DISSEMINAÇÃO ILEGAL Acordo de Assange é ruim para liberdade de imprensa, diz autora de livro sobre WikiLeaks Publicada em 04/07/2024 às 15:08 SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, deixou a prisão em 24 de junho, considerado culpado pela disseminação ilegal de material que supostamente colocou em risco a segurança nacional dos Estados Unidos. Mas para a jornalista Natalia Viana, o acordo pela soltura do ativista é ruim para a liberdade de imprensa. "O governo Joe Biden entrará na história por obrigar uma pessoa a reconhecer culpa por um trabalho jornalístico usando a lei de espionagem contra o vazador. Ou seja, a notícia é boa em termos humanitários, mas é muito ruim em termos de liberdade de imprensa", diz. Viana é uma das fundadoras da Agência Pública e autora de "O Vazamento", livro que será lançado pela editora Fósforo e que conta os bastidores das revelações feitas pelo WikiLeaks e a participação dela no caso. A jornalista foi a única brasileira a estar na mansão do WikiLeaks em 2010, na cidade britânica de Norfolk, relatando os documentos vazados sobre o Brasil. Passou dez anos escrevendo o livro. "Demorei para finalizar a ideia desse livro, muito aficionada naquela visão de que nós, do jornalismo, não devemos ser notícia." O período na Inglaterra é um dos pontos centrais da obra. Viana conta sobre as paranoias de todos na casa e o medo de serem espionados: toda a equipe usava computadores sem acesso à internet. As baterias dos celulares eram removidas, por orientação de Assange. Escrito em primeira pessoa, o livro narra o convite a Viana para integrar a equipe do WikiLeaks, suas conversas com Assange, o impacto das publicações e suas angústias sobre o material que estava divulgando. "Demorou muito para eu entender que esse livro não era sobre o Assange ou sobre o WikiLeaks, mas sobre mim: como uma jovem jornalista brasileira entrou no maior furo da história." Apesar disso, o foco na figura de Assange é inevitável. A autora conta que ele é uma pessoa fissurada na própria imagem e duro no trato. "Julian estava vidrado nas notícias que corriam sem parar e pesquisava o próprio nome, obsessivo", relata ela na obra. O material revelado pelo WikiLeaks inclui informações sobre a atividade militar dos EUA no Iraque e no Afeganistão, além de telegramas confidenciais compartilhados entre diplomatas. Durante a campanha de 2016, o grupo ainda divulgou milhares de emails roubados do Comitê Nacional Democrata, levando a revelações que constrangeram o partido e a campanha de Hillary Clinton à Presidência dos EUA. As histórias sobre o Brasil diziam respeito à proximidade do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, chamado de "atipicamente militante" em prol dos americanos, além do interesse dos EUA na segurança da Copa do Mundo e das Olimpíadas e na descoberta do pré-sal. A divulgação ao longo dos anos foi feita em parceria com outros veículos, como a Folha de S.Paulo, além de jornais internacionais. No Brasil, Viana foi a responsável por firmar esses laços. A publicação de material vazado ainda gera discussões na imprensa sobre a relevância do conteúdo. Os casos Snowden e Vaza Jato, por exemplo, são baseados em documentação e conversas vazadas. Mas Viana considera que essa é uma questão pacificada. "A atuação na Vaza Jato foi bastante inspirada pelo WikiLeaks. O [site jornalístico The] Intercept recebeu documentos e chamou outros veículos para participarem. Isso foi um modelo inventado pelo Assange, e a Vaza Jato teve impacto político e judicial muito relevante." O livro estava programado para agosto, mas foi adiantado pela editora por causa do noticiário sobre Assange e já está disponível na Feira do Livro que ocorre na praça Charles Miller, em São Paulo. Há eventos de lançamento agendados para o dia 11, no Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e no próximo dia 10 de agosto, na livraria Megafauna, com a jornalista Renata Lo Prete. Questionada se pretende se encontrar com Assange a partir de agora, Viana diz que não conversa com ele há dez anos. "Mas tenho contato ainda com as pessoas do WikiLeaks, tenho afeto, carinho e acho que passados os primeiros meses [de sua libertação], tentarei revê-lo." O VAZAMENTO- Preço R$ 89,90 (344 págs.); R$ 62,90 (ebook) - Autoria Natalia Viana - Editora Fósforo Fonte: LUCAS MONTEIRO/NOTÍCIAS AO MINUTO Leia Também Acordo de Assange é ruim para liberdade de imprensa, diz autora de livro sobre WikiLeaks "Estraguei tudo", diz Biden sobre desempenho em debate contra Trump “Sindsef está presente para apoiar esta mobilização”, declara presidente no primeiro dia de greve dos servidores do Ibama, ICMBio e SFB Banco do Brasil e Banco da Amazônia concedem crédito a pecuaristas acusados de grilagem em Rondônia Eleições 2024: saiba mais sobre o limite de gastos e consequências para candidatos que ultrapassarem teto Twitter Facebook instagram pinterest