Por Notícia ao Minuto - Portugal
Publicada em 06/05/2020 às 11h33
"No dia 01 de maio, recebi várias mensagens sobre o mundo do trabalho e os seus problemas. Fiquei particularmente perturbado com as condições dos trabalhadores agrícolas, que incluem muitos imigrantes", disse o papa após a sua audiência tradicional de quarta-feira.
"Infelizmente, são muitas vezes explorados", referiu, adiantando que embora a crise afete todos, "a dignidade do povo deve ser sempre respeitada".
"Por isso junto-me ao apelo desses trabalhadores e de todos trabalhadores explorados e convido-os a aproveitar a oportunidade desta crise para dar prioridade à dignidade", acrescentou Francisco.
Todos os verões, milhares de trabalhadores agrícolas africanos, mas também búlgaros e romenos, dirigem-se para Itália para colher frutas e legumes.
São frequentemente mal pagos e, às vezes, vivem nos campos em condições de higiene deploráveis, sendo muitos deles explorados por organizações mafiosas.
Apesar de a convenção coletiva de trabalho na agricultura determinar que a jornada diária deve ser de 06:40 com uma remuneração de 50 euros por dia, os trabalhadores trabalham mais de oito ou 10 horas por dia, chegando às vezes às 14 horas.
Além disso, o pagamento é feito por quantidade colhida (3 ou 4 euros por cada 350 quilos), o que significa ganhar, muitas vezes, apenas 20 ou 30 euros por dia.
Atualmente, está em curso um debate político em Itália para regularizar grande parte destes trabalhadores agrícolas, essenciais para o circuito de produção e distribuição que permaneceu operacional apesar das restrições à atividade económica causadas pela pandemia. Trabalhadores domésticos ou auxiliares domésticos idosos também seriam afetados.
A ministra das Políticas Agrícolas, Teresa Bellanova, quer conceder permissões de residência temporária de seis meses para essas categorias de pessoas "invisíveis", que recebem "por baixo da mesa" - cerca de 600.000 pessoas -, no que é apoiado pelo ministro encarregado do sul do país, Giuseppe Provenzano, que fala de uma "modernização necessária do setor agrícola".
O Movimento Cinco Estrelas (antissistema), que faz parte da coligação no Governo, juntamente com o Partido Democrata (centro-esquerda), está, no entanto, a travar este acordo, propondo uma regularização mais restrita, enquanto os partidos de extrema-direita são contra o projeto.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 257 mil mortos e infetou quase 3,7 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de um 1,1 milhões de doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 1.089 pessoas das 26.182 confirmadas como infetadas, e há 2.076 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.
Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, alguns países começaram a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos a aliviar diversas medidas.
Os Estados Unidos são o país com mais mortos (71.078) e mais casos de infeção confirmados (mais de 1,2 milhões).
Seguem-se o Reino Unido (29.427 mortos, perto de 200 mil casos) Itália (29.315 mortos, mais de 213 mil casos), Espanha (25.857 mortos, mais de 220 mil casos) e França (25.531 mortos, mais de 170 mil casos).