Por Agência Brasil
Publicada em 27/07/2020 às 10h43
A Arábia Saudita sediará, a partir de quarta-feira (29), o hajj, a peregrinação de muçulmanos a Meca, com um número reduzido de peregrinos devido à pandemia do novo coronavírus.
Apenas 10 mil sauditas e outros residentes estrangeiros no reino wahhabi poderão realizar o hajj este ano, um dos cinco pilares do Islã. A seleção dos participantes recebeu críticas. (leia mais abaixo)
No ano passado, cerca de 2,5 milhões de muçulmanos completaram a grande peregrinação, muitos deles oriundos de outros países.
A imprensa estrangeira também não poderá cobrir esse evento, já que as autoridades sauditas restringiram o acesso à cidade sagrada aos muçulmanos.
O número de pessoas infectadas com Covid-19 no mundo superou, no domingo (26), 16 milhões, das quais 260 mil na Arábia Saudita.
Os peregrinos, protegidos por máscaras, começaram a chegar no final de semana em Meca, onde foram submetidos a verificações de temperatura e isolamento, segundo as autoridades.
Também receberam um kit que incluía pedras esterilizadas para o ritual de apedrejamento, álcool em gel, máscaras, um tapete de oração e um ihram, a túnica branca sem costura que os peregrinos devem usar, de acordo com um documento do ministério do Hajj.
Os peregrinos também deverão ser testados para o coronavírus antes de chegar à cidade santa e ficarão em quarentena após a peregrinação.
O governo saudita garantiu que preparou vários centros de saúde, clínicas móveis e ambulâncias para garantir a saúde dos peregrinos, que deverão respeitar as distâncias de segurança.
Seleção 'opaca'
Os estrangeiros enviaram suas inscrições on-line e Riad prometeu representar 70% dos peregrinos, embora não tenha indicado o número de candidatos e pessoas selecionadas.
Nas últimas semanas, as autoridades receberam uma onda de perguntas e críticas no Twitter daqueles que tiveram negado o acesso a Meca este ano, depois de uma seleção considerada por alguns como "opaca".
A escolha dos peregrinos foi baseada em "razões de saúde", defendeu o ministro do Hajj, Mohamad Benten, em declarações à rede saudita Al-Arabiya, na qual descreveu o processo como transparente.
Muçulmanos de 160 países diferentes participaram de um sorteio organizado pelo governo saudita.
"Esse sentimento é indescritível", comentou à AFP Nasser, um nigeriano residente em Riad, escolhido para fazer o haje.
Os peregrinos sauditas foram escolhidos entre um grupo de militares e profissionais da saúde que contraíram a Covid-19, mas que já se recuperaram, de acordo com as autoridades.
Impacto econômico
A pandemia pode ter um forte impacto econômico na Arábia Saudita, onde o turismo religioso gera cerca de 12 bilhões de dólares (10,6 bilhões de euros) a cada ano.
Após a queda do preço do petróleo e a paralisia da atividade econômica, Riad adotou medidas de austeridade, como cortes no orçamento e suspensão da assistência social.
"A limitação do hajj aos residentes [na Arábia Saudita] representa um custo substancial, mas que a economia pode suportar", acredita Sofia Meranto, analista do Eurasia Group.
Meranto lembra que Riad espera recuperar uma parte da renda perdida por meio da umra, a pequena peregrinação que teve que ser suspensa em março, mas que pode ser realizada em qualquer época do ano.
Meca sofreu um boom imobiliário nos últimos anos com a construção de shopping centers, casas e hotéis de luxo.
Mas a maioria desses lugares ficou deserta com a pandemia, que afetou inúmeras empresas do setor de turismo saudita, das quais centenas de milhares de trabalhadores dependem.