Por Montezuma Cruz/Secom
Publicada em 08/04/2020 às 10h47
Na fila em frente à agência bancária na Avenida 7 de Setembro, em Porto Velho, a funcionária Aparecida pede encarecidamente à clientela, jovem, adulta ou idosa: “Use máscara, o senhor tem máscara? Sem ela, não entra, é lei”.
Perto da porta, dois frascos de gel sobre uma mesinha estão à disposição do cliente dos caixas eletrônicos. Agências bancárias estão fechadas. Por mais que os órgãos de comunicação divulguem a exigência da máscara, há pessoas nas calçadas que se esquecem disso e também da necessidade do distanciamento entre elas, na fila.
O uso de máscara também consta no Decreto nº 24.919 de 5 de abril de 2020, assinado pelo governador Marcos Rocha para regulamentar serviços e cuidados públicos durante o combate ao novo coronavírus (Covid-19) em Rondônia.
A venda de máscaras caseiras tem crescido em Porto Velho. Pessoas desempregadas movem pequenos ateliês, cuja produção sai a cada 24 horas. Se o artesão fornecer apenas dez máscaras por dia, ao preço de R$ 10, já garante renda bruta de R$ 200.
As máscaras mais conhecidas em Porto Velho na atual fase da pandemia são as de pano, porém, as cirúrgicas (usada em consultórios, clínicas e hospitais) são as mais eficazes, entre elas, a semi-descartável N95, vendida em lojas do ramo.
Não há máscaras cirúrgicas para toda a população nas grandes cidades, muito menos nas médias e nas pequenas.
O modelo N95 possui 95% de eficiência de filtração de partículas, com uso indicado para a proteção contra doenças por transmissão aérea, tais quais, tuberculose, varicela e sarampo, conforme lembra o médico infectologista da Policlínica Oswaldo Cruz, Armando Noguera.
“As máscaras de pano estão atualmente recomendadas pela Sociedade Brasileira de Infectologia para a população em geral, e é sempre bom a pessoa ter sempre uma ou duas dessas, alternando o uso, conforme a higienização”, diz Noguera.
Nenhuma máscara, porém, substitui o isolamento, ele ensina.
FÁBRICA DE MÁSCARAS POR TODO LADO
Em geral, entre os confeccionistas, a unidade varia entre R$ 5 e R$ 10. Tamanhos e modelos variam, conforme a técnica do artesão ou da exigência do cliente para formatos pequenos, médios e grandes.
Costureira e apaixonada por artesanato ela é há muitos anos, mas agora une o valor da solidariedade e a necessidade de se auto-sustentar e também participar dos esforços de controle da pandemia mundial.
Às 10h da manhã desta terça-feira (7), Maria Cleia Maria Moreira Montes, 68 anos, quatro filhos, moradora no Bairro Aponiã, em Porto Velho, está firme na máquina de costura. Ela fabrica máscaras artesanais de proteção, usando tricoline estampado.
“Ontem à noite, entreguei 20 máscaras a um funcionário das Finanças do Estado, agora estou aqui fazendo mais um tanto para um engenheiro da Seagri”, ela relata
Os pais de Cleia migraram do Ceará para Rondônia, nos anos 1950 trabalhando na agricultura. A família cresceu: “Somos sete irmãos, graças a Deus, todos com formação acadêmica e alguns servidores públicos; minha mãe foi professora leiga no território federal, tempos do coronel Aluízio Ferreira, deu-nos um bonito exemplo de vida”.
Psicóloga, no momento sem trabalhar no cotidiano de uma clínica, Cleia também tem diversos pacientes que, a exemplo dela, estão recolhidos em casa. “E todo mundo pagando contas, ou dando algum jeito de pagá-las, eu, inclusive”, conta.
Neste período de quarentena, ela experimentou confeccionar primeiro a própria máscara, depois fez a de uma neta, e em seguida, para toda família. Pronto, o negócio expandiu e ela passou a atender online.
Solidária, adaptou modelos mostrados no Youtube, adaptou-os, e mostrou às pessoas como faz as suas máscaras.
VOLUNTARIADO E NEGÓCIO
O artesão Francisco Leilson Celestino de Souza Filho, 43, do Bairro Eletronorte, explica a importância da máscara que ele fabrica com a esposa, Anísia, e a mãe, Nereide Manso: “Sigo as orientações de parâmetro técnico; a máscara profissional feita de pano e lavável é uma barreira física necessária, e as nossas seguem essa regra, para também colaborar nas atitudes de prevenção que as pessoas devem ter”, diz mostrando tecidos coloridos.
Dona Nereide passa a maior parte do dia na máquina. O ateliê funciona em sua própria casa, no mesmo bairro.
Antes de optar pela confecção de máscaras para venda Leilson e Anísia já cuidavam de idosos. “Temos uma amiga, a enfermeira Carla Paiva, do Cemetron (Centro de Medicina Tropical de Rondônia), e com ela iniciamos um trabalho voluntário”, relata.
O casal forneceu diversas botas cirúrgicas ao Cemetron e já programa a entrega de pijamas aos pacientes.
Coincidentemente, veio a pandemia, e o voluntariado também abriu espaço para que o artesanato doméstico também proporcionasse máscaras em série.
Francisco sugere às pessoas o conjunto “de pelo menos” cinco máscaras. “Cada máscara só pode ser usada por no máximo duas horas e deve ser trocada quando a pessoa transpira”, justifica.
Gleiciane Pczek, que estava desempregada, mas já se dedicava a produzir lacinhos, viu reportagem na internet com a indicação do Ministério da Saúde para o uso de máscaras de tecido. Decidiu fazê-las, inicialmente para a família, e na semana recebeu pedidos de amigos nas redes sociais. Uma empresa de Porto Velho solicitou-lhe quinhentas unidades.
CUIDADO ENTRE AS PESSOAS
► Se precisar sair de casa, a pessoa deve utilizar máscaras caseiras, como mais uma forma de se proteger do novo coronavírus. O uso das versões cirúrgicas segue indicado apenas para profissionais de saúde e casos específicos, de acordo com o governo brasileiro.
► Máscaras caseiras são menos eficazes, porém a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) admitiu que podem ajudar em cenários específicos.
► De acordo com documento oficial da Sociedade Brasileira de Infectologia, essa é uma maneira de diminuir a disseminação do vírus por indivíduos assintomáticos ou pré-sintomáticos. No entanto, ela não protege o usuário, já que não possui capacidade de filtragem.
► Médicos infectologistas explicam que máscaras caseiras devem ser um complemento aos cuidados tradicionais para evitar o novo coronavírus. No entanto, seu uso não nega a necessidade de lavar as mãos, de distanciamento físico, de ficar em casa, conforme pedem os governos federal e estadual.
► Atenção! Nenhuma máscara substitui o isolamento social ou quaisquer outras medidas. Inclusive, ela é menos eficaz do que lavar as mãos ou permanecer longe de outras pessoas no controle de novos casos da Covid-19.
CUIDADOS HOSPITALARES
► Lembre-se de colocar a máscara antes de entrar no ambiente de internação do paciente e só retirá-la após a saída dele.
► A máscara N95 é considerada semi-descartável por permitir o seu uso por mais de uma ocasião, mas deve ser individualizada. Ela pode ser guardada, para um próximo uso, em locais definidos pelo seu serviço/setor.
► Para a guarda, acondicione a sua máscara em um saco de papel ou em um saco plástico que tenha sido previamente furado com o uso da tampa da caneta.
► Sacos plásticos sem furos devem ser abolidos, pois podem permitir a umidade da máscara, funcionando como meio de proliferação de microrganismos, fungos, por exemplo.
► Identifique a sua máscara com o seu nome e data e a proteja mantendo a sua forma.
► A máscara não deve ser dobrada ou amassada, pois isso irá comprometer sua filtração.
► O profissional deve continuamente avaliar a adequada adaptação da sua máscara à face, a elasticidade de suas alças de fixação à cabeça bem como a integridade da sua estrutura.