Por G1
Publicada em 26/02/2020 às 13h58
O funeral do ex-presidente do Egito, Hosni Mubarak, recebe honras militares no Cairo nesta quarta-feira (26). Aos 91 anos, ele morreu na terça-feira no hospital onde estava internado.
Mubarak dirigiu o país com mão de ferro por quase 30 anos. Ele deixou o poder em 2011, pressionado pela chamada Primavera Árabe.
Uma cerimônia oficial acontece na mesquita Al-Mushir Tantaui e depois o ex-chefe de estado será enterrado no túmulo familiar de Heliópolis, na parte leste da cidade da capital egípcia. Vários veículos blindados foram mobilizado para nos arredores, segundo relato da AFP.
Vários canhões foram alinhados diante da mesquita para que ele seja homenageado. Com retratos do ex-presidente e bandeiras egípcias em mãos, admiradores de Mubarak já estão a postos.
O país terá três dias de luto nacional a partir desta quarta, decretados pelo atual presidente Abdel Fattah al-Sissi. Assim como o falecido presidente, Al-Sissi é um militar à frente de um regime autoritário.
Mubarak nasceu em 1928, na província de Menoufia. Ele entrou na Força Aérea do Egito em 1950. Dois anos depois, os militares derrubaram o rei Farouk.
Em 1967, Israel quase acabou com a Força Aérea do Egito, durante a Guerra dos Seis Dias. Depois disso, Mubarak se tornou o líder da academia da aeronáutica de seu país, com a missão de reconstruí-la para responder ao vizinho inimigo.
Foi o que os egípcios fizeram em 1973. Mubarak teve um papel importante no planejamento do ataque surpresa contra Israel, na Península do Sinai –a ofensiva que deu início à guerra de Yom Kippur.
O presidente egípcio de então, Anwar Sadat, o recompensou com o posto de vice-presidente em 1975.
Sadat assinou um acordo de paz com Israel e foi assassinado por militantes islâmicos em 1981. Mubarak estava ao seu lado, mas escapou ileso.
Eleições sem concorrentes
Mubarak governou com base em uma lei de emergência que restringia direitos dos cidadãos. Seria uma medida para impedir a ação de militantes islâmicos.
Durante seu período à frente do Egito, Mubarak venceu três eleições como candidato único. Ele convocou uma quarta votação, em 2005, que admitiu rivais. Apesar de sair vitorioso também nessa ocasião, dessa vez ele foi acusado de ter manipulado o pleito.
Como presidente, Mubarak ordenou que o exército reprimisse motins de soldados nos anos 1980 e reconstruiu relações diplomáticas com outros países árabes, com quem o Egito havia rompido após o tratado de paz com Israel.
Em 1989, o Egito foi readmitido na Liga Árabe. A sede da entidade foi realocada para o Cairo.
Durante o tempo em que ficou no poder, Mubarak foi um mediador entre os israelenses e os palestinos. Isso fez com que ele se tornasse uma figura odiada no Oriente Médio.
Depois que o grupo radical Hamas tomou controle de Gaza, que faz fronteira com o Egito, em 2007, os egípcios apoiaram o bloqueio do território.
Atos violentos cometidos por radicais islâmicos no próprio país foram uma justificativa para manter o estado policial no Egito.
Houve ataques contra pontos turísticos em resorts no Mar Vermelho, e o próprio Mubarak escapou de atentados –em 1995, ele estava em um carro que foi alvejado na Etiópia.
Deposto em 2011
A população do Egito quase dobrou durante os 30 anos em que Mubarak esteve na presidência e a pobreza persistiu.
Reformas de mercado feitas pelo seu filho Gamal foram responsáveis por algum crescimento econômico nos últimos dez anos de Mubarak no poder. No entanto, o seu partido, o Partido Democrata Nacional, foi alvo de denúncias de corrupção.
Em uma votação contestada em 2010, o Partido Democrata Nacional venceu uma eleição parlamentar e passou a controlar 90% do Legislativo. A Irmandade Muçulmana perdeu seus assentos no Parlamento.
O Egito já tinha passado por ondas de protesto no passado que não tiveram resultados concretos.
Mas dessa vez havia algo diferente: na Tunísia, poucas semanas antes, manifestações em massa tiveram sucesso e incentivaram os egípcios a ir às ruas.
De início, Mubarak não deu muito espaço para as centenas de milhares de pessoas que foram à Praça Tahrir, no Cairo. Ele tinha a confiança de que os países do Ocidente não iriam abandonar um aliado.
Porém, os Estados Unidos apoiaram as manifestações e seus generais começaram a desertar, com receio de perder alguns privilégios.
O chefe de estado, então, prometeu se aposentar. Mas logo renunciou e acabou escapando para uma propriedade que ele tinha no litoral do Mar Vermelho.
“Eu e o Egito não vamos nos separar até que eu seja enterrado”, ele afirmou.
Prisão e julgamento
Dois meses depois, Mubarak foi preso por conspirar para matar manifestantes. Em agosto de 2011, começou um julgamento –ele comparecia às audiências visivelmente doente, e era colocado em uma cela.
Ele foi enviado à prisão de Tora, no Cairo. Mais tarde, foi removido para um hospital militar.
Em 2 de junho de 2012, o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Morsi, venceu as eleições.
Em 2014, o comando do Egito mudou de mãos uma vez mais. Um militar, Abdel Fattah al-Sisi, que é inimigo da Irmandade Muçulmana, derrubou Morsi.
Em 2014, o processo contra Mubarak foi abandonado. Três anos mais tarde, depois de um apelo da promotoria, ele foi absolvido e foi morar no bairro de Heliópolis, no Cairo.