Por Agência Brasil
Publicada em 30/07/2020 às 09h50
A organização não governamental (ONG) Anistia Internacional alertou hoje (30) para a situação de cerca de 2 mil crianças Yazidi, libertadas do grupo extremista Estado Islâmico (EI), mas sem o apoio necessário para fazer face aos traumas físicos e psicológicos.
Segundo relatório da ONG, 1.992 crianças dessa minoria religiosa de origem curda, alvo de perseguições, regressaram às suas famílias depois de terem sido "raptadas, torturadas, forçadas a lutar ou violadas" durante os três anos em que o EI ocupou o norte do Iraque (2014-2017).
"Apesar de o seu pesadelo ter terminado, continuam a viver tempos difíceis: a sua saúde mental e física deve ser a prioridade para que possam ser realmente reintegrados às suas famílias e comunidades", disse a Anistia Internacional, que entrevistou dezenas de crianças yazidi.
Alguns têm de aprender a viver novamente após uma amputação ou lidar com pesadelos.
Muitos já não falam curdo, apenas árabe, ensinado pelo Estado Islâmico, tendo alguns sido rebatizados, agravando as dificuldades para restabelecer laços com uma comunidade que os extremistas os ensinaram a odiar.
O relatório fala de adolescentes violadas, algumas grávidas, que ainda hoje sofrem as consequências da longa detenção, já que as autoridades religiosas yazidi não aceitam crianças nascidas de um progenitor que não seja da mesma etnia.
"Essas mulheres foram escravizadas, torturadas e violadas. Não deveriam ter de sofrer mais", disse Matt Wells, da Anistia Internacional.
A ONG defendeu também o regresso das crianças à escola, "um lugar de socialização essencial para a sua recuperação", e lembrou que dezenas de milhares de yazidis ainda vivem em campos de refugiados.