Por RFI
Publicada em 01/08/2020 às 08h52
A partir desta sexta-feira (31), na região metropolitana de Manchester e em condados vizinhos, no norte da Inglaterra, ficam proibidas as visitas entre pessoas que não vivem na mesma casa.
A decisão foi anunciada pelo Twitter três horas antes de as regras entrarem em vigor, exatamente no dia em que a comunidade muçulmana celebra o Dia do Sacrifício com festas em suas casas.
No anúncio em sua conta no Twitter, o ministro da Saúde, Matt Hancock, disse que os novos casos na área de cinco milhões de habitantes se devem ao fato de a população não estar respeitando as regras de isolamento social.
A declaração imediatamente provocou fortes reações nas redes sociais e na imprensa. Editoriais publicados nesta sexta-feira lembram que um dos principais problemas que o Reino Unido vem enfrentando nesta pandemia é a ausência de regras claras.
Muitos moradores da região atingida pelas medidas foram às redes sociais para reclamar das contradições: as pessoas não podem ir umas às casas das outras nem podem se encontrar em bares e restaurantes, mas podem continuar frequentando esses estabelecimentos com membros de sua própria residência.
O comércio continua aberto, assim como academias de ginástica, igrejas, mesquitas e outros locais de culto.
Apesar do novo surto no norte, a partir deste sábado (1°), em toda a Inglaterra, as cerca de dois milhões de pessoas que eram consideradas pelo governo como grupo de risco para o Covid-19 passam a deixar de oficialmente ter esse status e poderão ter que voltar ao trabalho, caso seus empregadores exijam.
A comunidade científica indicou que ainda pode ser muito cedo para isso, o que levou sindicatos de vários setores a fazerem um apelo pela flexibilização das condições de trabalho dessas pessoas.
A falta de clareza e de medidas mais rígidas de confinamento é um dos pontos nos quais o Partido Trabalhista e outros membros da oposição mais batem quando apontam para o fato de o Reino Unido ter acumulado o maior número de mortes por Covid-19 em toda a Europa, quase 46 mil casos confirmados, desde o início da pandemia.
Covid-19 provoca forte impacto no turismo
Ainda na noite de quinta-feira (30), o Reino Unido decidiu retirar Luxemburgo da lista de corredores aéreos, com efeito imediato, dias depois de ter feito o mesmo com a Espanha, um dos principais destinos turísticos dos britânicos.
Muitos viajantes que estão na Espanha foram pegos de surpresa no último fim de semana e agora terão de enfrentar 14 dias de quarentena ao retornar, antes de poder retomar suas atividades normais.
O impacto dessa decisão para o setor do turismo espanhol é enorme, já que os britânicos representam cerca de 20% de todos os turistas que visitam o país anualmente, mais do que os franceses e alemães, por exemplo.
Uma situação semelhante se passa em Portugal, país que não chegou nem a entrar na lista de corredores aéreos do Reino Unido, anunciada no início de julho para facilitar o trânsito entre visitantes mútuos.
Nos últimos dias, o primeiro-ministro Boris Johnson e seus ministros têm adotado um discurso que culpa outros países da Europa pelo aumento de casos de Covid-19, falando na existência de uma segunda onda no continente – um termo que cientistas têm evitado adotar.
Por isso, a previsão de analistas é de que o governo britânico acabe por retirar mais países da sua lista de corredores aéreos, como Bélgica, Croácia e Mônaco, e talvez ainda a França e a Alemanha.
O coronavírus também provocou um impacto negativo no faturamento do próprio Reino Unido com o turismo. O país está entre os dez mais visitados do mundo, tendo recebido 40,9 milhões de turistas em 2019.
Previsão de queda de 59% no número de turistas
O VisitBritain, órgão oficial do turismo no país, havia previsto para este ano um aumento de 2,9% no número de visitantes estrangeiros. Mas, com a pandemia, a previsão agora é de que o Reino Unido feche o ano com uma queda de 59% no número de turistas estrangeiros e de 63% no faturamento gerado com o turismo. Isso se deve principalmente ao fato de o maior número de turistas virem dos Estados Unidos, o país mais atingido pela Covid-19 no mundo, até o momento.
Diante das dificuldades e das restrições a viagens internacionais, muitos britânicos estão escolhendo permanecer no país neste verão.
As notícias são de que nos destinos de praia mais procurados - como a região da Cornualha, por exemplo - os preços de hotéis e alojamentos temporários dispararam – ou simplesmente não há mais quartos disponíveis. A procura por parques de camping também aumentou.
Mas, segundo o VisitBritain, isso não será suficiente para reanimar o setor e a receita gerada este ano deve cair 49% em relação ao ano passado. Muitos museus reabriram suas portas com restrições ao número de visitantes, mas teatros e salas de shows ainda permanecem fechados, gerando temores de um colapso da tradicionalmente forte indústria cultural britânica.