Por France Presse
Publicada em 14/07/2020 às 15h53
Petar Djuric soube da morte de seu pai quando levava água e frutas para o hospital: para ele, os responsáveis foram tanto a Covid-19 quanto o colapso do sistema de saúde da Sérvia.
O caso de Djuric adquiriu tanta notoriedade que o presidente Aleksandar Vucic o denunciou como uma "mentira".
O filho reconheceu "que os médicos fizeram o que podiam. Mas o sistema aparentemente não funciona. Meu pai me dizia que a situação era catastrófica".
A Sérvia enfrenta um segundo surto da pandemia, o que explicita as dificuldades dos sérvios e os protestos denunciando a gestão da crise pelo governo.
Com 300 novos casos diários, o país se aproxima do nível de abril, o pico da primeira onda. Nesta terça-feira (14), um recorde de 170 pessoas tiveram que receber assistência respiratória.
"O sistema de saúde (está) sobrecarregado devido à quantidade de pessoas infectadas", reconheceu o governo, apontando para uma situação crítica em Belgrado.
'Manipulações'
"Assistência médica acessível para todos": é o que dizem os cartazes dos manifestantes que foram às ruas em 7 de julho, denunciando a gestão da crise.
Eles criticam as autoridades por ter mentido sobre a amplitude da pandemia e o número de mortes. "Tivemos muita manipulação dos dados da Covid-19", afirmou Danijela Ognjenovic, uma manifestante de 52 anos.
Rade Panic, presidente do sindicato de médicos e farmacêuticos, disse em abril em uma entrevista ao jornal de oposição "Danas" que estava pouco entusiasmado:
"Nosso sistema de saúde está desmoronando há anos e agora vemos o resultado".
Êxodo em massa
Apesar da boa reputação do sistema de saúde da ex-Iugoslávia, a Sérvia sofreu um êxodo em massa de profissionais principalmente para a Alemanha. Segundo o site de informações econômicas "novaekonomija", faltam 3.500 médicos e 8.000 enfermeiros.
Um enfermeiro ganha 400 euros por mês, um médico especialista pouco mais de 800, "três vezes o salário de um trabalhador não qualificado", de acordo com um relatório oficial publicado pelo site "Istinomer".
Sob anonimato, um médico dos serviços de Covid-19 de Belgrado reconhece que o confinamento foi levantado cedo demais para que o presidente Vucic proclame vitória sobre a epidemia antes das legislativas de junho.
A situação fica cada vez pior, "até o último momento, mesmo com as evidências, se negou a existência do perigo (...) para passar a imagem de um sistema que funciona", disse à AFP. Isso antes da segunda onda.