Por RFI
Publicada em 30/07/2020 às 15h14
Um tribunal de Hiroshima ampliou a definição de sobreviventes de bombas atômicas para incluir na lista novas vítimas do fenômeno que ficou conhecido como "chuva negra" radioativa, que se seguiu ao bombardeio nuclear da cidade, em 6 de agosto de 1945. Três dias depois, aconteceria o bombardeio de Nagasaki.
Setenta e cinco anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Justiça japonesa decidiu que 84 vítimas da "chuva negra", com idade média acima de 80 anos, podem finalmente se beneficiar dos cuidados médicos concedidos aos sobreviventes do bombardeio.
Até 1957, esses japoneses não se beneficiavam de nenhuma assistência especial. O governo do Japão criou um sistema de subsídios e assistência médica gratuita, dependendo da proximidade do local da explosão, dentro de um raio de 2 a 3 quilômetros, e não além disso, para reduzir os custos do tratamento de pessoas contaminadas pela radiação, os hibakusha - que estão morrendo lentamente de câncer devido à exposição.
Mas as vítimas da "chuva negra" radioativa não eram reconhecidas como sobreviventes do bombardeio.
Setenta e cinco anos depois, o juiz Yoshiyuki Takashima, do Tribunal Distrital de Hiroshima, declara que eles também sofrem de doenças relacionadas aos bombardeios e cumprem as condições legais exigidas.
"Não há nada de irracional nas declarações desses moradores de que foram encharcados pela chuva negra", disse o presidente do tribunal, juiz Yoshiyuki Takashima, à emissora pública de televisão, NHK. "Os exames médicos mostram que esses habitantes sofrem de doenças consideradas relacionadas à bomba atômica e que atendem aos requisitos legais exigidos pelo hibakusha", acrescentou.
Até o momento, o governo japonês reconhecia 136.682 pessoas como hibakusha, incluindo as de Nagasaki, alvo do segundo ataque nuclear, em 9 de agosto de 1945.
Discriminação
Após a guerra, o Japão transformou o seu povo vítima de radiação em seres desumanizados, frequentemente rejeitados por empresas. À época, temia-se que fossem contagiosos. Muitas vítimas da bomba atômica não se registraram como tal por medo de discriminação.
Cerca de 140 mil pessoas foram mortas imediatamente e nos meses seguintes, em Hiroshima, e 74 mil em Nagasaki. O Japão realizará cerimônias na próxima semana para marcar o 75º aniversário dos dois ataques.