Por Rondoniadinamica
Publicada em 04/06/2020 às 15h32
Porto Velho, RO – Na última quarta-feira (03), o Rondônia Dinâmica veiculou reportagem abordando o listão supostamente confeccionado por mulheres onde há imputações de crimes de ordem sexual a quase 120 homens.
Em menos de 24h, o número nas mensagens ainda distribuídas via WhatsApp já havia passado de 210.
CONFIRA A MATÉRIA DE ONTEM
Rondônia: listão com quase 120 nomes de homens acusados de assédios sexual e verbal, estupro, agressão e outros crimes é distribuído no WhatsApp
A veiculação teve desdobramentos de ordem institucional. A reportagem recebeu, de outra fonte anônima, diferente da primeira que havia encaminhado a lista inicialmente, documento constando a origem do grupo “Exposed (PVH) ❎ GRL PWR”. De acordo com a fonte em questão, o documento já está em posse tanto da Polícia Civil (PC/RO) quanto do Ministério Público (MP/RO).
O grupo foi criado através de uma pessoa utilizando número de celular com DDD 12, que abrange ao menos 38 municípios do interior de São Paulo.
Os diálogos somam 96 páginas de conversas travadas entre a criadora, não nominada, e diversas outras participantes (todos os telefones estão expostos, e as usuárias podem ser chamadas para depor caso a PC/RO instaure inquérito).
Inicialmente, os supostos crimes cometidos por quem confeccionou a lista e também através das mãos dos distribuidores das mensagens seriam de natureza privada, porquanto relacionados à ofensa contra a honra.
Neste cenário, cada vítima em potencial teria de contratar um advogado a fim de impetrar ação de natureza criminal no Poder Judiciário.
Entretanto, de acordo com membro do Ministério Público (MP/RO), há informações de que na lista constam nomes de adolescentes. Sendo assim, o órgão e também a PC/RO não só devem como têm a obrigação legal de investigar.
A reportagem aguarda o posicionamento da delegada responsável: o espaço está aberto à manifestação.
O que se discutiu no grupo?
Criado para discutir estratégias de publicação, o grupo não preservou a identidade de suas participantes [é possível encontrar relatos no documento com pessoas indicadas por nome e sobrenome, além do telefone celular].
A base do contato era estritamente a confiança.
Trecho do diálogo travado entre as representantes do grupo Exposed (PVH) ❎ GRL PWR [números e nomes foram suprimidos pela reportagem] / Divulgação
Em determinada passagem, um diálogo travado entre quatro pessoas, incluindo a criadora do grupo, exorta o suplício vivenciado por uma das integrantes, que aproveita o espaço para desabafar com as outras [a reportagem não corrigiu o texto abaixo, portanto transcreve o diálogo original a seguir sem identificação]:
[03/06/2020 01:41:27]
A:
eu tive uma briga com meu ex com um boy que espalhou nude meu porém como ele mentia pakas não tenho certeza, to esperando o nome dele aparecer na lista só pra não colocar injustamente..
[03/06/2020 01:41:32]
B:
não é preciso necessariamente namorar p passar por um relacionamento abusivo..
[03/06/2020 01:41:34]
C:
Muito boa essa iniciativa, conforta saber que a gente não tá sozinha nessa
[03/06/2020 01:42:01]
D:
[entra o texto-padrão com o objetivo do grupo/grifo nosso] Meninas, como já devem saber, está rolando uma corrente no whatsapp expondo os machos escrotos da cidade. Esse assunto é bem importante para termos uma noção do tipo de pessoa que temos ao nosso lado (podendo ser amigo, familiar). Diversas mulheres se juntaram pra conversar a respeito e chegaram à conclusão que isso deveria ser criado em Porto Velho, como está sendo criado em diversas outras cidades. O motivo disso aqui não é pra falar mal de alguém ou querer brincar com a vida de uma pessoa que não é culpada. Queremos apenas ajudar pra que outras mulheres não passem por isso! [esta mensagem, idêntica, aparece 17 vezes no documento/grifo nosso].
[03/06/2020 01:42:01]
D:
meninas, organizem. tá meio bagunçado já a lista. quem for adicionar, pega a última lista (atualizada).
___________
Confissões
Em outro momento da conversa, ao menos duas mulheres confessam ter incluído nomes na lista. O Rondônia Dinâmica suprimiu os números de telefone chamando a primeira de "E" e a segund de "F". Confira:
[03/06/2020 01:51:26]
E:
fora que tem uns que não dá nem de negar quem foi que colocou o nome ne.. tipo eu
F:
[03/06/2020 01:52:28]
gente eu to colocando na lista
[03/06/2020 01:52:32]
quem ta me mandando no pv
[03/06/2020 01:52:36]
jaja mando aqui
___________
Visão jurídica e ativista
O Rondônia Dinâmica ouviu Eduarda Meyka Ramires, advogada e feminista, a respeito do tema. Na visão dela, “é temerário expor pessoas. Extremamente temerário”.
Ele disse ao jornal que recebeu a lista. E assim que a recebeu, segundo ela, informou à pessoa que a encaminhou não ser um ato legal, nas acepções éticas e jurídicas da palavra.
“Pedi pra apagar [a lista], não repassar. Fiquei preocupada porque tenho irmã mais nova, que me informou: a maioria dali é formada por gente mais nova do que eu, enfim, podem ser adolescentes”. Eduarda diz ainda compreender o porquê da situação, embora não concorde.
“Entendo o começo da lista, talvez tenha sido pensada como uma espécie de rede de proteção. Compreendo o porquê. Pode ter sido concebida de boa-fé. Mas fazer justiça com as próprias mãos não justifica, nós temos um ordenamento jurídico com mecanismos próprios que resguardam a identidade da vítima e conferem punição real a quem de fato cometeu crimes desta natureza”, complementou. Ela entende que a listagem expõe pessoas e não se pode apontar o dedo nominalmente a quem quer que seja sem provas da conduta criminal.
Eduarda Meyka é advogada e militante do movimento feminista / Reprodução
“Pode ser que alguém ali tenha sido condenado, mas ninguém vai ter certeza. Para ter certeza é preciso pesquisar, checar, verificar, conferir se a sentença transitou em julgado. E mesmo assim...”.
A advogada disse que ela própria foi pivô em dois processos:
“Eu tenho dois casos, um deles já há condenação. O outro é do meu ex, que também tem condenação. Eu poderia colocar na lista, mas não acho que exposição assim seja boa. É um tipo de difamação.
Uma coisa é contar que você sofreu abuso, por exemplo, conversar pessoalmente com alguém, receber empatia, instrução, e aí tomar as medidas corretas. Outra é combater crime com crime.
“Fica a recomendação: se a mulher sofreu abuso ou com outra conduta apontada na lista, o mecanismo certo é a denúncia. Não é fácil, é difícil. Sou advogada, militante, há muitas pessoas mais novas do que eu ali. Não podemos tratar injustiça com outra injustiça. Não estamos fazendo nada além de cometer injustiça como essas pessoas supostamente cometerem. Se você foi vítima, sabe de alguém que sofreu abusos ou cometeu crimes assim, pode denunciar de maneira anônima via MP/RO ou na Delegacia da Mulher”, concluiu.
Gostaria de desabafar... Não é justo que essas "feministas de taubaté " usem e a abusem da coletividade para expor pessoas e difamar a indole dos mesmos. Meu nome entrou na lista, não sei como e por quem, há fortes indícios de que seja minha ex descontente com nosso abrupto rompimento. Há um certo ódio que foi propagado entre esse pequeno grupo de hipócritas, e pelo menos respondendo por mim, certamente existe um rancor que ainda não foi sanado. Minha ex questionada apenas respondeu que não deve satisfações da vida dela pra mim. Okay. Mas deve satisfação das mentiras propagadas que fere minha moral. Abusar de uma pessoa vai contra qualquer um dos meus princípios e etica moral, é nojento. E mais nojento ainda ser acusado de algo que eu abomino. Seja como for, a verdade sempre aparece. Sou feminista, tenho 24 anos, autonomo, não-binário, namorando com uma garota também feminista, mas é feminismo verdadeiro, real, sem hipocrisia, falso moralismo, sem exclusão e sem ódio. Apoio movimento comprometido com a honestidade. Não aprovo essa hipocrisia de usar um nome ou simbolo tão importante, como o feminismo, para disseminar uma vingança por causa de dores no cotovelo. Tornou-se podre na realidade aquela(e) que aderiu a esse facismo que está longe de ser genuíno. Na verdade está mais pro estrelismo das redes sociais. A sede de like dessas jovens são maior do que a de justiça. Por fim gostaria de deixar um conselho. Quer fazer justiça de verdade? Denuncie na polícia militar, civil, Maria da Penha ou ministério público. Leve as provas, façam da maneira correta, pode ser até mesmo ânimo essas denúncias, mas façam de acordo com a lei para que seja genuíno. Isso além de ser o correto e mais eficaz, evita que casos de difamações levianas sejam apontados apenas para ridicularizar outrem. Estou a disposição das integrantes do grupo GRL PWR para conversar, estou a disposição da "minha suposta vítima" para debater sobre essas acusações. Estou a disposição da minha ex para que eu possa perdoá-la. Tenho a consciência limpa, mas me entristece toda essa calúnia disparada por ódio e rancor de um grupo não legítimo que usa do termo feminismo para cometer injustiças. Não suje o nome do movimento!