JULGAMENTO Amigo do francês que drogava a mulher para estupro coletivo "copiou" método e fez o mesmo com sua esposa Publicada em 18/09/2024 às 09:22 Um amigo do francês Dominque Pélicot, que drogou a mulher por 10 anos para que outros a estuprassem, afirmou nesta quarta-feira (18) durante o julgamento do caso que copiou o método e o aplicou também com sua esposa. O homem, identificado como Jean-Pierre Marechal, de 63 anos, é um dos que estão sendo ouvidos como réus no julgamento. Ele prestou depoimento nesta quarta e, durante a fala, confessou também ter drogado sua esposa para que outros homens a estuprassem. Um deles, disse Marechal, foi o próprio Dominique Pélicot. Ele relatou que Pélicot o ajudou a drogar sua esposa, Cilia Marechal. Filha Na terça, Dominique Pélicot disse durante seu julgamento nunca ter abusado de sua filha. As suspeitas surgiram depois que fotos dela nua foram encontradas no computador do pai. O idoso de 71 anos, no entanto, negou ter feito as imagens. "Nunca toquei na minha filha, nunca olhei assim para ela. Caroline, eu nunca te droguei ou estuprei. Eu nunca fiz isso", disse em depoimento. Questionado sobre quem poderia ter feito as fotos então, Dominique disse não saber, o que irritou a filha. “Você está mentindo”, acusou ela, olhando diretamente nos olhos dele, furiosa, segundo a imprensa local. O que sabe sobre o caso da francesa que foi drogada pelo marido e violentada por mais de 50 homens sem saber Na primeira semana de julgamento, Caroline chorou duas vezes ao falar sobre o momento em que descobriu os crimes do pai. Em 2022, ela lançou o livro "Et j'ai cessé de t'appeler papa" —em português, "Deixei de te chamar de pai". "Amava meu pai, amava a imagem do homem que eu achava que conhecia. Um homem saudável, amável, respeitado. Descobri que o homem que era meu pai, em que eu tinha total confiança, que achava que era íntegro, que respeitava sua filha, que estava orgulhoso dela e que sempre a havia animado, na verdade havia me fotografado nua sem eu saber", lamentou. O depoimento de Dominique ocorreu após uma semana de atraso, por causa de problemas de saúde. Ele se declarou culpado de todos os crimes dos quais é acusado e admitiu: "Eu sou um estuprador, como todos os que estão nesta sala. Eles não podem dizer o contrário". Presente na audiência, a mulher dele e mãe de Caroline, Gisèle Pélicot, reagiu às primeiras declarações do ex-marido. “Para mim é difícil ouvi-lo. Durante 50 anos vivi com um homem que não teria imaginado nem por um segundo que pudesse fazer isso. Eu tinha total confiança neste homem”, lamentou. Após a fala da ex-mulher, Dominique pediu perdão a ela e disse que ainda a ama, apesar dos crimes que cometeu: "Eu era louco por ela, ela se tornou aquela que substituiu tudo. Eu a amava imensamente, como ainda amo. Eu a amei bem por 40 anos e a amei mal por 10. Eu estraguei tudo, perdi tudo. Eu nunca deveria ter feito isso". Ao sair do tribunal, no intervalo da audiência, após ouvir o depoimento de Dominique, Gisèle foi muito aplaudida por dezenas de pessoas que estão no local para apoiá-la e recebeu um buquê de flores (veja acima). Com um sorriso no rosto e agradecendo as palavras de apoio que recebia, ela preferiu não dar declarações à imprensa, no entanto. Gisèle contraiu quatro infecções sexualmente transmissíveis em consequência dos abusos. A revelação foi feita pela perita responsável pela avaliação clínica e ginecológica dela durante o quarto dia de julgamento. "Ela escapou milagrosamente da contaminação pelo HIV e pelas hepatites B e C, mas contraiu quatro doenças sexualmente transmissíveis, necessitando de tratamento com antibióticos, incluindo um por via intramuscular", afirmou a médica. No mesmo dia, ela também falou pela primeira vez sobre tudo que sofreu: "Assisti a todos os vídeos. Não são cenas de sexo, são cenas de estupro; dois, três deles sobre mim. Fui sacrificada no altar do vício. Quando vemos essa mulher, drogada, maltratada, morta na cama... Claro que o corpo não está frio, está quente, mas eu estou como se estivesse morta. Esses homens estão me contaminando, aproveitando-se de mim", declarou. Além do ex-marido, que pode pegar até 20 anos de prisão, mais 50 homens, com idades entre 26 e 74 anos e perfis diversos, respondem pelos crimes que estão sendo julgados; 18 deles estão em prisão preventiva. Ao serem questionados pelo juiz, 35 réus se declararam inocentes e 13, culpados. Um deles está foragido e outro não compareceu ao tribunal. Ao ser questionada sobre os 35 que alegam inocência, Gisèle não poupou os abusadores e ressaltou o fato de nenhum deles ter denunciado o que ela vinha sofrendo. "Que eles reconheçam os fatos, o contrário é insuportável. Que eles tenham, pelo menos uma vez na vida, a responsabilidade de reconhecer seus atos. Estes senhores permitiram-se entrar na minha casa, não me violaram com uma arma apontada à cabeça. Estupraram-me com toda a consciência. Por que não foram à delegacia? Até um telefonema anônimo poderia salvar minha vida", afirmou. A divulgação do caso ao público foi uma escolha de Gisèle, de 72 anos. Segundo um de seus advogados, ela renunciou ao seu direito ao anonimato para que “isso nunca mais aconteça” e porque um julgamento a portas fechadas era "o que seus agressores queriam”. Segundo a imprensa que acompanha o caso, durante todo seu depoimento, que durou duas horas antes de um intervalo para almoço, a francesa se mostrou firme. No entanto, ao juiz, ela admitiu: "Dentro de mim sou um campo de ruínas. A fachada é sólida, mas por trás dela..." Gisèle Pelicót descobriu os estupros no dia 19 de setembro de 2020. Após o marido ser flagrado filmando sob as saias de três mulheres em um supermercado, ela foi intimida a depor na delegacia e um policial a mostrou uma das imagens encontradas no computador de Dominique. "Em 50 anos não tivemos uma vida linear, mas sempre nos mantivemos unidos. Problemas financeiros, problemas de relacionamento, problemas de saúde... Sempre apoiei meu marido. Tenho um sentimento de nojo, tínhamos tudo para sermos felizes, tudo. Não entendo como ele conseguiu chegar a isso”, lamenta. A maioria dos 50 coacusados pelos crimes esteve apenas uma vez na casa do réu principal, na cidade de Mazan, no sul da França. Dez deles estiveram até seis vezes no local. O marido da vítima não pedia dinheiro em troca. Os acusados não sofrem patologias psicológicas significativas, embora tenham um sentimento de "onipotência" sobre o corpo feminino, segundo especialistas. Muitos afirmam que acreditavam estar participando das fantasias do casal. Segundo o marido, "todos sabiam" que sua esposa estava drogada sem o seu consentimento. Segundo a investigação, "cada um dispunha de seu livre arbítrio" e poderia ter "partido" ao perceber a situação. Os investigadores identificaram 92 estupros desde 2011, quando o casal vivia na região de Paris, mas principalmente a partir de 2013, ao se mudarem para Mazan, até 2020. O ex-funcionário da empresa de energia elétrica EDF administrava um ansiolítico forte à esposa e determinava que os homens, contatados no site de encontros coco.fr - já desativado - não a acordassem. Também os orientava a não usar perfume ou tabaco, aquecer as mãos com água quente e tirar a roupa na cozinha, para evitar que fossem esquecidas no quarto. Fonte: G1 Leia Também Israel avisou EUA sobre explosão de pagers do Hezbollah, diz agência; número de mortos sobe para 12 Amigo do francês que drogava a mulher para estupro coletivo "copiou" método e fez o mesmo com sua esposa Horário de verão tem apoio de 54,9% da população, diz estudo Chefes dos Três Poderes discutem aumento de penas a crimes ambientais Governo anuncia R$ 514 milhões para combater incêndios florestais Twitter Facebook instagram pinterest