Por G1
Publicada em 20/08/2019 às 14h53
A procuradoria de Agrigento, na Itália, ordenou nesta terça-feira (20) a apreensão do navio de resgate Open Arms e o desembarque dos cerca de 100 migrantes a bordo. Mais cedo, alguns dos ocupantes se jogaram no mar, em desespero.
O navio espanhol esteve parado no Mar Mediterrâneo perto da ilha italiana de Lampedusa nos últimos 19 dias. Os responsáveis pela embarcação vinham pedindo para desembarcar os migrantes, mas o governo italiano permitiu, no sábado, apenas o desembarque de 27 menores que estavam desacompanhados.
Segundo o jornal "Corriere della Sera", o procurador da cidade de Agrigento, Luigi Patronaggio, inspecionou o navio com uma equipe de médicos e chefes da capitania. Ele concluiu que as condições da embarcação eram ruins para que os migrantes continuassem ali.
"A situação no barco é explosiva, de máxima urgência", reconheceu Patronaggio, segundo a agência France Presse.
Desespero dos migrantes
A situação se agravou quando, em um gesto de desespero, quinze migrantes, alguns sem coletes salva-vidas, se jogaram no mar na manhã desta terça-feira para tentar nadar até Lampedusa.
"A situação está fora de controle", disse a organização Proactiva Open Arms no Twitter.
Para tentar amenizar o impasse, o governo da Espanha anunciou o envio de uma embarcação militar para recuperar os migrantes do Open Arms. Não está claro o que ocorrerá após a decisão da promotoria italiana.
19 dias de espera
Alguns dos migrantes estão a bordo do Open Arms há 19 dias, igualando o recorde dos migrantes resgatados pelo SeaWatch3 no final de dezembro, antes de atracar em Malta em 9 de janeiro.
Diante da recusa de Roma em deixá-los desembarcar na ilha, o governo da Espanha propôs, no domingo, que a embarcação navegasse até o extremo sul espanhol. A ONG, porém, considerou a ideia "absolutamente irrealizável".
O governo espanhol propôs então que o navio chegasse às Ilhas Baleares, no Mediterrâneo. Apesar de mais próximas das Ilhas Baleares, a proposta também foi rejeitada pela ONG por causa dos três dias de navegação necessários para chegar ao arquipélago espanhol.
Em uma entrevista publicada nesta terça-feira pelo jornal "El Pais", o fundador da Open Arms, Oscar Camps, pediu que os migrantes sejam autorizados a desembarcar em Lampedusa antes de serem transferidos de avião para a Espanha.
Impasse afeta política italiana
O celeuma em torno do navio humanitário ocorre em meio à crise política na Itália – que culminou na renúncia do primeiro-ministro Giuseppe Conte nesta terça-feira.
Isso porque o partido nacionalista A Liga, do ministro do Interior, Matteo Salvini, rompeu com o governo de coalização formado com o Movimento Cinco Estrelas. Com a base rachada, Salvini apostou no discurso contrário à acolhida dos migrantes que chegam em navios humanitários.
"A Itália não é mais o campo de refugiados da Europa", conclamou Salvini pelas redes sociais.
Conte, ao renunciar nesta terça-feira, acusou Salvini de arruinar a coalizão e arriscar a economia do país por interesses pessoais e políticos.