EDITORIAL

O 'apagão' das tornozeleiras eletrônicas que deixou Rondônia à mercê de criminosos perigosos por quase dez horas ininterruptas

Porto Velho, RO — O francês François-Marie Arouet, que você conhece melhor pelo pseudônimo Voltaire (1694-1778), disse em determinada ocasião:

"Não devemos avisar as pessoas do perigo que correm, salvo depois de ele ter passado".

Certamente que todo o filósofo tem sua cota de verborragia e é óbvio que a frase anterior seja de fato retumbante idiotice a despeito do tempo onde fora colocada à apreciação social.

Porém, trazendo-a à tona em 2020, século XXI, podemos dizer sem sombra de dúvidas que, pinçando a setença específica, a gestão Coronel Marcos Rocha, do PSL, tem rezado a cartilha sem tirar nem por, ou seja, integralmente.

O povo não sabe da grande maioria das coisas que percorrem as entranhas do Palácio Rio Madeira. E isto se deve em muito pelo fato de a administração não se dispor a conversas com a imprensa nos termos tradicionais, à base do bom e velho olho no olho, no tête-à-tête, excetuando-se, certamente, os veículos de comunicação chapas-brancas onde os tapetes persas são estendidos por tipos como Amaury Júnior a autoridades diversas transformando, consequentemente, jornalismo em jet set tupiniquim.

Logo, são comuns entrevistas sobre gestão se transformando em quesitonários pessoais envolvendo até mesmo degustação de queijos e vinhos.

Dito isto, e quebrando o protocolo firmado por Voltaire, este absorvido por Rocha e assumido pela secretária Etelvina da Costa, represantante da Secretaria de Etado a Justiça (Sejus/RO), o jornal Rondônia Dinâmica recebeu informação preocupante.

Ela diz respeito ao dia 10 de fevereiro de 2020 num período que abrange das 11h às 20h30, logo, nove horas e meia ininterruptas.

Um colaborador da empresa UE Brasil que hoje opera o serviço de monitoramento de apenados através das tornozeleiras eletrônicas em todos os rincões do estado, relatou verdadeiro "apagão" no sistema.

O trabalhador, de identidade inconfessa, asseverou  que durante essas quase dez horas não foi possível monitorar qualquer preso que fosse: estavam todos, naquele lapso, verdadeiramente livres, leves e soltos, como se nunca tivessem sido condenados, voando como pássaros em liberdade recém-saídos do cativeiro. Entretanto, apesar da condição de temporária abolição dos grilhões do Estado, estes também não sabiam do seu novo status.

"Quem sabe exatamente o que ocorreu é o fiscal José Antônio da Silva. Na verdade, foi ele quem alertou, via relatório, a dona Helanne Crisna Magalhães Carvalho, que é gestora do contrato".

Isso quer dizer que o rondoniense correu perigo em níveis incalculáveis, porém, repetindo, assim como tudo o que ocorre com o atual estafe governamental as coisas são mantidas a distância da compreensão do público.

E agora que a situação foi revelada certamente não é sensação de segurança que permeia o ar.