![Ao menos 57 trabalhadores da construção civil morreram com coronavírus em SP, diz sindicato](/uploads/8oojyk21ckoxwr4.jpg)
Por G1
Publicada em 23/05/2020 às 09h50
Ao menos 57 trabalhadores da construção civil de São Paulo morreram com coronavírus, segundo o sindicato da categoria. O setor foi considerado atividade essencial e os operários da construção civil continuaram trabalhando durante toda a quarentena no estado.
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo (Sintrcon-SP), Antonio Ramalho, o número de vítimas pode ser ainda maior pois muitas construtoras não estão notificando a morte ou a confirmação de casos. Além disso, diz, há internações e certidões de óbito que apontam a doença como causa suspeita dos óbitos, sem a confirmação oficial.
Com apoio de incorporadoras, a entidade conseguiu testar 15 mil funcionários de obras - no total, estima-se que haja 680 mil trabalhadores na categoria no estado. Conforme Ramalho, dos 15 mil testados, 28% já tinham anticorpos contra a doença sendo que, destes, 60% não tiveram sintoma algum.
"Eu não sei se este dado é positivo ou negativo. É positivo porque mostra que muita gente não sofreu com a doença. Por outro lado, é negativo porque muitos deles trabalharam contaminados, repassando o vírus para sabe-se lá quantas pessoas no período de 14 dias de incubação da Covid", disse Ramalho ao G1.
"60% dos testados e que deram positivo já tinham imunidade e não sabiam", salienta.
Além de 39 funcionários do setor, o sindicato contabiliza ainda a morte de 11 mulheres, duas crianças filhos deles e 5 empresários da área. "Lamentavelmente, porém, as empresas estão escondendo as informações", acrescentou ele.
"Tivemos casos do segurança de uma obra que pegou a doença e passou para a mulher. Ele teve todos os sintomas- falta de ar, perda do olfato e do paladar. E se recuperou bem. A mulher dele morreu em dois dias, aos 35 anos, deixando um filho de 1 ano idade", disse Ramalho. Em outro caso, o chefe de obras de uma construtora morreu de Covid-19 - o chefe de obras têm contato com todos os operários, pois supervisiona a operação.
"Eu disse ao ministro da Economia, Paulo Guedes, certa vez: é de se questionar o motivo da construção civil ser serviço essencial. É essencial porque movimenta a economia, mantém empregos, e um grande número. Mas não é essencial do ponto de vista de necessário, ninguém come pedra brita, tijolo, cimento", brinca o presidente do Sintrcon-SP.
Com apoio de fiscais do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Ministério do Trabalho e Emprego, agentes do sindicato têm vistoriado obras para as quais haja denúncias de desrespeito às regras acordadas entre a categoria e os empregadores em março, buscando evitar a propagação do coronavírus. Pelo acordo, que foi incorporado à convenção coletiva da categoria, as obras deveriam fornecer aos operários máscaras de proteção, álcool em geral, fazer o distanciamento social e a testagem dos funcionários pela doença.
Só na capital paulista, o MPT já recebeu 8 denúncias de obras em que há desrespeito às recomendações das autoridades brasileiras e internacionais para evitar à propagação da doença.
Em um dos casos, um canteiro de obras com 1.200 operários foi paralisada pelo sindicato em 13 de maio na Chácara Santo Antônio, na Zona Sul de São Paulo. Após notificação do sindicato, a construtora é fiscalizada em caso de descumprimento das regras de segurança e de higiene e é aberta uma investigação pelo MPT.
"Vimos em uma obra um elevador com 60 operários, sendo que a recomendação era para os elevadores não levarem mais de 20. Recomendações aos funcionários para que, em construções de até 10 andares, eles optassem pelas escadas, para evitar aglomerações", afirmou Ramalho.
"Em muitas obras fiscalizadas encontramos operários jogando cartas e truco nos vestiários nos intervalos, sendo que nossa recomendação era para que ficassem a uma distância de 2 metros um do outro. Há também dificuldade em mantermos as condições de higiene em algumas construtoras: encontramos construção com uma pia para 50 operários. Isso é desumano", disse o presidente do sindicato.
O G1 questionou o sindicato patronal, o Seconci-SP, se gostaria de se manifestar sobre a contenção do vírus na construção civil paulista, e aguarda retorno.
O presidente do sindicato dos operadores da construção civil paulista acredita, porém, que há condições da categoria continuar trabalhando, desde que as recomendações das autoridades de saúde sejam cumpridas pelas empresas.
"O grande problema de tudo isso é que não houve conversa com a categoria antes de mantermos como serviço essencial. As coisas foram feitas de forma corrida, sem diálogo. Demorou-se para se adquirir equipamentos de proteção e a se tomar medidas. A máscara que o operário usa na rua não é a mesma da obra, são duas diferentes. Eu acho que há condições de se continuar trabalhando, desde que façamos testes em massa e que haja a medição da temperatura dos operários nas construções, além das medidas de prevenção", acrescenta Ramalho.
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