Por Rondoniadinamica
Publicada em 22/08/2020 às 09h33
Porto Velho, RO – A frase não é do jornal eletrônico Rondônia Dinâmica. Quem usou o termo “sacrifício necessário”, terceirizando o suplício financeiro alheio, foi o próprio senador Marcos Rogério, do DEM, com fala registrada em matéria institucional do Senado Federal.
Ele, o senador eleito por Rondônia que mais gastou dinheiro público em 2019, e com salário bruto de R$ 33.763,00, entende que é a carne do funcionalismo que tem de ser cortada a fim de preservar as finanças do Brasil enquanto perduram os efeitos do novo Coronavírus (COVID-19/SARS-CoV-2), incluindo, claro, as sequelas de ordem financeira.
Na notícia intitulada “Senado rejeita veto a reajustes a policiais, médicos e professores na pandemia; texto depende da Câmara”, o demista registrou a seguinte posição sobre o caso:
É preciso dizer aos policiais, professores e médicos, aos quais mais dia menos dia serão procurados por Marcos Rogério em algum contexto político e/ou eleitoral, que ele custa, só em salários – contando o 13º –, exatos R$ 438.919,00.
Porém, antes de o editorial se aprofundar na justificativa de Marcos Rogério é preciso ressaltar o seguinte: o jornal não se refere à manutenção do veto, a despeito de o Senado rechaçá-lo.
O texto aqui diz respeito exclusivamente à hipocrisia relacionada à explicação concedida por Marcos Rogério ao defender o veto à ocasião usando a expressão “sacrifício necessário” sem suscitar a hipótese de ele mesmo abrir mão do que quer que seja.
Abordar a situação fiscal faz parte da argumentação que, no Congresso Nacional, exige discussões entre os favoráveis e contrários em todos os pleitos: é mais que natural. Agora, prosseguir dizendo que policiais, professores e médicos têm de se sacrificar financeiramente neste momento de pandemia é, além de desumano, a demonstração clara da falta de vergonha numa cara de pau sem verniz.
Marcos Rogério e seu "sacrifício" em receber quase R$ 34 mil por mês / Reprodução
Sacrifício...
O vocábulo que Marcos Rogério usou com intenção de defender o veto do governo a eventuais reajustes específicos é visceral em outro contexto.
Das categorias mencionadas, uma se destaca na linha de frente sanitária de combate à enfermidade: a dos médicos.
Lá atrás, em maio, o Brasil ultrapassava a marca de cem médicos mortos por COVID-19, dois por dia.
Mais recentemente, só em agosto, o Conselho Regional de Medicina no Estado de Rondônia, o CREMERO, emitiu notas de Pesar para três casos: o de Jeterson Amaral dos Santos, Luis Alberto Valdez Marquez e ainda ao de Mário Ricardo Diaz Molero.
Sentado no alto de suas mordomias como congressista, Marcos Rogério não faz a mínima ideia do que seja sacrifício de verdade: abrir mão da família, dos amigos e da própria saúde a fim de imprimir no mundo real o juramento de Hipócrates, que, entre os pontos mais importantes, destacam-se os seguintes:
“[...] Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da Humanidade. [...] A Saúde do meu Doente será a minha primeira preocupação [...]”.
A esses conceitos se dá o nome de... sacrifício. E foi isso que fizeram esses homens honrados quando optaram por lutar até a última instância contra a doença que assola o Planeta Terra.
Por outro lado, o senador gastador “torrou” no ano passado, além desses vencimentos pomposos fixados anualmente em quase meio milhão de reais, R$ 370 mil em cota parlamentar, como provam os dados registrados no Portal Transparência.
Pessoas como ele, que não dão valor ao que é do outros, não fazem menção, em momento algum, a respeito de promoverem renúncias aos seus próprios direitos e/ou subsídios.
Com seus mais de R$ 33 mil reais garantidos mensalmente por oito anos [o que lhe renderá algo em torno de R$ 3,5 milhões só em salários ao sair do cargo], que é o tempo de duração de um mandato de senador no Brasil, é fácil usar a goela para dizer que policiais, professores e médicos têm se sacrificar neste momento em prol da Humanidade, como se já não o fizessem cotidianamente, há muito tempo, inclusive bem antes de Marcos Rogério surgir neste mundo.
Hipócrita, o senador não faz ideia do que é manter o “mais alto respeito pela vida humana”, como prometem e cumprem os médicos formados.
Então seria de bom alvitre que o excelentíssimo minúsculo deixasse a palavra sacrifício de fora do seu vocabulário, porque, como visto, não faz a menor ideia do que seja.