Sociedade de bandidos soltos



Professor Nazareno*


Acredita-se que pelo menos oitenta por cento dos cidadãos brasileiros hoje são totalmente despolitizados, não sabem votar, não têm leitura de mundo, não têm informações e vivem à margem dos grandes acontecimentos nacionais e mundiais. Como vivemos em uma democracia, os outros 20 por cento restantes vivem eternamente reféns dessa maioria burra. Ultimamente muitas destas pessoas saíram às ruas para derrubar uma presidente democraticamente eleita e colocaram no seu lugar uma coalizão de políticos corruptos que não mudou em nada a nossa triste situação. Pior: muitos bateram panelas quando se sentiram roubados e enganados. Continuaram a ser explorados e ludibriados, mas pararam com as batidas nos utensílios. Parece que não sabiam o que estavam fazendo nem o porquê. Serviram só como de massa de manobra.

Mas é no dia a dia que vemos o quanto parte da sociedade brasileira é chinfrim, atrasada, pré-histórica e perversa. Muito perversa mesmo. Mais de 80% dos nossos compatriotas se dizem cristãos, mas não seguem nenhum dos ensinamentos do seu Mestre. Se um caminhão tomba em qualquer estrada do país, os moradores dos arredores quase sempre correm logo para saquear a carga. Seja de que produto for. Muitos sequer procuram saber se há feridos ou não no acidente. Tratam logo de roubar o maior número de mercadorias possível. Na recente greve de policiais no Espírito Santo, cidadãos comuns participaram de saques e arrombamentos de várias lojas na capital capixaba. Até uma candidata a vereadora pelo PSDB de Cachoeiro do Itapemirim foi flagrada saindo de uma loja com sacolas de objetos roubados. E tudo pareceu normal.

A maldade de muitos brasileiros é vista de maneira sórdida também nos comentários postados nas redes sociais. Durante a matança verificada nos presídios do país, o festival de horrores de muitos brasileiros aflorou como nunca. Embora cristãos e às vezes com curso superior, muitos cidadãos festejaram a carnificina como se o Brasil tivesse conquistado uma Copa do Mundo. A alegria era estampada diariamente nas redes sociais. Vi médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde postarem coisas absurdas como se os mesmos nunca tivessem feito o juramento de Hipócrates. Parece que muitos deles fizeram juramento para serem hipócritas. Durante o AVC que a esposa do ex-presidente Lula sofreu, o festival de absurdos inundou o Facebook demonstrando que a verdadeira doença não era em Marisa Letícia, mas em parte da nossa sociedade.

A realidade é que o brasileiro comum, por falta de conhecimento, não sabe discutir política. E nem outros assuntos. Direitos humanos, ideologia de gênero, respeito às minorias, censura, Estado laico, novo formato de família, por exemplo, são temas desconhecidos para a maioria dos nossos ignorantes cidadãos. Muitos dizem que os políticos são ladrões e desonestos, mas segundo o teólogo e psicólogo Sérgio Oliveira “a ausência da polícia, como no Espírito Santo, revela uma realidade assustadora: o nosso caos ético e moral. Quando a polícia se torna a regra de conduta, o instrumento de controle que nos impede de cometer crimes percebe-se a falta de consciência ética e moral. Retirada a polícia, vem à tona o desejo de um povo corrupto. Idiotice pensar que só os políticos são desonestos. Tendo oportunidade, muitos viram criminosos. Se precisamos de polícia para sermos honestos, somos uma sociedade de bandidos soltos”.

*É Professor em Porto Velho

Autor / Fonte: Professor Nazareno

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