Por Robson Oliveira
Publicada em 08/04/2020 às 07h50
COVID 19
A pandemia mundial provocada pelo coronavírus pôs em quarentena a maioria das divergências entre as correntes políticas dos país onde há um acirramento político. Mês passado, nos Estados Unidos, por exemplo, as principais manchetes noticiavam as prévias presidenciais do Partido Democrata para a escolha do candidato do partido a enfrentar Donald Trump, do partido Republicano.
INFECTADOS
Hoje, com o surto do COVID 19 em vários estados dos USA, a disputa eleitoral rumo à Casa Branca entrou em quarentena e o vírus assumiu as manchetes. No Brasil, ao que parece, o vírus da intolerância política disputa todos os espaços com o combate ao COVID 19, infectando, pelas redes sociais, uma parte considerável da população que aproveita esta insana disputa para disseminar mentiras e contaminar incautos. Chegamos a um grau de intolerância tão alto que até recomendação científica é questionada por comentaristas (patifes) de botequim, colocando em risco vidas. Enquanto o resto do mundo, por recomendação médica, receita o isolamento.
SENSAÇÃO
Qualquer cidadão lúcido, desapaixonado pelos grupos políticos (direita ou esquerda), quem tem um mínimo de visão crítica, percebe que as recomendações do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pela manutenção do isolamento como a prevenção mais eficaz ao COVID 19, são as mais sensatas e corretas. Embora o chefe, Jair Bolsonaro, todos os dias, conspire contra as recomendações ministeriais. A sensação, para uma boa parte da população, é que o mandatário da nação escapou da contaminação do coronavírus, mas perdeu a lucidez e está infectado pelo ódio ideológico.
DESPREPARO
Desde quando o Secretário de Estado da Saúde, Fernando Máximo, começou a conceder, quase diariamente, entrevistas para explicar as ações governamentais para enfrentar a crise sanitária, esta coluna fez críticas ao perceber que o secretário articulava bem as palavras, mas, de concreto, não explicava nada em relação às ações administrativas adotadas pela pasta que administra. Agora, eis que surge a informação, para desespero geral, de que a Sesau não se preparou para enfrentar o COVID 19. Faltam insumos e materiais básicos para aferir o número de testes solicitados. O número anunciado pela Sesau, conforme informações colhidas junto a especialistas, não reflete a realidade. Aliás, ninguém da Sesau sabe quantos são. Tempo houve para nos preparar já que assistimos a China, desde janeiro, enterrar seus mortos.
FLEXIBILIZAÇÃO
Há uma pressão enorme do setor produtivo, particularmente do informal, para que as autoridades flexibilizem a quarentena. É compreensiva tal pressão. O que as autoridades não podem é ceder a cada uma delas sem mensurar as consequências que hão de emergir na hipótese da reabertura de todo o comércio. Nem precisamos ser especialistas em infectologia para deduzirmos que a liberação de todas as atividades mercantis agora é a decretação do caos sanitário da capital: com prejuízo material e humano sem chance de recuperação. Autoridade que não aguenta pressão, em momento de crise aguda, não honra o cargo para o qual foi escolhido.
VAIDADE
Uma missiva escrita pelo médico Odair Ferrari, professor doutor da Universidade Federal de Rondônia, e endereçada ao colega Fernando Máximo, revelou que entre eles (médicos), especialistas ou não, o vírus da vaidade é uma praga tão letal quanto o coronavírus. Por mera vaidade o Secretário de Estado da Saúde optou pelo isolamento profissional para desprezar sugestões ou ajuda de colegas médicos para o combate ao COVID 19.
CARTA
Na carta, Ferrari se ressente da falta de interlocução com o secretário ao se recursar a responder uma proposta feita pela Departamento de Medicina da Unir, onde Ferrari responde como Diretor, que coloca quarenta alunos em estágio supervisionado e que vão se graduar nos próximos três meses à disposição da Sesau para atender à população em UTIs no CEMETRON, a custo zero e com o acompanhamento de quatro médicos especialistas da Unir, inclusive ele (Ferrari).
SILÊNCIO
O conteúdo da missiva rodou vários grupos hoje no estado, não apenas dos médicos. Diante do silêncio de Fernando Máximo, Ferrari desabafa: “ Perdi o respeito e a paciência com o senhor e seu apetite politiqueiro! Temos 40 quase médicos (internos) que devem cumprir mais três meses do estágio obrigatório para receberem seus diplomas! Todos foram afastados das atividades curriculares por conta das recomendações da OMS para “ficar em casa”. Já disse e reitero: podemos trazer estes quase médicos para o front e, após um breve treinamento, ajudar a salvar vidas! Podemos, inclusive, superar, rapidamente, algumas dificuldades e implantar aqui em nossa capital, protocolos de tratamento como soro de indivíduos sabiamente imunizados o que parece bastante promissor no combate à doença. Já ofereci, como Diretor do Departamento de Medicina da Unir, para auxiliar no enfrentamento desta pandemia que aterroriza e ceifa milhares de vidas em todo planeta! A doença avança impiedosa! Recebo como retorno suas respostas lacônicas, quase irresponsáveis! O senhor se tornou uma estrelinha midiática! O preço a pagar pode ser elevado e irreversível! Repense suas atitudes juvenis! Não seja um secretário dente de leite! Estamos lidando com o Bem Maior que é a Vida das pessoas que escolheram este canto de mundo para viver, criar a família e seus filhos! ....” O desabafo do professor revela o compromisso de nossa autoridade numa das áreas mais críticas do governo.
QUARENTENA
A coluna tentou ouvir o secretário de saúde Fernando Máximo, mas foi inútil e ao que tudo indica, ele optou pelo isolamento, assim como seu comandante. Tem sido assim desde que assumiram os destinos políticos de Rondônia. A marca até agora dos governantes da esfera estadual é evitar mídia e se comunicar pelas próprias redes sociais. E seguir esta turma em tempo real é como se fosse uma dose excessiva prescrita da droga.