Por Rondoniadinamica
Publicada em 08/08/2020 às 09h58
Porto Velho, RO – Quando questionado sobre a Operação Macchiato, deflagrada pela Polícia Federal (PF), e que nada tinha a ver com a sua gestão, mas, por outro lado, envolvia o nome de seu vice, José Atílio Salazar Martins, o Zé Jodan (PSL), Coronel Marcos Rocha, sem partido, foi reticente ao “encarnar” a desfaçatez do antecessor Ivo Cassol:
“Cada um que responda pelo seu CPF”. E isto a despeito de Jodan abordar o assunto em seu perfil na rede social marcando o governador na postagem, esperando, no mínimo, que este servisse como ancoradouro enquanto perduravam as sequelas midiáticas e sociais envoltas à diligência policial abarcando possíveis fraudes no fisco.
Rocha teve uma semana complicada, é verdade. Só de reportagens exclusivas, e aí já a respeito de sua administração, especificamente, o Rondônia Dinâmica pontuou, em ocasiões distintas, tanto a manifestação técnica do Corpo Instrutivo do Tribunal de Contas (TCE/RO) quanto a investida da Força-Tarefa COVID-19 formalizada pelo Ministério Público de Rondônia (MP/RO) no imbróglio da contratação emergencial do Hospital SAMAR, em Porto Velho.
Seis técnicos da Corte de Contas sugeriram ao conselheiro responsável que os autos do processo sejam encaminhados à PF, Controladoria-Geral da União (CGU), Ministério Público Federal (MPF) e Tribunal de Contas da União (TCU), e isso para que haja apuração paralela dos órgãos acerca dos fatos narrados na denúncia.
Já na peça de 41 páginas confeccionada pelos promotores de Justiça Joice Gushy Mota Azevedo e Geraldo Henrique Ramos Guimarães onde são apontados nominalmente os secretários Fernando Máximo (titular) e Nélio de Souza Santos (adjunto), as considerações são enérgicas, enfáticas e objetivas sacramentadas em termos como “concretos indícios de superfaturamento” e “sangria nos cofres públicos”.
Soma-se às incursões institucionais dos últimos dias a Operação Polígrafo, da semana passada, envolvendo a empresa BuyerBR e a compra dos kits para testes rápidos do novo Coronavírus (COVID-19/SARS-CoV-2), e, voilà!, o resultado é um governador cuja gestão está acochada por escândalos no momento em que o brasileiro luta para sobreviver, literalmente, aos efeitos catastróficos da pandemia.
Seja dolo ou culpa, tanto faz, intenção e negligência se confundem num cenário de desolação sanitária em que ao menos uma região do estado decretou, por meio dos profissionais do setor, o temível status de colapso na saúde regional, situação ecoada no Plenário da Assembleia (ALE/RO).
Sem ter o que dizer à população ou mesmo fugindo de dados técnicos para questionar as saraivadas dos órgãos de fiscalização e controle, e isto só nos últimos 30 dias, o chefe do Executivo recorre à ora falida estratégia de 2018, autodenominando-se, de maneira horrorosamente pretensiosa, o eleito por Deus, e se apegando ainda à figura do presidente da República Jair Bolsonaro, também sem partido.
Justamente ele que defende a tese cassolista do CPF, ignora, com viés hipócrita, sua própria identidade para assumir as credenciais do mandatário do Planalto, como se fossem as mesmas pessoas nutrindo predileções idênticas.
Não são.
No fim, insiste na retórica maniqueísta do “bem contra o mal”, dos “traidores da Pátria”, dos “inimigos da nação”, e, como canta Zé Ramalho, da “peleja do Diabo com o dono do Céu”.
No miolo da mensagem entram alguns pontos questionáveis: um deles é sobre a criação da primeira Delegacia de Combate à Corrupção do País. Ele alega ter sido a primeira ação como governador.
Resta saber quais foram os resultados já colhidos pela unidade, o número de operações desencadeadas em quase dois anos, e quantas pessoas foram presas ou ao menos investigadas no período. Melhor do que a criação de um órgão é saber se ele produz resultados práticos, caso contrário são apenas elefantes brancos administrativos: fica a sugestão para a próxima postagem.
E há uma mentira retumbante: “Coloquei todos os documentos do Estado como públicos”.
Ah, mas é preciso muito descaramento para dizer algo assim sem corar.
Existe claramente a restrição no acesso a documentos públicos no Sistema Eletrônico de Informação (SEI!).
Tanto é que em meados de maio o conselheiro Francisco Carvalho da Silva, do TCE/RO, determinou a retirada dos empecilhos burocráticos e virtuais usados com a finalidade de impedir o acesso amplo de cidadãos comuns a dados de ordem pública. A decisão veio após representação encabeçada pelo advogado Vinícius Miguel.
O argumento do CPF morreu junto com a gestão Cassol há mais de uma década; no mundo contemporâneo - e real -, os gestores são responsabilizados até mesmo pelas más escolhas: e não foi Bolsonaro que formou o secretariado de Rondônia. Nem Deus. Ou seja, passou da hora de o governador assumir a própria identidade e responder pelas decisões que regem o Estado.