ATAQUE Massacre no Mali: operação contra jihadistas é acusada de matar centenas de civis com ajuda russa Publicada em 04/04/2022 às 15:03 Durante cerca de uma semana, forças militares do Mali e milícias russas invadiram uma cidade no centro do país em uma operação, a princípio, contra jihadistas. O exército clama o sucesso da ação, que teria matado 203 islamistas. No entanto, a ONG Anistia Internacional denuncia um massacre contra civis que teria assassinado até 500 pessoas. O ataque dos militares malianos com apoio da milícia russa na cidade de Moura, no centro do Mali, começou em um domingo, dia em que agricultores e pastores se reúnem em uma grande feira para vender seus produtos. De acordo com fontes locais, o ataque começou com tiros vindos de, ao menos, três helicópteros. A operação, iniciada no dia 27 de março, só terminou dias depois. A partir daí, as versões se distanciam. Em uma declaração dada na sexta à noite, o exército do Mali disse ter "neutralizado" mais de 200 jihadistas durante esta "operação de grande escala" contra um enclave "terrorista". No entanto, muitos testemunhos coletados pela RFI e por organizações de direitos humanos relatam múltiplos abusos: execuções sumárias de civis, casas queimadas e mulheres estupradas. "Todas as pessoas com quem falamos dizem que não houve combate, houve um ataque por helicóptero. A cidade ficou sitiada durante mais de cinco dias. O exército do Mali tomou o vilarejo, invadiu casas, executou muitos civis e forçou diversos feirantes em Moura a cavar valas comuns para enterrar todas essas pessoas assassinadas durante a operação", denuncia Ousmane Diallo, responsável pela Anistia Internacional na África do Oeste. No domingo (3), o Departamento de Estado dos EUA publicou um comunicado alertando para a possível presença de milicianos russos do grupo Wagner na operação. "Estamos preocupados com os diversos relatórios que apontam a inexplicável presença de forças do Grupo Wagner, apoiado pelo Kremlin", afirma o texto. Os EUA pedem acesso imediato da ONU ao território para "conduzir uma investigação rigorosa, conforme determinado pelo Conselho de Segurança da ONU. A falha em fornecer uma contabilidade completa e credível dos fatos e da prestação de contas só servirá para semear divisões na sociedade do Mali, minar a credibilidade, legitimidade e reputação das Forças Armadas, levar as comunidades para as mãos de grupos extremistas violentos e criar condições para mais violência", termina o comunicado. Em Bruxelas, o Alto Representante da União Europeia, Josep Borrell, classificou como muito preocupantes os relatos da "morte de centenas de pessoas no vilarejo de Moura" e reforçou o pedido de uma investigação independente. O Mali, país da África do Oeste com 19 milhões de habitantes, vive desde 2012 sob constantes ataques de grupos jihadistas ligados a Al-Qaeda e ao Estado Islâmico. Soldados brancos perseguem homens de barba Testemunhas que acompanharam a tomada da cidade afirmam que a operação foi feita por helicópteros com soldados brancos, que desceram sob telhados do vilarejo. Um morador de Moura, em entrevista ao jornal Libération, conta que os soldados brancos falavam uma língua desconhecida e abriram fogo indiscriminadamente contra quem estava na feira de rua. "Todos os comerciantes que fugiram em pânico foram baleados", disse. Após esse primeiro ataque, os homens foram feitos prisioneiros e divididos em três grupos, ainda conforme a reportagem: terroristas, terroristas suspeitos e colaboradores suspeitos. Homens com barba e calças eram imediatamente classificados como terroristas e assassinados. As Forças Armadas do Mali contradizem essa versão, e afirmam que atacaram o local por terem informações sobre uma reunião jihadista que aconteceria ali naquele momento. Além disso, os militares afirmam que os islamistas teriam sido mortos durante um intenso combate. A informação de que houve combate é contestada por testemunhas e por organizações de direitos humanos. "Se houvesse centenas de jihadistas armados, teria havido mortes de ambos os lados. Entretanto, a comunicação do exército não menciona nenhum soldado morto ou ferido durante a operação", destaca o irmão de um dos presos ouvido pelo Libération. Milícia russa apoia governo de transição Após um golpe de Estado no Mali, o governo militar de transição tem sido acusado por países como EUA e França de pagar pelo apoio de milícias russas do grupo Wagner para manter seu poder no país. Informação que os militares do Mali negam. No entanto, grande número de bandeiras russas são vistas no país há meses, inclusive em manifestações em apoio às Forças Armadas. Nas últimas semanas, a área central do Mali vinha sendo palco de confrontos entre diferentes organizações armadas presentes no território, fazendo centenas de vítimas civis. Em 15 de março, a Human Rights Watch (HRW) denunciou uma "nova onda de execuções de civis", bem como saques comandados por militares e por rebeldes jihadistas no país. Fonte: RFI Leia Também Massacre no Mali: operação contra jihadistas é acusada de matar centenas de civis com ajuda russa Prefeitura mantém os trabalhos de infraestrutura com diversas frentes de serviços na capital Cerca de 70 parlamentares trocaram de legenda na janela partidária Putin restringe concessão de vistos à União Europeia e a outros países europeus Não é preciso nudez para caracterizar exposição de menor, decide STJ Twitter Facebook instagram pinterest