RD Entrevista – Roberto Sobrinho, o homem que consubstanciou a própria prisão



Texto.: 
Vinicius Canova
Fotos.: Gregory Rodriguez

Porto Velho, RO – Um sujeito sereno, de fala mansa e trejeitos aquietados transforma-se na caricatura fiel da indignação no decorrer da conversa ao relembrar as inúmeras injustiças que já diz ter passado. 

Neste terceiro capítulo de RD Entrevista, seção publicada exclusivamente pelo jornal eletrônico Rondônia Dinâmica, o ex-prefeito de Porto Velho Roberto Sobrinho, do PT, expõe categoricamente sua visão sobre o atual contexto político no Brasil; o possível retorno do ex-presidente Lula ao comando do País; como foram as datas mais difíceis de sua vida política e a respeito das dezenas de ações de improbidade administrativa movidas contra ele de uma vez só pelo Ministério Público Federal (MPF/RO).

Além disso, Sobrinho relata impressões sobre a polarização que se instalou no País; a ‘morte’ e o ressurgimento do Partido dos Trabalhadores em Rondônia e a incrível história de como teria consubstanciado a própria prisão ao entregar, nove meses antes, um ‘caminhão’ de documentos ao Ministério Público (MP/RO) versando sobre irregularidades na Empresa de Desenvolvimento Urbano (EMDUR). 

Comedido, evita falar com certeza absoluta acerca de suas futuras pretensões eleitorais e se exime de criticar seus sucessores em pontos específicos. 

"Cedo demais para falar”, adianta.  


"Fui muito injustiçado", diz Roberto Sobrinho / Foto.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)

Perfil e trajetória 

Roberto Eduardo Sobrinho nasceu no dia 22 de julho de 1959 em São Paulo, SP. Aos 57 anos, é casado e pai de cinco filhos. O político também é formado em Psicologia com mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Aos 16 anos, começou a militar no movimento estudantil secundarista e universitário, iniciando em seguida sua carreira partidária filiando-se ao PT. Mudou-se para Rondônia em 1982, onde se especializou em gestão escolar e, em 1984, passou a dar aulas no SESC. Em Porto Velho, participou do movimento sindical, ajudando a fundar a Associação dos Professores de Porto Velho, embrião do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Rondônia (SINTERO). Na mesma época, ajudou a fundar a CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Estado. Durante vários anos, foi dirigente da central em Rondônia. Foi prefeito da Capital por duas vezes – de 2005 a 2012 – concorrendo logo em seguida à Câmara Federal em 2014, sem sucesso, e novamente à prefeitura no ano passado, desta vez com o registro de candidatura indeferido, fator que contribuiu com a derrota prematura ainda no primeiro turno. 



A 'sangria' eleitoral

Rondônia Dinâmica –
Em nosso último encontro em outubro do ano passado, quando o senhor foi entrevistado para a série de reportagens especial sobre improbidade administrativa, disse: “Eu sangrei”. A expressão foi usada em referência a sua participação no pleito de 2016, por concorrer com o registro de candidatura indeferido pela Justiça Eleitoral.  Passados quase cinco meses da declaração, como está essa sangria?

Roberto Sobrinho – Olha... O forte da sangria foi no período eleitoral. Ela foi, digamos assim, potencializada ao máximo pelos meus adversários e por aqueles que tinham interesse em que eu não lograsse êxito no processo eleitoral. A minha vida continua. Só conseguiram impedir minha candidatura porque não deu tempo para colocar à apreciação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Se tivesse sido analisada lá [a situação eleitoral] com certeza eu teria o direito de ser candidato. Porque, posteriormente ao primeiro turno, situações idênticas às minhas foram analisadas pelo TSE e deu-se ganho de causa aos candidatos. Ou seja, se eu tivesse ido ao segundo turno, o procedimento do TSE haveria me garantido a continuidade no processo. Então, aquilo que aconteceu ao longo do processo eleitoral: “Roberto é candidato. Roberto não é candidato”, enfim, essa judicialização, sem dúvida me prejudicou muito. 

RD – O senhor quer dizer que foi feito de ‘escada’ pelos seus adversários?

RS – Você não tenha a menor dúvida! Eu era o primeiro colocado nas pesquisas, em todas elas. Eles [adversários] sabiam muito bem disso. E além de você ter os partidos e os candidatos me atacando, ainda havia também esse embargo jurídico. E isso fez com que meus adversários utilizassem essa questão – com muita competência – conseguindo levar essa mensagem à opinião pública. Quando meu programa eleitoral estava no ar vinha firme mantendo minha posição. Nos últimos cinco dias da eleição, quando saí da televisão, o ‘bombardeio’ foi tão forte que cheguei com menos da metade do que eu tinha cinco dias antes. Tive uns 28 mil votos, 27 mil votos...  com potencial de chegar a 60 mil [risos]. Em cinco dias, tudo mudou. Eu ‘desidratei’. Porque eu passava dizendo que era candidato e vinham vinte [opositores] atrás de mim me desmentindo, dizendo que não era.  E eu não tinha mais a televisão, não tinha mais o rádio. Então isso me prejudicou e muito. 

RD – Então, na sua visão, seus oponentes não tinham uma plataforma política durante a campanha?

RS – Eram muito poucas as propostas dos meus adversários. Eram coisas mais genéricas. E demonstraram um completo desconhecimento da máquina [administrativa], mesmo quem estava lá [se refere a Dr. Mauro Nazif (PSB), sucessor na prefeitura e concorrente em 2016]. Falavam coisas assim que não tinham correspondência com a realidade. E procuraram fazer a campanha negativa, ou seja, destruindo um potencial adversário em vez de apresentar propostas, construindo suas candidaturas a partir de seus próprios méritos.

Ações do MPF/RO

RD – Em fevereiro deste ano, o Ministério Público Federal ingressou, de uma vez só, com 20 ações de improbidade administrativa contra o senhor. As acusações envolvem um suposto esquema de favorecimento a construtoras de Porto Velho; assédio e pressão contra servidores para que se submetessem às aventadas ilegalidades e até pagamento de propina a quem se aventurasse na alegada empreitada criminosa. Como o senhor recebeu essas acusações e o que tem a dizer a respeito?

RS – Eu ainda não recebi essas acusações. Essas acusações foram levadas a público através de quem está acusando, mas eu ainda não tive acesso a elas. Mas com certeza essa é a opinião de que está acusando. Terei o momento para apresentar minha  defesa e demonstrar cabalmente que isso não prosperará.



A gestão em Porto Velho

RD – 
O senhor, eleito e reeleito prefeito da Capital, poderia elencar quais foram os maiores feitos de sua gestão?

RS – Vamos começar pela questão da regularização fundiária: foram mais de 25 mil escrituras entregues à população. Também há a questão do asfalto. Quando assumi Porto Velho havia 400 km de ruas asfaltadas. Quando saí, Porto Velho contava com 800 km de ruas asfaltadas. Ou seja, tudo o que foi feito ao longo de cerca de 90 anos de história de Porto Velho nós fizemos em oito! E ainda deixei no caixa da prefeitura recursos para fazer mais de cem quilômetros de asfalto, mas infelizmente a gestão que me sucedeu não teve condição de utilizá-los. Na área da saúde, foram inúmeras unidades construídas por nós, tanto no núcleo urbano quanto no rural. Você tem as UPAs [Unidades de Pronto Atendimento], a Maternidade, novas unidades em diversos pontos, ampliação do programa de saúde da família, raio-x, laboratórios, enfim, tudo pronto e funcional. Também há o Centro de Especialidades Médicas. Na área da educação, programas que valorizaram os profissionais; ampliamos o número de vagas, construímos escolas e avançamos na área de infraestrutura e na seara social.

A 'morte' do PT em Rondônia

RD – Roberto, o resultado das últimas eleições rendeu um baque ao PT tanto nas prefeituras de Rondônia quanto na composição de Câmaras Municipais importantes, a exemplo de Porto Velho, onde não há um único representante da sigla. O PT está ‘morrendo’ em Rondônia? 

RS – Não é em Rondônia. O PT teve uma grande perda no processo eleitoral de 2016. Para constatar, basta pegarmos os dados. Agora, você tem de levar em consideração toda uma conjuntura em que se pegou o PT como bode expiatório, colocando todos os problemas nas costas do partido. Aí eu fico pensando assim: no tempo em que administrei esta cidade, eu do PT, fui eleito pelo PT e muitas pessoas até votaram em mim independentemente do partido, mas no tempo em que o PT administrava, nós tínhamos asfalto, recursos para ampliar o Bolsa Família, recursos para levar energia à população na zona rural e mais. Aumentamos e muito o número de unidades escolares na nossa cidade. Grandes programas voltados a questões de gênero, juventude, políticas de capacitação profissional aconteciam no nosso município graças à ação  do PT. E o que foi que aconteceu? Será que foi pelos nossos acertos que fomos penalizados no último processo eleitoral? Ou porque há uma conjuntura procurando destruir um partido que há mais de 12 anos vinha administrando o Brasil? Houve um golpe orquestrado por setores da mídia; do Poder Judiciário e outros partidos. Deram o golpe e tiraram uma presidenta democraticamente eleita e colocaram lá alguém que não foi eleito. Aí ontem, por exemplo, hoje é dia 16 [a entrevista foi realizada na quinta-feira passada], ontem, 15, houve uma grande manifestação no País com o PT à frente. O PT está defendendo o seguinte: que não aumente o tempo de trabalho dos trabalhadores. Que você não fragilize a relação de trabalho da CLT entre patrão e empregado. Porque no momento de dificuldade econômica como este que estamos vivendo hoje você falar que tem de prevalecer o negociado sobre o legislado, ora, você como empregado vai disputar com o patrão numa condição como esta que aí está? Sempre a corda irá arrebentar para o lado do mais fraco. Então o PT hoje está nas ruas lutando contra isso. 

RD – E a direita cresceu com os últimos eventos no Brasil?

RS – Acredito que houve uma onda da direita. E essa onda da direita não está restrita apenas a Porto Velho ou mesmo ao próprio Brasil. É só ver nos Estados Unidos e outros países afora. A direita conseguiu engajar essa onda de retrocessos dos direitos sociais. Mas posso dizer que a partir de ontem a história será recontada! E reforço aqui: como é que você pode ser contra o PT, principalmente o trabalhador, o empresário nem tanto, o rico, enfim, esse tem que ser contra o PT mesmo, mas como o trabalhador pode ser contra o PT? Quem é que estava nas ruas ontem? Era o PT! Defendendo quem? Os trabalhadores! Quem é que está no governo federal? Aquele que deu um golpe e ninguém autorizou o governo sob seu comando a aumentar o tempo de trabalho dos trabalhadores; a retirar direitos sociais; a fragilizar as relações de trabalho; a diminuir investimentos na saúde e na educação e nem a vender o petróleo. Ninguém autorizou isso! Então veja: o PT ganhou democraticamente uma eleição com a presidente Dilma, foi colocado para fora e um programa que não tem nada a ver com aquilo que a população queria está sendo colocado em prática. E está sobrando para a parte mais fraca da sociedade, que é a formada por trabalhadores.



RD – Mas cadê as grandes lideranças do PT em Rondônia e aquela militância engajada de outrora?

RS – Estamos entrando num momento de transição. Passamos por um período do PT de oposição, lutando para chegar aos postos executivos principais, o partido chegou lá, demonstrou que tem capacidade de fazer. E todas as ações realizadas tanto no governo federal quanto no municipal quando estive a frente foram ações que beneficiaram justamente aquele segmento da sociedade sempre esquecido pelas políticas públicas. Nós vivemos um período de massacre contra as direções do PT, contra lideranças do PT, ora criminalizadas. E muitas vezes criminalizadas não em cima de provas, mas levando em conta que alguém, um terceiro, diz que tem convicção de que algo errado foi feito. Aí o alvo da denúncia vai ter de se explicar. E até que  se explique e a verdade prevaleça, fica parecendo uma história verdadeira contada por quem acusou. Há uma inversão do princípio que diz que todos são inocentes até que se prove o contrário. O que acontece hoje é o seguinte: se você é acusado também é automaticamente considerado culpado até que prova que é inocente. Então essas lideranças, parte dessas lideranças, saiu do PT, algumas até históricas resolveram trilhar outros caminhos. Mas o PT ainda é um partido muito querido pelo povo brasileiro. Qualquer pesquisa feita demonstra que o PT tem a maior fatia de predileção da sociedade. Nós estamos hoje realizando um processo de eleições internas no PT de Porto Velho e também no PT de Rondônia e até mesmo nacional, reorganizando nossas direções para que possamos fazer os enfrentamentos e participar das eleições de 2018. E daí para frente. Mas um passo significativo também é que passaram a surgir novos atores políticos que não necessariamente são ligados ou vinculados ao PT. São lideranças da juventude, de movimentos populares, que vêm se sobressaindo principalmente em cima da luta por garantias de direitos.

Polarização político-social no Brasil

RD – E como vê essa polarização direita/esquerda, que geralmente não abre espaço para diálogos sadios?

RS – O atual cenário político me parece muito como um clássico do futebol brasileiro, o FLA-FLU. Certo? Está desse nível... E isso é muito ruim porque há um acirramento de posições que se chocam constantemente. E a capacidade de você se render a argumentos, de aceitar argumento de outros, é bloqueada. Ou seja, se eu tenho uma opinião, logo ela é verdadeira e a sua não presta. É por aí. Então este é um momento que nós estamos vivendo:  de polarização na sociedade. E essa polarização viabilizou as condições do golpe. Porque quem trabalhou na polarização foi a Grande Mídia, o setor financeiro nacional, o setor da FIESP, ou seja, o setor empresarial, junto com a grande mídia corporativa e esses partidos que sempre deram sustentação ao golpe. Todos eles utilizaram esses instrumentos e  fizeram com que parcela da sociedade, inclusive de trabalhadores, passasse a acreditar que eram patrões. Passaram a ver a sociedade com os olhos do patrão, do empresário.  E hoje essa realidade vem à tona. Muita gente me fala o seguinte: “Eu fui enganado nessa história”. E eram justamente as pessoas polarizadas, no clima de FLA-FLU. E seguiam: “Porque eu não autorizei ninguém a me tirar direitos trabalhistas. Eu não autorizei ninguém a discutir a possibilidade de pagar meu décimo terceiro em duas, três ou quatro vezes. E também não autorizei ninguém a aumentar minha jornada de trabalho para doze, quinze horas”. E isso que está sendo feito. Então a ficha caiu para essas pessoas. A tendência, e as manifestações que estão ocorrendo agora dão um sinal – e aquilo não foi o pico, parece o início, de que há um movimento nessa polarização. As denúncias da Lava Jato... Oras, mas os ladrões não eram o pessoal do PT? Como é que é isso? Pelo que está se vendo hoje  juntou a turma toda enrolada na Lava Jato para tirar a Dilma, que não tem nada a ver com essa história. É um negócio esquisito. E as pessoas começaram a perceber isso. O jogo não era em nome da honestidade, mas sim em interesse dos empresários brasileiros, ou de setores do empresariado nacional.

RD – Falando em Lava Jato, como o senhor enxerga a operação e os processos oriundos dela?

RS – Percebemos a Lava Jato agir de maneira partidarizada, nossa concepção é essa. É para pegar e destruir o PT. Até hoje nas denúncias o Alckimin [Geraldo, ex-governador de São Paulo] está incluído. A Globo e nem o Estadão noticiaram isso. Parece que é só PT. E não é o PT. Por que aquelas pessoas que primaram tanto o combate à corrupção não fazem nada, por exemplo, quando você tem um governo com seis ministros, agora, fora os que já saíram, incluídos na Lava Jato? Inclusive o presidente... Porque existe a seletividade, a forma como você encara um problema,  por exemplo: “Aquele ali pode cometer um ilícito, não tem problema. Mas se esse aqui fizer aí não pode”. Olha... Eu sou a favor de todas as investigações. Defendo que haja as apurações necessárias. O que não concordo é quando você vê a olho nu que está havendo a partidarização com investigações parciais com objetivo claro de destruir o projeto político do PT. Este projeto estava ainda em curso no País com a presidente Dilma Rousseff. Nós, do PT, somos seres humanos. Se pessoas fizeram coisas erradas elas precisam ter o direito de se defender. Agora, você não pode, utilizando a estrutura judicial, querer penalizar um projeto político inteiro porque talvez alguém tenha feito alguma coisa errada.



RD – O senhor ainda luta contra questões judiciais que, adiante, podem voltar a emperrar eventuais candidaturas. Mesmo enfrentando essas adversidades, pretende ser candidato em 2018?

RS – Primeiro, a questão judicial que motivou o indeferimento da minha candidatura em 2016 é processo referente à Secretaria de Educação do Município (SEMED). No TJ/RO, há uma ação em que sou absolvido. No mesmo tribunal, há outra com a mesma situação onde sou condenado. Então, para prejuízo meu no processo eleitoral, usaram a ação em que fui condenado. Para se ter uma ideia, casos como esse foram analisados pelo TSE ainda no ano passado com ganho de causa ao candidato. As pessoas que não geraram dano ao erário foram absolvidas, como é meu caso. Essa questão ainda tramita na Justiça e eu estou me defendendo. Temos recursos em Brasília e no próprio Tribunal de Justiça de Rondônia. Vou demosntrar que a ação que nos inocentou nessa causa específica é a que tem validade, é que deve prevalecer.

Lula de volta à Presidência

RD – Falando em 2018, pesquisas colocam o ex-presidente Lula em primeiro lugar em todos os cenários no primeiro turno numa eventual disputa à Presidência. Como o senhor vê essa possibilidade de retorno do ex-presidente ao Palácio do Planalto? 

RS – Esse voltar da população para o Lula já é um reflexo claro no rompimento da polarização. A ficha está caindo e as pessoas estão vendo que foram enganadas por todo um discurso de moralização cheio de más intenções. O presidente Lula é uma liderança legítima e há toda uma tentativa de impedir judicialmente que ele seja candidato. Há uma subversão no princípio democrático: quem tem de decidir quem vai ser presidente do  Brasil é o povo! O povo tem de ter o direito de votar e o que estamos vendo hoje é que há uma ação no sentido de tentar impedir que o Lula possa ser candidato. Mas nós acreditamos que ele será candidato, as denúncias contra ele são muito frágeis. Temos acompanhado os depoimentos vindos à tona sobre sítio e apartamento e ele, serenamente, tem demonstrado cabalmente que não tem nada a ver com aquelas histórias. Eu acredito que o Lula, sendo candidato, tem todas as condições de vencer a eleição e fazer um mandato tomando como base todas essas dificuldades que nós enfrentamos e retomando aquele conjunto de projetos de interesse de todos os brasileiros.

Afastamento e prisão

RD – Roberto, duas datas: 06 de dezembro de 2012 e  09 de abril de 2013. Na primeira delas, o senhor foi afastado do cargo e restou proibido de entrar na prefeitura. Essas medidas foram oriundas da ‘Operação Vórtice’, que apurava desvio de recursos por meio de fraudes em licitações milionárias; na segunda, foi preso pela polícia em sua própria residência por conta de desdobramentos da ‘Operação Luminus’. Esta última, investigava servidores da EMDUR por suposto desvio de dinheiro patrocinado por organização criminosa instalada no órgão e supostamente chefiada por você. Como foram esses dias para o senhor?

RS – Eu administrei Porto Velho por oito anos. E quando faltavam 13 dias uteis para terminar a minha administração, em dezembro de 2012, fui surpreendido por uma decisão que me afastou da prefeitura sob a alegação de que eu havia beneficiado uma empresa, ou empresas, num processo licitatório de aluguel de máquinas. Fui afastado por este motivo. Só que eu quero dizer a você que não beneficiei a entrada dessa tal empresa na prefeitura, pelo contrário. Havia um processo de licitação em curso e eu o cancelei porque havia indícios de irregularidades. O Tribunal de Contas (TCE/RO), através de decisão do conselheiro Wilber Coimbra, cancelou a minha decisão e botou as empresas para trabalhar. Ou seja, fui afastado da prefeitura  sob o argumento de que eu havia beneficiado as empresas, mas não o fiz. Então você veja a grande injustiça cometida contra mim. Não há processo contra mim da ‘Vórtice’ sobre esta questão.

RD – E a prisão?

RS – Em abril de 2013, com a ‘Operação Luminus’, depois de nove meses que eu havia denunciado, que eu havia denunciado não, que eu havia pedido ajuda ao MP/RO para apurar possíveis irregularidades na EMDUR oficialmente, solicitando apuração dessas situações,  fui surpreendido de manhã na minha casa sendo preso. E veja bem: eu havia afastado a diretoria da EMDUR; aberto Tomada de Contas; Tomada de Contas Especial; mandei suspender todos os pagamentos e ainda cancelei os contratos. Fiz tudo isso nove meses antes! Eu levei um  ‘caminhão’ de documentos ao MP/RO. Todos os processos que estão no MP/RO não foram frutos de busca e apreensão. Todos foram levados por mim! E repito: nove meses depois que tomei todas as providências, todas as medidas, fui surpreendido de manhã com a polícia na porta da minha casa. Fiquei preso por um dia, entrei com recurso, e o TJ/RO me soltou porque percebeu que eram frágeis as motivações da prisão. Estou me defendendo e tenho plena convicção que houve perseguição. Estou dizendo e repito: eu procutei o MP/RO nove meses antes, entreguei documentalmente todas as possíveis irregularidades, pedi apoio para que a instituição investigasse e, nove meses depois, eles vêm dizer que eu fazia parte de um núcleo financeiro [de organização criminosa], quando meu papel em toda essa história era assinar convênio. Eu não era ordenador de despesa, não administrava a EMDUR. E eles sabem disso. Mas fizeram isso com o objetivo muito claro: no final do meu mandato em dezembro de 2012 eu era muito bem avaliado. E não só em Porto Velho, como todo o Estado de Rondônia. Seria um potencial candidato ao Governo do Estado e os meus adversários, que não conseguiram me tirar do jogo politicamente, buscaram outros caminhos.

RD – Quais sentimentos o senhor experimentou nessas ocasiões?

RS – Foram dias muito tristes! Foi um mundo... Assim... Parece que o mundo se acabou. Você fica sem entender o que aconteceu. E eu não sabia, por exemplo, quando fui afastado o porquê daquilo. Depois fui descobrir que havia sido afastado porque eu teria beneficiado a empresa que alugou máquinas da prefeitura. Sim, mas eu não beneficiei! Eu coloquei a empresa pra fora e o conselheiro Wilber as colocou de volta. Como é que fui afastado? Era coisa de louco... Eu me senti injustiçado, uma insjutiça muito grande. Em abril, a mesma coisa: como é que eu vou preso depois que tomo todas as medidas cabíveis nove meses antes? O MP/RO não descobriu nada! Fui eu que detectei, a partir de notícias da imprensa, que havia possíveis irregularidades na EMDUR. Com isso, tomei as providências e as remeti ao MP/RO, todas elas.

RD – No caso da sua prisão, a soltura ocorreu um dia após o ocorrido. O desembargador Walter Waltenberg concedeu liberdade ao senhor no episodio que ficou conhecido como ‘hebeas corpus relâmpago’. O Ministério Público entendeu que ele deveria ser considerado suspeito porque o desembargador respondia, à época, a ação civil pública junto com você. Havia motivos que pudessem ensejar essa suspeição, Roberto?

RS – Olha... Esta situação que você está retratando aqui foi dirimida pelo Pleno do TJ/RO, que entendeu totalmente improcedente essa ilação.  O Pleno do TJ/RO entendeu que essa ilação estava totalmente fora de propósito, tanto é que manteve a decisão da Câmara, não foi a decisão do doutor Walter. Foi a decisão da Câmara reafirmada pela posição do Pleno.



Sucessores

RD – Como o senhor avalia a gestão de seu sucessor, o ex-prefeito Dr. Mauro Nazif, e o começo da administração do novo prefeito Dr. Hildon Chaves (PSDB)?

RS – Eu não gosto muito de falar dos meus sucessores. Fica meio assim até ‘contaminada’ a fala. Mas eu acho que o prefeito Mauro careceu de ação mais organizada e planejada. E o fato dele não ter conseguido utilizar os recursos que eu deixei à disposição do município trouxe um prejuízo muito grande para a população de Porto Velho. Eram recursos destinados ao combate de alagações, destinados à pavimentação asfáltica, ampliação de unidades de saúde, ou seja, houve um grande retrocesso. Houve uma paralisação de um ritmo em que nós vivíamos a partir de nossa gestão. Com relação ao atual gestor, ainda acredito ser cedo para avaliar sua administração, mas me parece que eleger o funcionalismo público como bode expiatório dos problemas não é o melhor caminho. E eu peço ao prefeito que tenha no funcionário público o seu aliado. Porque não há prefeito que consiga administrar se não valorizar o funcionalismo público.

RD – O senhor tem pretensão de voltar a comandar o Município de Porto Velho?

RS – Este tipo de questionamento responder hoje é complicado, já que estão tão distantes essas questões.  Tem muita água para rolar debaixo da ponte. Isso não depende da minha vontade pessoal, depende de um partido político. Só no momento adequado o PT vai avaliar se tem ou não condições, se vai ou não disputar. Isso está distante de se ter posição sobre essa possibilidade ou não.

RD – Quem são os seus aliados e inimigos na política?

RS – Meus aliados são parte dos militantes do meu partido, do PT; tenho lá muitos companheiros com quem tenho trilhado, caminhado. Minha família também está sempre comigo e, posso dizer, há ainda os aliados de ocasião. Os aliados de ocasião tinham interesses específicos, não eram aliados com projetos políticos idênticos. Em determinada conjuntura você se alia a um; em outra conjuntura, a outro. E assim é a política. Mas tenho muitos amigos e pessoas que acreditam no trabalho que realizamos e possibilidade de fazer ainda mais em nosso município.

RD – Muito obrigado, Roberto.

RS – Eu que agradeço, um abraço.



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Autor / Fonte: Rondoniadinamica

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