SAÚDE Dia da Criança Especial: uma em cada 100 está no espectro autista Publicada em 09/12/2021 às 15:59 De acordo com o Center of Diseases Control and Prevention (CDC), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, uma em cada 100 crianças tem o Transtorno do Espectro Autista (TEA), mostrando incremento significativo ao longo do tempo. Há alguns anos, ocorria um caso para cada 500 crianças. A estimativa é que, em todo o mundo, 70 milhões de pessoas tenham TEA, sendo 2 milhões no Brasil. O Dia da Criança Especial, comemorado hoje (9), objetiva refletir sobre a importância da inclusão e garantia de direitos das crianças que possuem algum tipo de necessidade especial, a fim de melhorar sua qualidade de vida e ajudar no seu desenvolvimento, mesmo com todas as limitações. A médica Danielle H. Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência na Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), disse à Agência Brasil que o diagnóstico começa pela observação do comportamento da criança. O TEA envolve um grupo de doenças do neurodesenvolvimento, de início precoce (antes dos 2 ou 3 anos de idade), e que se caracteriza por dois aspectos principais, que são a dificuldade de interação social e a dificuldade de comunicação. Uma criança neurotípica, ao contrário, que não possui problemas de desenvolvimento neurológico, começa a interagir com outras pessoas em torno dos 4 a 6 meses de idade, explicou. Inserção Além do acompanhamento por uma equipe multidisciplinar, Danielle Admoni considerou ser fundamental também a inclusão na vida das crianças com TEA. “O que a gente sempre espera para as crianças com TEA é a inclusão. As principais questões da criança com TEA são a fala, ou seja, a linguagem, e a socialização”. Daí a importância de crianças com esse transtorno serem matriculadas na escola e, preferencialmente, nas classes comuns. “O que a gente sempre espera com a escola é justamente desenvolver essas duas coisas. Quanto mais a criança conseguir se comunicar com outras crianças, melhor vai ser a linguagem dela, a fala dela, e melhor sua socialização. Porque a gente aprende por cópia. Por exemplo, se você sorri para o bebê e ele não tem TEA, ele sorri de volta para você. E assim a criança vai crescendo, copiando o comportamento dos pais e se tornando um ser sociável”. A criança com TEA não tem essa capacidade de copiar. Mas o fato de ela conviver e estar com outras pessoas, saber quais são as regras sociais, o que pode e não pode fazer, é fundamental. “Por isso, a gente insiste tanto que a criança com TEA tem que participar da escola, normalmente”. A psiquiatra destacou que, antes, havia classes e escolas especiais para crianças com necessidades especiais. “O que a gente quer é o contrário. É que a criança esteja realmente inserida na sociedade, que os indivíduos aprendam a conviver com as pessoas com TEA e estas a conviverem com as pessoas neurotípicas”. Sem discriminação O Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece que o Brasil deve incluir todos os estudantes de 4 a 17 anos na escola. Os estudantes com necessidades especiais devem ser matriculados, preferencialmente, em classes comuns. Para isso, o Brasil deve garantir todo o sistema educacional inclusivo, salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados. O assunto diz respeito à inclusão social de crianças com deficiências físicas e intelectuais. A proposta educacional é oferecer educação de qualidade para todos, sem discriminação, incentivando os alunos especiais a frequentarem as mesmas escolas que as demais crianças. Dados do Censo Escolar divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revelam que entre 2014 a 2018, o número de matrículas de estudantes com necessidades especiais cresceu 33,2% em todo o país. No mesmo período, também aumentou de 87,1% para 92,1% o percentual daqueles que estão incluídos em classes comuns. Em 2014, eram 886.815 alunos com deficiência, altas habilidades e transtornos globais do desenvolvimento matriculados nas escolas brasileiras. Esse número tem evoluído a cada ano. Entre 2017 e 2018, houve aumento de aproximadamente 10,8% nas matrículas, atingindo em torno de 1,2 milhão, em 2018. Foco O foco do acompanhamento a ser dado às crianças com TEA vai depender de cada uma delas, porque algumas têm inteligência normal, enquanto outras têm inteligência acima ou abaixo da média, orientou a psiquiatra. Em geral, os especialistas insistem em dois pontos: primeiro, a escola e, em segundo lugar, o acompanhamento com fonoaudiólogo. “É o mínimo que se faz com uma criança com TEA, porque ela sempre tem uma dificuldade de linguagem. Isso faz parte do diagnóstico. O que a gente quer é que aquela criança fale e quanto mais cedo ela é estimulada, maior a chance dela falar e se comunicar melhor”. Danielle afirmou que a junção de escola e fono é o ideal, mas admitiu que no serviço público de saúde não há fonoaudiólogo para todos e nem as escolas dão conta de todo o trabalho. Esclareceu que há terapias específicas para cada criança com TEA, mas a inserção na escola e tratamento cpom fono devem ser para todos. As atividades físicas e artísticas não são aceitas da mesma maneira por todas as crianças com TEA, explicou. Para mães e pais que desconfiam que seu filho é autista, a professora da UNIFESP recomendou que procurem um profissional de saúde mental que saiba fazer esse diagnóstico, “que não é tão simples”. Ressaltou que cada criança é de um jeito. Por isso, requer que cada acompanhamento seja particularizado para ela. “Mas sempre pensar o seguinte: a gente tem que tentar fazer com que a criança tenha uma vida o mais normal possível”. Habilidades Danielle desmentiu a fantasia de que autismo é uma coisa gravíssima. “Eu sempre falo: as deficiências a gente já viu, a gente já sabe o que é. A criança tem uma dificuldade de linguagem, de socialização, dificuldades com rotina, com mudanças. Tudo isso a gente já sabe. Vamos agora correr atrás do que a gente não sabe, que são as boas qualidades dessa criança, porque é isso que a gente tem que estimular”, explicou. Deu o exemplo de um paciente autista, já adulto, que possui memória incrível. Ele prestou concurso para funcionário público, passou e é consultado no trabalho o tempo todo pelos colegas, porque sabe a Constituição de cor. “Ele acha isso o máximo! Fez um bom uso dessa capacidade que tem para uma coisa super funcional. Ele conseguiu se inserir e está estudando direito. É disso que a gente está falando. A deficiência a gente sabe que tem. Então, vamos correr atrás do que a pessoa tem de legal, para estimular. A gente não tem que pensar o TEA como uma doença. Ter esse diagnóstico não significa o fim do mundo”. Admitiu, por outro lado, que não é fácil ser mãe de autista, mas assegurou que é preciso correr atrás das habilidades dessas crianças, e não só das deficiências. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 bilhão de pessoas têm algum tipo de deficiência no mundo e, uma em cada dez é criança. No Brasil, 45,6 milhões de pessoas são portadoras de deficiência. Destas, 7,5% são crianças de até 14 anos de idade, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, o que equivale a cerca de 3,5 milhões de crianças. Fonte: Agência Brasil Leia Também Dia da Criança Especial: uma em cada 100 está no espectro autista Prefeitura informa sobre interdição de via e desvio dos ônibus no centro de Porto Velho Saudita detido por engano na França diz que se sentiu como 'animal em zoológico' Estudo traz primeiros resultados 'promissores' de vacina de RNA mensageiro contra Aids Iphan declara o forró como Patrimônio Cultural do Brasil Twitter Facebook instagram pinterest