OPINIÃO Confúcio e suas contradições políticas: do equilibrista em cima do muro à “guerreiro bolchevique” da esquerda Publicada em 30/09/2025 às 09:58 Confúcio Moura: de "sabão neutro" à "guerreiro bolchevique" / Charge-IA Porto Velho, RO – O senador Confúcio Moura (MDB-RO) publicou recentemente um artigo em que afirma que “um político precisa ter lado, precisa ter posição. Não dá para ‘vaselinar’, ficar rodando sem rumo, feito galinha tonta”. O texto busca apresentar uma postura de firmeza e clareza de convicções, mas a trajetória do parlamentar expõe um contraste evidente entre o discurso atual e a prática de anos anteriores. LEIA Político tem que ter lado e posição E AINDA Confúcio Moura finalmente sai de cima do muro direto para os braços de Lula e do PT; senador rechaçou veementemente os ‘‘freios’’ da direita VEJA TAMBÈM Personalidade política de Confúcio ressurge em ano pré-eleição: ex-governador assume postura enérgica para defender Lula O Brasil passou por uma guinada política significativa em 2013, com as Jornadas de Junho, que inauguraram um período de polarização explícita entre direita e esquerda. A partir dali, a ambiguidade passou a ser cada vez menos tolerada pelo eleitorado. Ainda assim, Confúcio preferiu permanecer no centro, evitando atritos diretos, sobretudo em Rondônia, estado de forte predominância conservadora. Em 2014, ano em que disputava a reeleição ao governo, se o emedebista tivesse avisado que criaria, em 2018, e de última hora, 11 reservas ambientais, decisão que repercutiu fortemente, certamente não teria o mesmo êxito. E não se critica aqui o ato administrativo, mas sim a ausência de clareza junto ao próprio eleitorado e à população de modo geral. Caso tivesse se declarado progressista à época, opositor da ditadura militar e aliado de causas ambientais com a mesma veemência que hoje demonstra, dificilmente teria assegurado a vitória eleitoral naquele contexto. A postura conciliatória garantiu sobrevida política, mas também consolidou a imagem de quem preferiu o silêncio estratégico a posicionamentos claros. A mesma dinâmica se repetiu em 2018, quando conquistou o mandato de senador. Durante os quatro anos de Jair Bolsonaro (PL) na presidência, Confúcio manteve-se discreto. As críticas que fez foram amplas, pontuais e quase sempre genéricas, muitas vezes evitando até mencionar o nome de Bolsonaro. Limitava-se a falar em “o presidente” ou em “o governo”, sem se envolver em enfrentamentos diretos. Nos registros públicos, destacam-se dois episódios mais contundentes. Em março de 2020, no auge da convocação de manifestações contra Congresso e STF, Moura disse que “o presidente precisa esclarecer, sem meio-termo, que não apoia” atos dessa natureza, classificando como “inconcebível” que um chefe de Estado desafiasse outras instituições. Poucas semanas depois, em 25 de março, criticou o pronunciamento presidencial sobre a pandemia, afirmando que a fala “o coloca em conflito dentro do próprio governo”, ao citar a contradição com o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Ainda assim, os ataques cessaram rapidamente e nunca se repetiram com igual ênfase. No restante da gestão, Moura optou por observações mais brandas, como quando alertou contra a politização das vacinas, dizendo em 2020 que “não podemos permitir que se politize uma das vacinas. Todas serão bem-vindas”. Em outras ocasiões, chegou a votar contra pautas caras ao Planalto, como o decreto de flexibilização de armas em 2019, mas sem transformar essas posições em bandeiras políticas. O padrão foi de cautela calculada, mantendo-se distante de um enfrentamento direto com Bolsonaro. Foi apenas em dezembro de 2023 que Moura assumiu publicamente a base do governo Lula, declarando-se alinhado à esquerda e rechaçando a ditadura militar, a qual chamou de “um horror”. A guinada soa como adesão tardia, motivada não por convicções recém-descobertas, mas pela conjuntura: a derrocada do bolsonarismo, agravada pelo enfraquecimento de seu principal líder, hoje condenado a 27 anos de prisão e sob risco iminente de encarceramento. Nos últimos meses, Confúcio adotou uma postura mais enérgica, exaltando investimentos do governo federal em Rondônia e posando ao lado do presidente em atos oficiais. O Rondônia Dinâmica registrou a mudança em diferentes editoriais, apontando que sua personalidade política se transforma à medida que se aproximam novas eleições. Em abril de 2025, por exemplo, o senador já discursava em tom inflamado, declarando que “é muita coisa. Vocês precisam saber a verdade. Precisam saber realmente o que está sendo feito em investimento em Rondônia. Valores de recursos como nunca houve antes”. Essa transformação reforça a crítica à incoerência. O mesmo político que evitou se posicionar de forma clara quando o país enfrentava sua mais grave crise sanitária em décadas, agora se coloca como defensor frontal do governo petista. A coragem, portanto, não surgiu em meio às adversidades, mas apenas quando a maré política sinalizou que seria seguro nadar em direção à esquerda. Confúcio Moura parece querer renovar por mais oito anos sua carreira parlamentar — o mandato de senador vai até 2026 — abraçando de vez o campo progressista. Essa escolha é legítima, mas precisa ser acompanhada de honestidade histórica. Não cabe atribuir ao passado uma coerência inexistente. Se hoje ele critica os que “mudam de opinião ao sabor do vento”, deve reconhecer que sua própria trajetória se insere justamente nesse movimento. O emedebista, ao final, quer surfar no ressurgimento da esquerda como movimento de massas, mas precisa fazê-lo sem hipocrisia. A política exige lado e coragem, como ele mesmo escreveu. A diferença é que essa coragem deveria ter aparecido antes, quando custava caro se expor, e não agora, quando o cálculo eleitoral aponta que estar ao lado de Lula pode render dividendos em um estado acostumado à hegemonia conservadora. Afinal, não dá pra ser neutro como sabão a vida inteira, e, do nada, chegar de cosplay de bolchevique pagando de militante declarado. Fonte: Redação | Rondônia Dinâmica Leia Também Delegado Camargo é autor da lei que garante assentos preferenciais para pessoas com deficiência, mobilidade reduzida, idosos e gestantes Confúcio, o contraditório: de em cima do muro à “guerreiro bolchevique” da esquerda de Rondônia Veto de Lula deixa Cassol e Gurgacz fora; Confúcio sofre pressão; e preconceito dificulta Eduardo Leite Ezequiel Neiva destaca inauguração de ponte para escoamento de grãos em Corumbiara e Cerejeiras Deputado Alan Queiroz solicita recuperação urgente da RO-140, no município de Rio Crespo Twitter Facebook instagram pinterest