicionado. Fiz uma escolha e a escolha se mostrou acertada. Por óbvio, começaram a surgir algumas notícias de escolas saqueadas. Mas eram as mesmas escolas de sempre, que foram cinco, seis e até sete vezes saqueadas. As mesmas escolas! Uma questão de polícia, não de vigilantes. Não raro um bandido entrava numa escola com vigilante e batia no vigilante! Não raro.
E... Os dados comprovaram que no ano em que havia vigilante, no ano anterior ao cancelamento do contrato, nós tivemos um número de assassinatos, estupro e roubo em escolas. No ano posterior [ao cancelamento do contrato], nós tivemos a metade do número de assaltos, roubos [o número diminuiu] mais da metade, nenhum estupro e nenhum assassinato em escolas. Fazendo o quê? Mandando o dinheiro para a escola para que ela fizesse a compra e a instalação dos equipamentos de vigilância e monitoramento. Além disso, houve outro programa que era assim... A ‘menina dos meus olhos’, o programa feito em parceria com o Instituto Ayrton Senna, o Programa Acelera, onde você resgata o aluno que está repetente, retido em séries do Ensino Fundamental, que está com distorção idade/ano letivo e leva ele a uma sala de aula, acelera ele literalmente em termos de conhecimento sem perda de qualidade, e o coloca no ano seguinte, na sala adequada de acordo com a idade dele para que mantenha o ritmo escolar de maneira saudável.
Então esse programa a gente intensificou muito e inclusive eu fiz uma apresentação a todos os secretários municipais de Educação numa reunião em Vilhena e eles começaram a implementar o programa, o convênio com o Instituto Ayrton Senna, porque até então nenhum município no Estado tinha o Acelera e nem outro tipo. Há também o programa Gestão Nota 10, que capacita diretores de escolas. Trouxemos esse programa para o Estado e hoje está incluído na grande maioria dos cinquenta e dois municípios de Rondônia. Então é um legado que a gente só vai sentir o efeito depois de alguns anos. A Educação tem essa característica, é um transatlântico: o transatlântico quando vai para o porto começa a desacelerar quilômetros antes. Então tudo o que se faz hoje na Educação você vai perceber depois de dois, três, quatro anos. Algumas coisas são perceptíveis rapidamente, outras nem tanto. De tal sorte que, na medição anterior do IDEB, o Estado era o décimo quarto do País; quando eu saí, era o oitavo do Brasil no IDEB, o melhor da Região Norte.
Então tenho muito orgulho desse momento que passei, tive negociações intensas com sindicatos... Foi o primeiro ano do governo sem greve na Educação, foi comigo na época da SEDUC e, de lá pra cá, não teve ainda e espero que não tenha mais até o final da gestão do Dr. Confúcio. Porque sofrem muito: sofrem os professores, sofrem os pais, sofrem mais ainda os alunos. Então é um processo que só tem sofrimento.
E num Estado que é absolutamente transparente com as contas, com os contratos, a gente abre na mesa todo o orçamento, os sindicatos pode escolher: “Olha, corta isso aqui e vamos fazer desse contrato um benefício para o trabalhador, vamos fazer mais escolas, mais salas de aula”. Estão abertas as contas, ninguém tem interesse em contrato, nenhum secretário, nenhum deputado. Nunca fui procurado sobre nenhum tipo de contrato ou interesse particular de qualquer parlamentar. Estamos vivendo um bom momento de maturidade política no Estado.
RD – E na articulação, tem sido difícil conviver com interesses plurais de parlamentares, sindicalistas e pessoas de outros ramos?
EC – Falei sobre a Secretaria de Desenvolvimento e Educação. Na Secretaria de Educação teve outras ações, mas estas que citei são as que mais saltam aos olhos, né? Aqui na Casa Civil, quando vim para a Casa Civil, primeiro foi um certo alívio até, porque não tenho orçamento. Ter de lidar com o orçamento da Educação não é fácil. São R$ 1,3 bilhão, então é um orçamento superior ao da Capital, com dez mil funcionários a mais do que a Capital. Quer dizer... Acabei realizando o meu sonho [gargalha]. Não consegui administrar os quatorze mil que tem no Município [de Porto Velho], mas ajudei a administrar os vinte e quatro mil que tem na SEDUC.
E, ao final do governo, no final da campanha do governador, assim que ele se reelegeu, eu pedi para sair da SEDUC. Eu fiz o caminho inverso. A maioria dos políticos quer ir para a Educação, porque é muito dinheiro, tem orçamento, mas isso não me salta aos olhos. Eu estava [na SEDUC] por missão, mas não aguentava mais ficar longe da minha família. Ficava uma semana, duas semanas por mês no interior visitando escolas, conversando com diretores, enfim, nas muitas reuniões que um secretário de Educação tem. Enfim, tenho o maior respeito por quem quer que seja secretário de Educação, porque não é fácil. Então eu pedi pra sair. Falei: “Governador, o senhor já está reeleito, estou feliz”. Cheguei até a escrever no Facebook isso. Foi quando o governador pediu pra eu continuar no governo, aqui na Casa Civil, atuando na relação institucional.
Eu falei que... Eu pedi para ele: “Então o adjunto pode fazer a agenda do senhor no interior para que eu possa ficar mais na Capital?”. Por mais que eu trabalhe hoje tanto quanto trabalhava na SEDUC, tenho mais tempo e ao menos durmo em casa. Ao menos isso eu faço. E aí ele falou: “Pode, pode”. Aí acabou que meu primeiro secretário adjunto foi o Vitorino, depois foi o Ezequiel Neiva, que hoje tá no DER, e agora é o Valdemar, que estava na chefia de gabinete do governador e agora está comigo trabalhando e me ajudando bastante.
RD – E a relação com os Poderes?
EC – O Governo do Estado quando foi criado, foi criado na Constituição com uma figura chamada Conselho de Estado. Que é o quê? É uma reunião dos chefes de Poder: do Executivo, Legislativo e Judiciário. Só que nunca foi implantado. Nenhum governador implantou a reunião do Conselho de Estado. E eu cheguei com o governador e falei: “Governador, vamos implantar o Conselho de Estado?”. E ele: “Vamos, meu filho. É uma coisa que eu quero fazer, mas quero, além dos chefes de Poder, os órgãos também”.
Os órgãos, no caso, são os órgãos acessórios: o Ministério Público, órgão acessório do Tribunal de Justiça; o Tribunal de Contas, acessório à Assembleia Legislativa e a Defensoria Pública, órgão acessório ao Executivo. Então três vezes ao ano, desde o primeiro ano do segundo mandato, o governador Confúcio reúne o Conselho do Estado, onde ele é mais um. Não existe diferenciação de Poderes. E lá eles discutem políticas públicas.
Foi a partir daquele momento que a gente percebeu que todos os problemas e todas as soluções da Administração Pública, nós temos! Só que a gente não conversava. O Judiciário tem a visão de problemas e solução; o Legislativo também e o Executivo idem. Só que não conversavam, no sentido de relação. E o momento que nós estamos vivendo de gestão pública é um momento de relacionamento com transparência. Relacionamento sem transparência não existe. Relacionamento com transparência! E começou a mudar a relação com os Poderes desde então. A minha relação com os deputados é muito saudável. Por quê? Porque como já passei pelo parlamento, apesar de ser o mirim, que a Câmara de Vereadores, sempre coloco o olho [em determinada situação] como se fosse o deputado olhando para aquela determinada coisa, quer seja agenda do governador no interior, quer seja o fluxo das emendas parlamentares individuais aqui no âmbito do governo, quer seja a agenda do secretariado e então fui ajustando isso daí para que o secretário não fosse numa determinada cidade do interior sem chamar o parlamentar de lá. Para que o governador não fosse nas mesmas condições.
Para que os deputados possam ter uma agenda, eventualmente ao longo do ano, com o governador. E aí melhoramos as relações. E eu tenho de ser muito franco: não sei como era antes, Vinicius. Mas eu nunca, em dois anos e quatro meses, recebi um pedido parlamentar para pagar processo que seja de interesse dele [particular]. Essa legislatura, sem qualquer análise das demais, ela é das mais íntegras que já vi como portovelhense. Como disse, não estou fazendo análise e nem juízo de valor das outras, mas eu não era da Casa Civil antes, não estava dentro do governo, nos outros governos. Mas se houve legislaturas melhores do que a atual eu desconheço. A relação é muito boa. Uma relação baseada num conflito de ideias, mas não num confronto entre pessoas. A exceção de uma ou duas oportunidades, inclusive eu estou processando um parlamentar por conta disso, porque atacou a honra, atacou a minha honra, mas também se ele estivesse sentado aqui eu o trataria com todo o respeito com que eu tenho de tratar, da mesma forma. Eu discuto isso [o problema pessoal] na esfera judicial e é meu direito como cidadão fazer isso.
RD – O senhor se sentiu pessoalmente ofendido?
EC – Me senti ofendido pessoalmente e vou buscar a Justiça, não o justiçamento. Já na minha função aqui, eu sou profissional. Tenho tido sempre essa relação de conflito, porque às vezes o que o parlamentar quer não está alinhado com o plano de investimento do governo, com uma política pública melhor. Está alinhado, às vezes, com o clamor de um grupo social, de um bairro num determinado município ou de um segmento profissional. E nem sempre é o melhor para aquele município. Eu sempre falo... E a gente vai conversando e às vezes eu convenço o parlamentar e às vezes ele me convence. E eu sempre falo que... Aquela frase, e estamos num momento de romper paradigmas, mas aquela frase de que “a voz do povo é a voz de Deus” nem sempre é a realidade.
Um exemplo prático disso é a saúde. Quando você está doente reúne a família e pede opinião sobre o que fazer? Não. Você chama quem entende. Você chama um médico, um enfermeiro, até uma curandeira, uma benzedeira... Porque tem de entender ao menos um pouquinho do ‘riscado’.
Então nem sempre a população sabe o que precisa e nem sempre a população quer o que precisa. Essas discussões como a questão da Previdência, como questões atinentes a rotinas que todos tinham, mas que mudaram... Por exemplo, quando eu era adolescente, eu viajava de avião com meus pais e o pessoal fumava dentro do avião. Era um direito. “É o meu direito de fumar dentro do avião”, diziam. Mas cadê o meu direito de não fumar dentro do avião? Todo mundo fumava e não só no avião, também no cinema e em outros lugares. As pessoas se esqueceram disso. Agora, se perguntassem para aquelas pessoas se elas queriam que fosse proibido fumar dentro do avião, o que você acha que elas iriam falar? Então é nesse sentido que a política pública tem de se aperfeiçoar, é preciso entender que nem sempre aqquilo que é politicamente simpático é o melhor, decisões duras tem de ser tomadas sob pena de a gente entregar uma pasta, um mandato, uma cidade e um governo pior do que recebemos.
O político tradicional pensa no mandato, o estadista, aquele que efetivamente é preocupado com o bem-estar social, em deixar um legado favorável à sua biografia e à população que o elegeu, pensa como um legado para o Estado. Então eu falo que é um momento de romper paradigmas, momento de aperfeiçoar gestões, de se comunicar melhor. O poder público se comunica mal. Tem de explicar as coisas sim direitinho para a população, para o contribuinte. Tem de conversar com sindicatos, com servidores, com o empresariado e as igrejas, sim. Essa história do Estado Laico significa que temos de garantir o direito de todos terem sua fé, inclusive de não a ter. Mas não negar a existência das igrejas, pois fazem um trabalho maravilhoso na sociedade. Então todo esse ‘caldeirão’ social tem de ser ouvido pelo governo.
Operação ilegal para custear honorários dos advogados de Confúcio
RD – O senhor também foi acusado de capitanear uma operação ilegal para custear honorários advocatícios do governador Confúcio Moura utilizando servidores comissionados para contrair empréstimos bancários para este fim. O caso inclusive foi apurado pela Assembleia Legislativa. Que fim levou esta questão, secretário?
EC – Servidores... Comissionados, né? Eu lembro disso... Foi no final do primeiro mandato. Eu vejo como um reflexo do momento em que a gente está vivendo. Comunicação sem reservas, sem referência e sem nenhuma ressonância. Isso realmente à época não houve nenhuma ressonância. Se houve, nunca fui chamado por nenhum órgão de controle para prestar nenhum tipo de esclarecimento. Sem reservas, às vezes você multiplicar aquilo que sequer analisa sob o ponto de vista da praticidade da coisa. Como é que a gente obriga um servidor comissionado [separa silabicamente] a fazer empréstimo e dar o dinheiro do empréstimo pra gente? Servidor comissionado não tem estabilidade. Então ele pode fazer um empréstimo, passar o dinheiro para a pessoa e no outro dia ser exonerado. Ele é que vai pagar o empréstimo! É assim, servidor comissionado não tem estabilidade, então ele vai pegar o empréstimo para pagar advogado de político? Eu não comentei nada à época também porque eu achei essa denúncia um absurdo tão grande, e assim, às vezes quando a gente comenta dá até um ar de veracidade na coisa, né? Eu não sei o que dizer... [risos]
RD – O senhor foi chamado a depor em alguma comissão na ALE/RO ou em órgãos de controle?
EC – Não...
RD – Soube só através da imprensa, então?
EC – Eu vi que foi só... Se ele [o deputado denunciante] tentou criar a comissão, não criou. E se criou, não sei quem ele ouviu. E isso já tem uns dois bons anos, ou mais de dois anos, dois anos e meio, né? Porque foi no final do primeiro mandato e nós já estamos nos encaminhado para a metade do terceiro ano do segundo. Nunca fui chamado. É um absurdo na essência. Servidor pegar empréstimo para pagar... Gente, hoje em dia todo mundo grava todo mundo! Como é que eu vou chegar com um servidor comissionado e pedir que ele faça um empréstimo para me dar dinheiro? É comissionado, velho! [risos]. É difícil você se defender e explicar o óbvio.
RD – Mas a denúncia foi feita através do púlpito de um Poder, o senhor não acha que a população gostaria de saber o que houve e até mesmo ter acesso a sua opinião?
EC – O que é que eu posso dizer para a população? Que não procede. Não procede e é completamente absurdo. Até hoje esse grupo de servidores não apareceu. Nunca fui chamado para dar qualquer esclarecimento disso porque é um absurdo, na essência é um absurdo. Gente, quando falamos sobre a tribuna de um Poder, estamos falando de quem a usa. Nós temos vinte e quatro parlamentares. A nossa sociedade é composta de pais e mães de família, de trabalhadores, clérigos, militares, profissionais liberais, empresários do agronegócio, fazendeiros, madeireiros e toda essa sociedade está refletida na ALE/RO. Inclusive as pessoas não boas da sociedade.
A sociedade não é composta só por pessoas boas. Nós temos bandidos na sociedade. Nós temos traficantes, latrocidas, donos de caça níquel e por aí vai. E está todo mundo lá, porque é natural que esteja. É o voto de todo mundo que está lá. Então, quando alguém usa a tribuna, usa com a visão de mundo que ela [a pessoa] tem. Tem gente que olha para uma porta e vê só uma porta. Tem gente que olha para uma porta e vê a oportunidade de invadir a casa de alguém, de atravessá-la e ver o que está do lado de lá e o que pode pegar. E é assim, não é porque foi dito num púlpito da ALE/RO, que é a expressão da verdade, em absoluto. Então nesse sentido essa denúncia foi, mais uma vez, sem nenhuma raiz que a sustente. É uma árvore sem raiz.
Há quinze anos, Temer esteve em Rondônia para abonar ficha de filiação de Castro no PMDB
Foto.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)
Impressões sobre o presidente Michel Temer
RD – O senhor já falou sobre sua admiração em relação ao governador, mas o que acha daquele homem ali [aponto para a moldura com a fotografia do presidente Michel Temer, ao lado da imagem de Confúcio Moura]?
EC – Eu vou até inclusive aqui mostrar para você [pega o celular e busca uma fotografia] porque eu recebi o convite do Dr. Confúcio para vir ao PMDB, mas no dia da minha filiação, que foi até no hotel de minha família, ele não pôde vir. E aí vieram outras pessoas do PMDB e um amigo dele, de parlamento. Um deputado federal que era amigo dele. E quem abonou minha ficha, além do ex-senador Amir Lando, do senador Valdir Raupp e da deputada Marinha, foi o [então] deputado federal Michel Temer, há quinze anos. Está aqui, ó. [Aponta para a foto da ocasião, com a presença de Temer, ora presidente]. Eu tinha cabelo... Então tá aqui o Raupp, junto o Temer... Isso é aqui em Porto Velho, foi há quinze anos.
Naquela época eu estava inclusive fazendo Direito e estudando pelo livro dele [Michel Temer] Direito Constitucional. Ele tem sete ou oito livros de Direito, é um baita de um constitucionalista e hoje é nosso vice-presidente. Fiz campanha para ele por lealdade ao meu partido. Devo, como cidadão, respeito à instituição Presidência da República. Acredito que ele esteja fazendo todo o possível para melhorar o nosso País. Eu não acredito, eu não consigo acreditar que alguém acorde, levante e vá trabalhar pensando em errar, pensando em fazer coisa errada o tempo todo. Não acredito. Ele está fazendo o melhor que pode com aquilo que ele tem naquele momento.
Ele está fazendo o melhor possível com o apoio que ele tem neste momento no País. Volto a lembrar aquilo que eu falei anteriormente: nem sempre as pessoas sabem o que é melhor pra elas. Nem sempre as pessoas sabem o que elas precisam. E ele está fazendo discussões profundas, que deveriam ter sido feitas há dez, doze, quinze anos atrás. Sobre Previdência, sobre tributarismo, sobre reformas políticas, ajustes voltados à área da educação, como foi feita essa nova portaria, essa nova legislação em que revê o currículo das escolas, revê alguns conceitos até então inatacáveis na área da educação. Ele está fazendo tudo o que é possível fazer! Se ele vai ter o apoio do Congresso, do Senado e da Câmara dos Deputados, aí são outros quinhentos. Mas nós só temos é que torcer por ele. Porque eu só entendo aquela pessoa que torce contra o presidente Michel Temer como masoquista.
Porque se esse homem der errado a gente também sofre, velho! Todo mundo sofre [risos]. A gente tem de torcer pelo melhor dele e eu torço pelo melhor do presidente Temer. Peço que Deus ilumine ele, assim como eu peço sempre pelo nosso governador, que dê saúde, dê discernimento, que dê clarividência necessária para fazer tudo aquilo, todos aqueles ajustes que às vezes podem nos incomodar, mas são necessários para nossa sobrevivência, inclusive. Tenho pessoas conhecidas no Rio [de Janeiro] que são aposentadas e estão sem receber. Escrivães da Polícia Civil estão sem receber e são aposentados. E o que eles vão fazer se não sabem fazer outra coisa? Só foram escrivães a vida toda, entendeu?
E faliu e as pessoas não se dão conta de que tem de mexer. Então é isso que tenho a dizer de nosso presidente: primeiro, que é um grande constitucionalista, sempre foi um grande tribuno, um bom deputado, torço pelo sucesso, peço a todos o sucesso dele e até o final, enquanto for presidente da República, até o último minuto, vou torcer pelo sucesso. Porque o sucesso do presidente, o sucesso do governador, o sucesso do prefeito é a alegria da população.
Ataque institucional a adversários políticos
RD – Em agosto de 2014, o senhor foi relacionado pelo Facebook numa ação que tramitou na Justiça Eleitoral como administrador de uma página chamada ‘Mais Rondônia’. Na página, durante as eleições daquele ano, quando o governador concorreu à reeleição, eram patrocinadas postagens que atacavam o então adversário Expedito Júnior (PSDB) e enalteciam o peemedebista. A ação apontava a participação de servidores da SEDUC, pasta que o senhor comandava à ocasião. Secretário, o senhor utilizou a estrutura do Estado para atacar adversários políticos?
EC – Eu não faço nem nunca fiz política rasteira. Eu estou até aqui procurando [busca novas imagens no celular] também é... Uma foto de como eram meus finais de semana, que não diferentes eram na SEDUC. Da quantidade de processos que eu tinha de despachar e ler. Eu vou achar essa foto aqui pra te mostrar. É um troço brutal, Vinicius. Assim... São centenas de processos. Centenas de processos que, se a gente pelo menos não passar o olho... O meu patrimônio é meu, está declarado. Questão de renda, eu vou comprometer o patrimônio da minha família, dos meus filhos.
Eu não fiz uso de recurso público para me locupletar na minha posição política, mas também não quero empobrecer... Assim, se eu não enriqueci ilicitamente, não quero ficar pobre licitamente [risos]. Eu levava carrinhos para casa com processos para despachar. E eu tenho uma mesa de jantar em casa, que ficava tomada [de processos]. Enfim, estou falando isso por quê? Porque na SEDUC eu só tinha tempo para cuidar da SEDUC. Inclusive eu fiz pouca reunião na época da campanha à noite, porque eu saia bem tarde da noite da SEDUC. Pouca reunião no período da campanha. Eu não tinha como, ainda [além de tudo isso] administrar uma página no Facebook para fazer ataques.
Aquilo que eu não quero para mim não quero para ninguém. Se eu não quero ser, não é nem atacado, atacado a gente pode ser, mas ofendido, eu não vou ofender ninguém. Intimamente, sou de carne e osso que nem você. Às vezes a gente xinga, está com raiva e da boca pra fora pode até falar: “Ah, eu quero que o ‘fulano’ morra”. Mas isso é da boca pra fora. Do jeito que entrei na vida pública eu vou sair da vida pública, com a mesma altivez. Eu vou morrer em Porto Velho e minha mãe, que faleceu há três anos, está enterrada em Porto Velho. Minha avó está enterrada em Porto Velho, minha bisavó está enterrada em Porto Velho e eu vou ser enterrado em Porto Velho. Uma hora eu saio desse ‘diabo’ dessa política e vou andar na rua. Se eu fosse um escroto, se eu fosse um bandido, como é que eu iria à feira, velho? Como é que eu iria ao mercado? Eu gosto de ir, eu gosto de fazer o supermercado. Quando levo meu filho à escola vou à reunião de pais. Eu gosto de estar em feira livre, eu ando nas ruas normalmente. Mas como eu faria isso [se fosse criminoso]? Para os outros apontarem o dedo para mim?
Então, eu sempre peço para as pessoas perguntarem a meu respeito. É isso. Não precisa acreditar no que estou falando. Pergunte a quem me conhece, quem me viu crescer. Pergunte quem eu sou antes de acreditar em alguém que não me conhece, que está às vezes a serviço de algum grupo político ou de um interesse pessoal, fazendo uma ofensa a meu respeito. É isso que eu penso. Mas não precisa também acreditar em mim, porque eu posso estar mentindo também. Pergunte a quem me conhece, quem conviveu comigo. Pô... Eu tô procurando a foto aqui [continua a buscar em seu acervo pessoa eletrônico].
RD – E as benesses da vida pública?
EC – Do jeito que eu era antes de ser político, sou agora. Por que não uso coisas da vida pública? Porque a gente acostuma e sofre quando perde. Você nunca me viu de assessor abrindo porta para mim. Nunca, nunca... Nem quando fui vereador. Você nunca viu um outdoor “Parabéns professores pelo seu dia”. Eu morro de vergonha de fazer publicidade pessoal. “Parabéns não sei o que lá!”. Tem gente que dá parabéns até para o coveiro, no Dia do Coveiro [que realmente existe e é comemorado no dia 17 de dezembro].
Eu não coloco nada, eu tenho vergonha. Eu não sei... Eu dei certo por um acaso. Se é que enfrentar tudo o que eu enfrento pode-se considerar dar certo. Tem de ter segurança no que faz. Tem de ter assim... Quando eu falo que não roubo, eu não posso roubar mesmo! Não se esconde nada mais. Eu não tenho amante, sabe? O 'hobby' que eu tinha era saltar de paraquedas e este ano eu não saltei. Eu não jogo bola, eu não jogo baralho... Eu só trabalho e cuido dos meus filhos. E fim de semana estando em casa é como se não estivesse. Porque é um tormento, é o tempo todo no telefone, é o tempo todo... Vocês não têm noção. É... Um caso de pedofilia não sei o que lá, até assim, em Corumbiara, uma tentativa de rebelião no presídio, é alguém que capotou e precisa de uma vaga na UTI e tudo descamba aqui e tudo vem na Casa Civil. Não tem um dia desde que eu entrei na Casa Civil que eu não trabalhe.
Nem um dia, nem um dia!
“Ah, mas você trabalha feito escravo todo dia”, sim feito escravo todo dia! Às vezes eu estou em casa, às vezes estou até no Mestre Cervejeiro tomando uma cerveja ali e estou recebendo coisas [de trabalho] e estou respondendo. Eu não fico ‘zerado’ assim, sem cuidar de nada. Há três semanas fui para o hospital. Desmaiei em casa e fui para o hospital porque tive uma síncope e estava com o coração fibrilando. E eu não sei por quê. Eu tenho atividade física regular, me alimento direitinho, tenho um sono com qualidade, apesar de pouco. E é a cabeça. A cabeça, ela exaure. A capacidade nossa de trabalho, de esforço, tem um limite que a gente não conhece. E aí vamos esticando essa ‘corda’, esticando esse limite e, quando vê, já era! Você literalmente apaga. Ela [a cabeça] apaga você, como se desse um ‘boot’. “Deixa eu dar um ‘boot’ nesse cara aqui, apertar o botão de reinício pra ver ele para um pouquinho”.
Investimentos privados em outros Estados
RD – Como já sabido, o senhor também é empresário e tem uma família tradicional reconhecida pela atividade comercial privada. Ocorre que, de acordo com informações, alguns empreendimentos de sua família estariam saindo de Rondônia e partindo para outros Estados do País, principalmente no Nordeste. Até que ponto esta informação é correta?
EC – Alguns? Deixa eu te dizer: meu pai tem hotel, tem terrenos, prédios, não tem como tirar daqui pra mandar pro Nordeste, não. Até, se tivesse, botava na beira-mar [risos]. Porque aqui os hotéis caíram muito o movimento. É... Se tivesse algum jeito faria sem pestanejar, porque a empresa tem de ter lucro. E não tem como tirar o que foi investido aqui ao longo de mais de cem anos, ao longo de mais de cinquenta anos do meu pai aqui, e jogar em outro lugar. São edificações, né? Agora, diversificar o empreendimento, qual que é o problema?
Eu tenho... Minha esposa tem sociedade com os irmãos dela. Ela é baiana, velho. Os irmãos são baianos. E montou uma franquia de uma cervejaria, uma franquia rondoniense fora daqui. Qual que é o problema? “E por que que não montou aqui, Emerson?”. Porque em Porto Velho já tem, é a Public Haus. Então não poderia montar aqui, que seria muito mais prático para nós. Não poderia montar aqui. E como eles são sócios [os irmãos da esposa] e moram na cidade onde está o negócio, são sócios em igual medida, são três sócios, montaram lá. O estudo de mercado apontou que era um bom local. Mas é isso. Assim, de todo nosso patrimônio, representa muito pouco.
Mas se tiver que empreender no Acre, vou empreender no Acre. O dinheiro não foi ‘lavado’. Não é dinheiro roubado. Está tudo declarado. Se tiver de empreender no Peru, nos Estados Unidos, tô nessa. Inclusive, uma das celeumas, é por conta de um empreendimento aqui. Como se torcessem, torcessem não, mas determinado jornalista torcesse que falisse, que eu fosse à miséria, que eu não tivesse condições de, dignamente, criar meus filhos. Que diabo de psicose é essa? Na cabeça dele deve fazer algum sentido [publicar esse tipo de opinião]. Assim, o maníaco-obsessivo tudo o que faz, na cabeça dele tem um sentido. O pedófilo, na cabeça dele, uma criança é um objeto de prazer e faz sentido na cabeça dele. É algo que para mim, Deus me livre, tenho duas filhas pequenas... E por aí vai, velho... É assim.
RD – Mas ainda vale a pena investir em Rondônia?
EC – Lógico, muito a pena. Rondônia cresce. Rondônia não chegou nem a arranhar em seu potencial de crescimento. Nós temos o tamanho do Estado de São Paulo e a população de Campinas. Rondônia agora que está produzindo 95 mil toneladas de peixe. Só os lagos das hidrelétricas podem produzir 400 mil toneladas, só os lagos das hidrelétricas! Agora aqui, nesse governo, foi implementada a Política de Floresta Plantada, que é algo que pode trazer a indústria de celulose para cá.
Agora que a gente está migrando o gado de extensão para o gado semiconfinado ou confinado. Poder produzir mais carne em menos área. E jogar essa área que vai sobrar para a agricultura, para a soja, grãos de modo geral, café, cacau, açaí, inhame e por aí vai. Isso aqui é terra produtiva, é ‘ouro’, é maravilhoso! Agora, tem algumas áreas que sentiram, né? Falo sempre da questão da hotelaria, por quê? Alguns incautos achando que aquele boom das hidrelétricas iriam durar para sempre, mandaram construir hotel e estão aí. Porto Velho voltou a ser o que deveria ser. O que era antes das hidrelétricas. As pessoas é que estavam acostumadas, e mal acostumadas, com uma fartura de emprego muito grande, dinheiro pra caramba circulando, um dinheiro ‘fictício’ no sentido de que ele tinha prazo de validade e uma hora iria acabar [porque as obras das usinas terminariam]. Inauguraram hotéis de forma irresponsável, sem prever que um hotel demora três anos para ser construído e equipado e, quando estivessem inaugurando, as obras já estariam em declínio. E aí? Estou falando somente de hotel.
Empresários que antes não buscavam a eficiência de seus funcionários agora estão buscando. Tiraram os ineficientes. Reduziram, enxugaram suas despesas e vão sobreviver. Vão superar. Os que não sobreviverem é porque não deveriam estar no mercado. E os que sobreviverem, é a absoluta Lei de Newton na livre concorrência. Porto Velho é próspera, só precisa fortalecer suas vocações, que são para o negócio, pro agronegócio e para o turismo também pode ser. Porto Velho tem de resgatar eventos. Aqui tudo é o ‘lá tinha’, né? “Lá tinha cavalgada”, “lá tinha Carnaval Fora de Época”, “lá tinha feira agropecuária forte” e “lá tinha carnaval forte”.
Quando eu era moleque aqui o melhor carnaval do Norte era o nosso. O melhor futebol do Norte era o nosso. Então, tudo isso tem de ser resgatado, fortalecido. O governador Confúcio tem feito a parte dele. Infelizmente, na prefeitura passada, nós não tivemos uma visão de desenvolvimento muito clara. E a gente teve dificuldade até em ajudar o ex-prefeito porque não sabíamos qual era a grande bandeira dele. Não foi como na época do Roberto, com a regularização fundiária, políticas voltadas à agricultura familiar, instalação das mandalas nas pequenas propriedades. Observe que, nos últimos quatro anos, qual foi a bandeira? Ele falou que o foco dele era a drenagem, não drenou.
Era asfaltamento, a gente que asfaltou, o governo. A prefeitura asfaltou, mas pouco. Não teve. A gente foi sendo desmontado e agora a gente espera que o novo prefeito, até por ser empresário e ter uma visão de desenvolvimento, ele remonte essas ‘pedrinhas’, esse Lego que nós fomos um dia, de uma cidade pujante, com algumas vocações fortes. Mas não desanime com Rondônia, absolutamente. Quem reclama de Rondônia, quem reclama de Porto Velho, não tem noção de como está aí fora. Olha, converso com empresários amigos meus do Amazonas, do Acre, no Mato Grosso, e nem estou falando de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, que quebraram, faliram.
Estou falando aqui ao nosso redor. Não tem noção da falta de perspectiva que esse pessoal está vivendo aí fora. Nós estamos passando por um momento de dureza, mas nós temos pão, nós temos feijão na mesa, arroz na mesa, carne na mesa, enfim, não falta o essencial ainda. Mesmo na área que você milita tem dezenas de sites. Falta qualidade, falta investimento em plataforma, falta investimento em aplicativos. Eu falo para algumas pessoas: “Olha, invistam no eletrônico. Invistam! Porque as pessoas já não estão mais lendo a mídia impressa, não estão comprando. Não gastam dinheiro comprando a mídia impressa”. A informação está ao toque do dedo, muita informação, pouca qualidade, mas está ao toque do dedo. E eu ainda acho que tem muito espaço, você tem dois aí que se destacam na mídia estadual, que investiram em plataformas, agiram de maneira inteligente para ganhar pageviews, mais pageviews, mas ainda está escancarado aí, é um mercado que pode se especializar. Site do turismo: qual é o site do turismo? Qual é o site do agronegócio? Qual é o site do, sei lá, dos movimentos sociais, de rua? Tá na hora de começar a especializar. Tá na hora de fugir do generalizado, generalizado já tem bastante e começar a dar uma especializada.
E estou falando só de uma área que eu não conheço, mas com a visão de empreendedor que eu tenho. Então é bom, morar em Porto Velho é bom. Nosso trânsito, quem reclama, não tem noção de como é aí fora. A violência, quem reclama, não tem noção de como é aí fora. É bom, e quando falo bom é comparado com o Brasil. O Brasil está mal, de modo geral em todos os índices: educação, segurança, saúde e por aí vai. Mas Rondônia foi o único Estado que aumentou o leito do SUS, leito de UTI. No Brasil, foi o único. Aumentou em 30%.
Não faltam vagas em escolas, quando você nota, numa notícia, “Ah, está faltando vagas em determinadas escola”, é porque gente lá da Zona Sul está vindo para cá colocar menino na escola, ou porque gente daqui está querendo colocar o filho no João Bento da Costa. E assim vai. Mas se distribuir de maneira ordenada, por bairros, não falta vaga em escolas. Você tem um custo de vida acessível, está melhorando agora. Estávamos vivendo uma bolha imobiliária. Aluguéis absurdamente caros, casas absurdamente caras. Casas de R$ 300 mil estavam sendo vendidas por R$ 700 mil. Então agora está equalizando e a nossa torcida é que o prefeito acerte e nos ajude a ajuda-lo aqui no governo. O governador determinou apoio total à Capital neste mandato, porque o interior ele sente menos do que a Capital. O agronegócio é mais presente na vida da cidade, no interior. Então o interior sente menos e a Capital sente mais.
O galo doméstico Xerém, que o recebe como se fosse um cachorro e monta em seu ombro como um papagaio
Foto.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)
RD – Qual o preço a se pagar pelas opiniões que o senhor posta no Facebook? Não acha que é muita exposição para um homem público na sua posição?
EC – Eu me exponho mesmo. Mas não faço isso de agora, não. Eu tive o primeiro site – pessoa física – de Rondônia. Era hospedado na Enter-Net, ali no Alphaville. Aí havia a ROnet e a Enter-Net. Era um site sobre paraquedismo. Eu sempre gostei de me posicionar. Não é de aparecer. Eu não exponho valores materiais, eu exponho valores. Depois disso eu passei, como todo mundo da minha idade, pelo ICQ; aí pelo Orkut; usei o mIRC, enfim, tudo isso aí. Iniciei no Twitter. Eu tinha um preconceito contra o Facebook, achava o Facebook muito plastificado, fútil. E eu adorava o Twitter porque estimulava nossa capacidade de adensamento de ideias com 140 caracteres. Você tinha de ser sucinto. Comecei meio que na brincadeira no Facebook. E acabou universalizando a parada. Então assim, quem me observa e me acompanha no Facebook, sabe que eu exponho valores.
Eu exponho meu jeito de pensar. Eu falo muito pouco sobre minha atividade na Casa Civil. Muito, muito pouco. Por quê? Primeiro, porque eu não sei como as pessoas irão interpretar algumas reuniões. Eu nem sei se às vezes determinado parlamentar ou agente político que venha até mim quer ser exposto. E eu vivo em reunião. E eu outra: ano passado eu fiz reunião com trinta e dois sindicatos. E isso é desinteressante para a população. Reunião com sindicato só interessa a quem é filiado do sindicato, é desinteressante. O trabalho da Casa Civil, para a população, é desinteressante. Política é desinteressante, apesar de ser apaixonante.
A política viabiliza aquilo que interessa à população, que é a escola, que é o hospital, que é a estrada, que é a piscicultura. E graças aos Projetos de Lei que a gente consegue em entendimento com o parlamento aprovar, graças a harmonização com os Poderes, que os braços de ponta de execução do governo atuam. Então eu falo pouco sobre essas coisas. Falo mais aquilo que interessa à coletividade, politicamente. Então eu exponho valores. Essa foi a minha escolha de vida. E como disse a você: eu vivo em absoluta felicidade, absoluta felicidade! Eu não poderia viver outra vida, que não essa, se tivesse de escolher. “Ah, você tem saudade da década de 80?”. Não! Eu tenho sim boas lembranças, mas eu sou feliz em 2017, agora, 10 de abril, falando contigo. Eu tô feliz. Mesmo falando sobre coisas que me incomodaram no passado. Eu tô feliz. Porque pude esclarecer e está sendo gravado. Se alguém quiser me desmentir vai ter um bom trabalho porque não falei mentiras aqui. Sou feliz como eu sou e sinto vontade de dar dicas para as pessoas. Porque todo mundo pode ser feliz do mesmo jeito.
Os problemas todos somos nós que criamos. A gente fica reprimindo coisa, amargurado, com rancor. Fulano reclama que não tem tempo pra nada, mas não abre mão do futebol da quarta-feira. Eu vou sair daqui e vou para a aula. Não abre mão do carteado, não abre mão do dominó, não abre mão do barzinho no sábado de manhã e reclama porque está gordo. Mas não abre mão de dormir. Sabe... É... Eu acordo às 04h50 aí vou correr, vou pedalar e vou para a academia, para depois vir pra cá. Se eu quero alguma coisa ninguém vai me trazer. Desejos não são direitos. Eu falo sempre isso: desejo não é direito. Desejo é uma coisa que você tem de se esforçar para ir e alcançar.
Então, essa é minha exposição. Às vezes eu coloco [no Facebook] fotos das filhas; às vezes fotos da esposa; boto foto do meu filho; do meu falo, o Xerém [risos]. Sim, eu tenho um galo de estimação. Nunca viu? Eu criei ele desde pintinho e, quando me vê em casa, corre para o meu pé e eu tenho de colocar ele no meu ombro. Ele fica no meu ombro, como se fosse um papagaio [risos]. Tá aqui, ó [mostra a foto no celular]. Eu posto foto direto, até com ele na minha cabeça. E o pessoal pergunta: “Cadê o Xerém que nunca mais apareceu?”.Mas então é isso: tem gente que escolheu usar as redes sociais pra botar a garrafa de cerveja ‘trincando’. Eu gosto de cerveja, mas eu não acho que é uma coisa boa de ser compartilhada. Assim, eu gosto. Mas cerveja não algo de bom [a ser compartilhado em redes sociais]. É.., faz bem pra minha vida? Não faz. É aquela falsa... Aqui é o Xerém quando era pequeno [mostra a foto no celular], mas eu quero uma foto dele antes... Tá aqui, esse é o Xerém [mostra foto mais recente].
E o engraçado é que ele não foge, é um galo que, quando você chega, ele vem, mas é só pro meu pé. Olha aqui, ó. Tendo um papo cabeça aí com o Xerém [mostra foto cabeça com cabeça com o galo]. Quando eu saio para pedalar de noite e volto ao amanhecer, tanta gente doente, né? Ou não doente, mas doente de preguiça, que perde tudo que tem de milagroso na vida. Todo dia tem milagre. Vejo minha filha, que hoje toca um violãozinho comigo; meu filho, que tá fazendo Medicina e está feliz, era gordinho e hoje o bicho tá ‘sarado’, gosta de malhar, então, esses valores estou passando pros meus filhos e eu quero ter o que passar para as pessoas.
Volto a dizer: não estou fazendo propaganda pessoal, porque não sou candidato a nada mais. [Quando] Terminar o governo, eu estou fora. Vou completar vinte anos ano que vem de vida pública ininterruptos. Quero ficar mais um pouco com meus filhos e vou continuar passando os mesmos valores. Vou continuar indo na feira, falando com meus amigos, mandando torpedos para os Dinossauros [da SICtv]]; continuar ouvindo A Hora do Rei, lá com o Everton [Leoni, apresentador], porque cresci ouvindo aquele negócio. Acostumei com minha mãe ouvindo e eu escutando junto. Vou continuar admirando Euro Tourinho; continuar adorando ver a Bailarina da Praça nos eventos; continuar agradecendo a Deus por comer uma tapioca na feira com cafezinho com pão assado no fogão, que eu peço pra assar. E é isso. O que mais eu posso querer da vida?
Minha empresa é essencial pra eu viver. Nossas empresas. Mas não são fundamentais para nossa vida. São essenciais porque não vivo sem dinheiro. Não vivo sem pagar as contas. Mas não estou formando herdeiros, tô formando gente boa. Meus filhos são gente que formei para ajudar o mundo a ser melhor. E se em algum momento o que eu escrevo, o que posto, valer como um gatilho para alguém, porque todo mundo pode viver em felicidade como eu, então valeu a pena. Recebo ódio também, mas pouco. Muito pouco. Mas muita gente fala “Olha, eu comecei isso depois daquela sua postagem. Eu mudei aquilo”. Se você todo ano tirar um pouco da porcariada que a gente vai acumulando, porque a gente acumula porcaria: vício é fácil de acumular. Virtude é difícil. Se você for tirando um tiquinho, sem fazer sacrifício nenhum, depois de dez ou quinze anos você é outra criatura.
RD – Secretário, muito obrigado.
EC – Valeu, um abraço.
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Autor / Fonte: Rondoniadinamica
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