MEC contrata para fornecer material escolar empresa investigada pela PF
Publicada em 06/03/2020 às 15:02O Ministério da Educação contratou uma empresa que, segundo a Polícia Federal, está envolvida em um esquema de desvio de dinheiro público na Paraíba. O negócio foi mantido mesmo com a investigação em andamento. A informação foi publicada pelo jornal "O Estado de S. Paulo" nesta sexta-feira (6) e confirmada pelo G1.
Em 2018, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão vinculado ao MEC, abriu uma licitação para adquirir material escolar para alunos da rede pública. A empresa Brink Mobil foi escolhida como fornecedora dos produtos. O dono da Brink Mobil, Valdemar Ábila, foi preso preventivamente pela PF na Operação Calvário em dezembro de 2019.
A operação investiga o desvio de R$ 134,2 milhões de serviços de saúde e educação do governo da Paraíba. No início deste ano, Ábila foi denunciado pelo Ministério Público da Paraíba por organização criminosa. O empresário, de acordo com a denúncia, faz parte do núcleo econômico da quadrilha.
A contratação da Brink Mobil foi feita usando a chamada ata de registro de preços, modalidade em que o Ministério da Educação recebe propostas de várias empresas e determina o que cada uma pode vender, e por qual preço.
Em uma rede social, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, escreveu nesta sexta-feira que Brink Mobil não foi condenada pela Justiça e que ele estaria cometendo um crime se impedisse a empresa de participar da disputa.
"A empresa ganhou a licitação e não estava condenada, não tenho como excluí-la (eu estaria cometendo um crime)", disse o ministro.
A empresa Brink Mobil não respondeu as tentativas de contato da reportagem.
A licitação feita pelo FNDE prevê que a compra pode chegar a R$ 406 milhões, a depender da quantidade de pedidos do poder público. Podem ser adquiridos kits escolares para os alunos da educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e para a educação de jovens e adultos.
Segundo vídeo publicado em uma rede social do MEC, já foram entregues às escolas públicas cerca de 3 milhões de kits escolares.
O processo licitatório teve início em 2018. Em fevereiro de 2019, o FNDE e a Brink registraram a ata de registro de preços com valor total de R$ 374 milhões. Carlos Alberto Decotelli da Silva, ex-presidente do FNDE, e Valdemar Ábila assinaram o documento.
Uma segunda ata foi assinada pelas duas partes em novembro de 2019, no valor de R$ 32 milhões. Outro ex-presidente do FNDE, Rodrigo Sergio Dias, assina o documento junto ao dono da Brink. Os documentos estão disponíveis no site do fundo.
Dias assumiu o FNDE em agosto de 2019, após Decotelli deixar a presidência do órgão para assumir uma secretaria no MEC. Dias deixou o FNDE meses depois, em dezembro de 2019.
Em uma nota publicada numa rede social depois da demissão, Dias afirmou que a ata homologada foi aprovada e sua regularidade atestada pela Advocacia-Geral da União (AGU), por duas diretorias do FNDE e pelo corpo técnico do órgão.
Ele disse ainda que os diretores foram indicados pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, e seriam pessoas de confiança do ministro. Dias afirmou que, antes da homologação da ata, enviou ofício ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que, segundo ele, atestou a regularidade da empresa para contratar com o poder público.
Em 2018, o Cade recomendou que a empresa fosse condenada por prática de cartel (combinação de preços) na compra de uniformes, mochilas e materiais escolares.
O FNDE tem orçamento de cerca de R$ 50 bilhões. É responsável pela execução da maioria das ações e programas da educação básica do país, como alimentação e transporte escolar, e também opera o Programa de Financiamento Estudantil (Fies).
Fonte: G1