"ATROCIDADES COMETIDAS" Brasileiros precisam conhecer crimes de Putin, diz ucraniana Nobel da Paz Publicada em 14/11/2024 às 15:52 Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2022 com a ONG que preside, a advogada ucraniana Oleksandra Matviichuk, 41, embarca nesta quinta (14) para o Brasil, onde, segundo sua assessoria, está prevista sua participação em eventos paralelos ao G-20. Ela disse à Folha de S.Paulo, durante o Fórum de Paris pela Paz, que pretende mostrar aos brasileiros o que considera como atrocidades cometidas pelo Exército russo em seu país. A ONG fundada por Matviichuk, o Centro pelas Liberdades Civis, afirma ter documentado 80 mil crimes de guerra. Uma das denúncias é a suposta deportação forçada de 20 mil crianças ucranianas, adotadas por famílias russas. "Planejo contar essas histórias para as pessoas no Brasil." Ela pleiteia a criação de um tribunal internacional para julgar o presidente Vladimir Putin e outras autoridades russas. PERGUNTA - O presidente Lula tem afirmado que a guerra é culpa de ambos os lados, o que tem lhe rendido críticas. A sra. está indo ao Brasil no período em que o país receberá a cúpula do G20. O que vai dizer ao público brasileiro? OLEKSANDRA MATVIICHUK - Não é muito fácil falar sobre política quando não se é político. Eu vou falar sobre pessoas. Vou falar sobre a dimensão humana desta guerra. Como esta guerra é para os civis. Planejo levantar a questão das dezenas de milhares de crianças ucranianas deportadas ilegalmente para a Rússia, onde elas são levadas à força para campos de reeducação e informadas de que não são crianças ucranianas, e sim russas, que os pais as rejeitaram e agora elas serão adotadas por famílias russas, que vão criá-las como russas. Planejo falar desses bombardeios e ataques propositais a prédios residenciais, escolas, igrejas, museus e hospitais. Provavelmente as pessoas no Brasil não sabem que leva apenas 42 segundos para os foguetes russos atingirem uma escola em Kharkiv. Quando você tem 42 segundos e seus filhos na escola, é muito menos tempo para seus filhos se esconderem, e você tem um entendimento claro de que provavelmente em 42 segundos seus filhos morrerão. Então, planejo trazer a dimensão humana porque sou uma advogada de direitos humanos. P - Celso Amorim, assessor diplomático de Lula, disse neste fórum em Paris que talvez com Trump haja um vislumbre de esperança. A sra. está otimista ou pessimista em relação à sua causa? OM - A esperança é importante, mas não é uma estratégia. Temos que desenvolver uma estratégia conjunta. Quando um país com forte potência militar e armas nucleares rompe a ordem internacional, dita suas regras para toda a comunidade internacional e até viola ordens reconhecidas internacionalmente, não é apenas um problema ucraniano. Se Putin tiver êxito, isso encorajará outros líderes autoritários em diferentes partes do globo a fazer o mesmo e podemos nos encontrar em um mundo que será perigoso para todos, sem exceção. P - Fala-se na criação de uma zona desmilitarizada, que seria uma solução para a paz. A sra. acredita nesta proposta? OM - Temos que falar sobre garantias de segurança reais, sobre ferramentas reais para impedir que a Rússia vá mais longe. Tudo o mais é apenas discussão teórica ou pensamento positivo. P - A sra. acha que a União Europeia deveria ter um papel militar nesta guerra? OM - Não apenas militar. Sou uma advogada de direitos humanos e provavelmente isso soa muito ingênuo, mas temos que falar sobre moral, temos que falar sobre humanidade, temos que falar sobre justiça. Isso é algo que também temos que trazer à mesa. Sim, a Ucrânia precisa de soldados e patriotas para proteger seu espaço aéreo e defender cidades e civis, mas também precisamos de um tribunal especial, porque todas essas atrocidades que documentamos são apenas resultado da decisão de Putin de começar esta guerra de agressão. Ele cometeu crimes contra a paz. Ele tem que ser responsabilizado. P - Como sua organização documenta os supostos crimes de guerra russos? OM - Quando a guerra em grande escala começou, unimos nossos esforços com dezenas de organizações regionais e construímos uma rede nacional de documentadores locais. Cobrimos o país inteiro, incluindo os territórios ocupados. E trabalhando juntos nesses dois anos e meio de guerra, nós documentamos em conjunto mais de 80 mil episódios de crimes de guerra. Sejamos claros, não são apenas violações de Genebra e suas convenções. Nós documentamos a dor humana. São 80 mil histórias humanas. E eu planejo contar as histórias para as pessoas no Brasil. P - A Folha de S.Paulo está mostrando em uma série de reportagens como a Rússia está aumentando sua presença nas regiões ocupadas. OM - A Rússia é um império. Um império tem um centro, mas não tem fronteiras. O império sempre tenta se expandir. Putin não precisa apenas de mais terras no Donbass [região do leste da Ucrânia]. Ele quer restaurar o império russo. Então temos que entender o objetivo da Rússia muito claramente. Não se trata apenas de mais territórios orientais da Ucrânia. Ele pensa em como enraizar isso na história. P - Então a sra. acha que essa situação pode ser revertida? OM - Eu acho que o mundo anterior entrou em colapso e não podemos retornar ao status quo. Temos que trabalhar duro para construir um novo sistema coletivo de paz e segurança na região e no mundo. P - A sra. defende a entrada da Ucrânia na Otan? OM - Acho que a Ucrânia merece se juntar à Otan. Porque a Ucrânia não será apenas uma beneficiária, mas uma forte contribuinte para a segurança na aliança. E não são apenas palavras, nós provamos isso no campo de batalha. Fonte: NOTÍCIAS AO MINUTO Leia Também Brasileiros precisam conhecer crimes de Putin, diz ucraniana Nobel da Paz EUA anunciam sanções a conglomerado sírio que seria financiador da Guarda Revolucionária iraniana Guerra de Israel em Gaza tem características de genocídio, diz ONU Haddad critica imprensa por cobertura sobre desoneração fiscal MPRO publica edital para eleição ao cargo de Procurador-Geral de Justiça Twitter Facebook instagram pinterest