Por Rondoniadinamica
Publicada em 15/08/2020 às 09h48
Porto Velho, RO – Evandro Padovani, titular da Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri/RO) na gestão Marcos Rocha, sem partido, violou uma das principais premissas do bolsonarismo, defendida a ferro e fogo por membros, seguidores e simpatizantes: a propriedade privada.
Como silenciou a respeito do caso, o atual governador deve restringir a defesa temática apenas a ele mesmo e apoiadores, já que, ficou claro, Padovani, num rompante de ódio e sem ser convidado, inundou o estúdio da Rádio Plan FM com sua presença incômoda, não requisitada.
Se a questão do armamento funcionasse de acordo com a idealização mais mordaz do atual espectro diretivo do Alvorada, o proprietário deveria, em tese, ter o direito de atirar na direção do secretário e também dos puxa-sacos que o acompanharam durante a violação.
Agora, para compreender o tamanho do absurdo, o Rondônia Dinâmica sugere que o (a) leitor (a) faça o caminho inverso na história, mentalmente, e tente conceber o profissional de imprensa violando portaria, andares e corredores do Palácio Rio Madeira até chegar ao gabinete de seu detrator.
É difícil rascunhar a hipótese porque a edificação tem rígidos protocolos de segurança, e, além disso, falar com um secretário, qualquer um deles que seja, tem sido mais difícil do que ter audiência pessoal com o Papa Francisco.
Aliás, antes de continuar, faça o mesmo exercício tentando idealizar como seria o tratamento se alguém invadisse uma eventual fazenda do secretário. Digamos que ele tenha uma, só para ilustrar.
Fato é que o chefe do Executivo estadual conseguiu o que queria.
Sua retórica violenta contra o maior flanco regional da imprensa, ou seja, a ilharga abrangendo os veículos de comunicação independentes, em que se exclui, claro, o sistemático conglomerado chapa-branca a dançar a música do jeito que ele toca, encarnou-se à realidade através da atitude hidrófoba do seu comandado.
Começou assim: Marcos Rocha e estafe passaram a chamar de notícias falsas “fake news” tudo aquilo que desagrada o seio institucional de sua governança; em seguida, a Administração Pública inventa uma ferramenta falsa de “verificação” de notícias anexada à Superintendência Estadual de Comunicação (Secom/RO).
Com isso, o governo imprime digitalmente a chancela de “fake news” a muitos conteúdos abordados em Rondônia, emprestando ares de pretensa credibilidade ao cravar o brasão do Estado de Rondônia nessas veiculações sem critério.
Resumindo, embora venda independência, o Palácio Rio Madeira é parte interessada, logo não tem qualquer credibilidade para apontar o que é real ou não, muito menos para denominar como falso de plano, já que, Marcos Rocha e agregados, como já foi apontado aqui mesmo neste site de notícias, mentiram inúmeras vezes desde a candidatura postulada pelo PSL em 2018.
Uma nota tímida foi emitida pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Rondônia (Sinjor) repudiando a invasão de Padovani.
Trecho veiculado pelo site Tudo Rondônia diz o seguinte:
“[...] O direito de opinião é constitucional e a liberdade de pensamento está assegurada no Artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal. Quem assume uma função pública de Secretário de Estado está sujeito a receber críticas e elogios. Importante acrescentar que o Direito de Resposta está assegurado na Lei Federal 13.188, de 2015, e é garantido a todo cidadão que se sentir ofendido. Invadir uma emissora de rádio para forçar um Direito de Resposta não encontra amparo no sistema jurídico brasileiro. [...]”.
E concluiu:
“Informamos que o ato praticado pelo secretário será encaminhado à Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) para as devidas providências que o caso requer”, sacramentou a Diretoria da entidade sindical.
E é isso: o Poder Judiciário está aí para dirimir eventuais pelejas exageradas entre componentes da imprensa e gestores públicos. Mas a verdade é que a jurisprudência pátria garantiu a expansão do direito à crítica aos profissionais do setor quando o assunto são os agentes públicos.
E convenhamos, Padovani não só errou.
Ele errou acobertado pelo governador. Acobertado por quem quer silenciar o jornalismo sem rédeas, longe das amarras. E, repetindo, errou violando propriedade privada, uma das pedras fundamentais protegidas pelo presidente Jair Bolsonaro, sem partido, a quem Marcos Rocha jurou lealdade até o fim.
Isso retratada a fragilidade dos ideais de quem comanda, por ora, o Estado de Rondônia. Se Marcos Rocha se interessasse em defender propriedade privada, teria exonerado, imediatamente, o secretário invasor. Não o fez.
É vergonhoso.