Por G1
Publicada em 08/06/2020 às 16h26
Um estudo independente, que analisou dados das estatísticas da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre as eleições presidenciais da Bolívia em 2019, concluiu que houve falhas na apresentação dos resultados.
Segundo os pesquisadores, a conclusão de que os votos de Evo Morales tiveram um salto inexplicável nas cédulas finais se baseou em dados incorretos e técnicas estatísticas inadequadas.
A conclusão da OEA – que participou como observadora do pleito – foi uma das principais evidências usadas para a alegação de que houve fraude eleitoral. Pressionado pelas acusações, Morales acabou renunciando ao cargo.
O estudo, que ainda não foi revisado, foi conduzido pelo economista Francisco Rodríguez, professor de estudos latino-americanos na Tulane University, ao lado da especialista em política latino-americana da Universidade da Pensilvânia Dorothy Kronick, e de Nicolás Idrobo, estudante de doutorado da mesma universidade que é co-autor de um livro sobre métodos estatísticos avançados. Eles se basearam em dados de autoridades eleitorais bolivianas e do jornal “New York Times”.
Segundo Rodríguez, após corrigir as falhas no método usado pela OEA, a evidência estatística de fraude eleitoral desaparece.
Porém, de acordo com o “New York Times”, os autores esclarecem que seu trabalho se concentrou apenas na análise estatística da OEA dos resultados da votação, e não prova que a eleição foi livre e justa. Eles não estudaram os demais problemas documentados na votação.
A análise da OEA, divulgada em novembro, afirmava que havia manipulação em 38 mil votos, e Morales venceu por uma margem de 35 mil. O então presidente teve 47,07% dos votos, e Carlos Mesa, segundo colocado, 36,51%. Como a diferença era de mais de 10 pontos percentuais, Morales foi considerado reeleito no primeiro turno.
O resultado foi contestado pela oposição e, no dia 30 de outubro, a Bolívia e a OEA concordaram em realizar uma auditoria. Em 10 de novembro, a Organização divulgou um relatório, onde dizia ter identificado problemas nas seguintes etapas do processo: Tecnologia da eleição; cadeia de custódia; integridade das atas eleitorais e projeções estatísticas.
"A equipe de auditores não pôde validar o resultado da presente eleição, e recomenda um outro processo eleitoral. Qualquer futuro processo deverá contar com novas autoridades eleitorais para poder levar a cabo eleições confiáveis", dizia o comunicado, recomendando nova votação.
Método
Os autores do estudo disseram que não foram capazes de replicar as descobertas da OEA usando suas prováveis técnicas. Segundo eles, o crescimento repentino na tendência só surgiu quando foram excluídos os resultados das cabines de votação processadas manualmente e com relatórios tardios.
Isso sugere que a organização usou um conjunto de dados incorretos para chegar à sua conclusão, dexplicam, o que causaria uma diferença significativa, já que os relatórios tardios excluídos seriam a maior parte dos votos finais considerados suspeitos pela OEA.
Os pesquisadores afirmam ainda que a OEA utilizou usou um método estatístico inadequado, que teria criado artificialmente a aparência de uma quebra na tendência de votação.
Novas eleições
Após a renúncia de Morales, a presidência da Bolívia foi assumida de forma interina por Jeanine Añez, segunda-vice-presidente do Senado. Ela se auto-declarou presidente interina em 12 de novembro, depois que a linha sucessória ficou indefinida, e prometeu novas eleições “o mais rápido possível”.
Uma nova votação chegou a ser marcada para 3 de maio deste ano, mas foi adiada por causa da pandemia de coronavírus. As novas eleições presidenciais foram remarcadas para o dia 6 de setembro.