DIREITOS HUMANOS Morre pesquisador Marcelo Zelic, defensor dos povos indígenas Publicada em 09/05/2023 às 08:22 Morreu nesta segunda-feira (8), aos 59 anos, o pesquisador Marcelo Zelic, que se dedicou à defesa dos direitos dos povos indígenas e um dos responsáveis pelos estudos sobre violências contra os povos indígenas realizados pela Comissão Nacional da Verdade. Zelic era vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e coordenador do Projeto Armazém Memória. O pesquisador sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Em abril deste ano, Zelic participou de uma audiência pública da Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais na Câmara dos Deputados, que tratou das violações de direitos humanos dos povos indígenas na ditadura militar. Em março, esteve em reunião em Brasília sobre a proteção dos direitos indígenas no país, junto com representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), da Comissão de Paz e Justiça da Arquidiocese de São Paulo (CJP/SP) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Recentemente, ele também conversou com a Rádio Nacional e falou sobre o uso da saúde indígena como estratégia da ditadura militar brasileira para ocupar territórios. Em nome da família, a filha do pesquisador, Helena, destacou ser preciso manter a memória, o trabalho e a luta do pai. “Ele trabalhou de domingo a domingo para colocar no ar centenas de milhares de documentos que pertencem à história dos nossos povos. Achou arquivos que ninguém antes tinha visto e, com isso, fez transformações importantes na nossa democracia. Lutou e enfiou muitos dedos na ferida para que se fizesse justiça, reparação e não repetição. Se rodeou de muita gente, entre indígenas e não indígenas, todos lutadores.” Spensy Pimentel, antropólogo e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia, colaborou ao lado de Zelic com o documento da Comissão Nacional da Verdade sobre os povos indígenas. Ele ressaltou a descoberta de Zelic do Relatório Figueiredo, documento produzido entre 1967 e 1968 pelo procurador Jader de Figueiredo Correia. As mais de 7 mil páginas traziam denúncias de extermínio de populações indígenas, casos de torturas e expulsões de território, muitos desses atos praticados por servidores do governo federal. “Havia uma resistência por parte das pessoas em reconhecer a existência de ligação entre a ditadura militar e as violações contra os povos indígenas. O Zelic tinha muita autoridade para dizer que a ligação existia e era perfeitamente visível na documentação. Embora seja muito difícil quantificar, dadas as características das violações, ele trabalhou para demonstrar que as agressões foram produtos do autoritarismo, tiveram natureza política e estavam diretamente conectadas com pessoas em Brasília.” A jornalista Renata Tupinambá, que atua na difusão das culturas e dos artistas indígenas, disse que Zelic tinha uma sensibilidade especial para entender as demandas dos povos originários. E reforçou a importância do projeto Armazém Memória, um acervo digital criado pelo pesquisador para resgatar a memória social, política e das lutas populares no Brasil. “As próximas gerações precisam ter noção de tudo o que ele fez, do que tornou público no projeto Armazém da Memória. São milhares de documentos mostrando todos os tipos de violações que envolviam a população indígena”, afirmou. “Ele estava sempre escutando as pessoas, resgatando documentos que comprovavam diferentes formas de violência e que eram importantes para demarcação de terras indígenas em diferentes partes do Brasil. Sempre compartilhava os documentos de coração aberto, buscando ajudar a todos. O trabalho de Zelic fez e fará a diferença na vida de muitas comunidades”. O Ministério dos Povos Indígenas lamentou, em nota, a morte de Zelic. Segundo a pasta, ele estava trabalhando em parceria para a “retomada de estudos e grupos de trabalhos que preservavam o processo e a importância de uma Comissão da Verdade Indígena”. O ministério reforçou que vai continuar a dar voz às ideias do pesquisador. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também emitiu uma mensagem de pesar e disse que um dos principais legados do pesquisador foi tornar públicas “centenas de páginas escritas de documentos sobre violações de direitos contra os povos originários”, destacando o trabalho recente de Zelic a respeito da tragédia humanitária no Território Indígena Yanomami e exigir investigações sobre crimes cometidos entre 2019 e 2022. O Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi) lamentou “a partida precoce” e agradeceu o legado deixado pelo pesquisador. “Era um ser de luz, sempre ajudando com generosidade, sempre pensando na justiça, nas causas maiores. É uma perda para o Brasil, sobretudo no momento em que o país tenta lidar com as tragédias provocadas por um governo genocida”. O Cimi divulgou nota onde, além de destacar momentos da biografia de Zelic, agradeceu a a ele por sua luta pela causa indígena e falou em orgulho por ter trabalhado ao seu lado. "O Cimi se orgulha por tê-lo como parceiro na luta pelos direitos dos povos indígenas. Pudemos contar com sua presença, alegre e entusiasmada, no Congresso em que celebramos nossos 50 anos. Deixamos a Marcelo o nosso carinhoso e fraterno agradecimento". O velório será realizado nesta quarta-feira (10), pela manhã, no Cemitério Congonhas, no Jardim Marajoara, zona sul da cidade de São Paulo. Fonte: Agência Brasil Leia Também Morre pesquisador Marcelo Zelic, defensor dos povos indígenas STF julga mais 250 denunciados por atos golpistas Lula participa de inauguração de linha de produção de caças Gripen Resultados dos pedidos de isenção da taxa do Enem 2023 estão disponíveis Líderes da região Norte do Brasil estão nos Estados Unidos debatendo questões sobre o clima e o futuro da Amazônia Twitter Facebook instagram pinterest