Por Montezuma Cruz/Secom
Publicada em 28/09/2020 às 09h56
Caminhando ou deitadas na maca, todas as vítimas da Covid-19 (novo coronavírus) passam pelas mãos de fisioterapeutas. Pacientes infectados encontram nos hospitais de Porto Velho e do Estado de Rondônia o apoio desses profissionais indispensáveis ao tratamento e recuperação da doença.
Até sexta-feira (25), a Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa) computava mais de 64,4 mil casos confirmados da Covid-19, dos quais, 56,2 mil recuperados. Antes, durante e depois de seus angustiantes momentos do contágio, todos foram atendidos e avaliados por esses profissionais.
São eles que recebem as pessoas nas salas de atendimento, enfermarias e quartos hospitalares, iniciando procedimentos clínicos aos quais se unem técnicos, enfermeiros e médicos.
O fisioterapeuta há sete anos no Centro de Medicina Tropical (Cemetron), Ariel Souza Santos Felipe, comemora as vitórias da equipe, sobretudo a vida. Alguns colegas dele foram atacados pelo vírus, mas de maneira leve, porém, continuaram socorrendo seus pacientes durante 24 horas.
“Já enfrentei a crise da malária, a campanha contra a gripe H1N1 (suína) e agora a Covid-19, que é um Deus nos acuda, mas nos trouxe lições e fortaleceu a união de nossos esforços”, comenta.
Quando Ariel Felipe iniciou o seu trabalho no Cemetron, a equipe tinha apenas sete profissionais nessa área. Hoje dispõe de 31. Entraram 24 emergenciais desde o início da pandemia, para atender a duas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), enfermaria, e o novo bloco com pacientes exclusivos do coronavírus.
Acelerar a recuperação de pacientes. Este é o desafio que esse fisioterapeuta sente necessidade de enfrentar. “O paciente deve sentir menos dores fortes, menos sedação, ou que tenha sequelas pós-internação”, explica Ariel Felipe.
PROCEDIMENTOS
Para combater esses sintomas é necessário que sejam adequados os parâmetros respiratórios, ajustando a frequência respiratória, o volume corrente, a pressão positiva (que mantém os pulmões em boas condições), entre outros.
Num misto de entusiasmo emoção, Ariel relata o trabalho da equipe: “Somos o único hospital do Estado que oferece terapias respiratórias para o servidor contaminado, para que ele volte mais rapidamente ao trabalho; graças a Deus, aqui, nenhum deles foi a óbito”.
Segundo Ariel, duas técnicas são determinantes nesse aspecto: a Ventilação Não Invasiva (VNI) e a pronação (a pessoa é colocada de bruços). Pacientes em leitos ficam conectados a respiradores artificiais, enquanto são atendidos por profissionais de saúde protegidos por roupas e máscaras especiais.
“Esse procedimento evita o acúmulo de secreção na base do pulmão, reativa às vias aéreas e reduz a carga cardíaca. Temos feito isso à exaustão, usando a máscara face shield, que cobre todo o rosto do paciente e garante o sucesso da não entubação”, acrescenta.
Em maio deste ano, o fisioterapeuta Rodrigo Campos, ex-diretor do Centro de Reabilitação de Rondônia (Cero), lembrava que há muito tempo a fisioterapia intensiva não estava em evidência como hoje se encontra.
A atividade é hoje mais visível por causa da pandemia
IMPORTANTES NAS ENFERMARIAS
“A fisioterapia também é importantíssima nas enfermarias, onde contribui na melhoria da qualidade de vida e na redução do tempo médio de internação hospitalar”, diz o fisioterapeuta Eduardo Santos, que trabalha no Hospital de Campanha de Rondônia Zona Leste, em Porto Velho. Esse hospital funciona no antigo Cero, no bairro Mariana.
Quando o paciente é infectado pela Covid-19, o trabalho do fisioterapeuta é agir para recuperar o paciente o mais rápido possível, diminuindo a necessidade de medicamentos e entubação, principalmente o risco de sequelas após a internação.
Eduardo explica como funciona o atendimento fisioterápico em tempos de Covid-19. “Primeiramente, o fisioterapeuta faz uma avaliação do sistema respiratório do infectado para verificar, principalmente, a troca gasosa da respiração, uma função principal do sistema respiratório, e com isso, identificar o nível de esforço e o nível de suporte ventilatório necessário, tanto para a ventilação não invasiva como para a ventilação invasiva”.
“Se caso a infecção for leve e o paciente estiver com boa oxigenação em ventilação espontânea ao ar livre, não é necessário auxílio externo na respiração, mas é fundamental o monitoramento constante da evolução do quadro, já que há risco de complicação acelerada. Se a infecção evoluir para um caso de insuficiência respiratória, torna-se necessária a intervenção, primeiramente dos dispositivos de oxigenoterapia (máscara não reinalante ou máscara de VNI ventilação não invasiva), ou até mesmo cateter nasal.Assim, o paciente já passa a receber uma fração inspirada de oxigênio mais enriquecida, pois o ar ambiente tem apenas 21% de oxigênio”, ele diz.
Já a fisioterapia pulmonar possibilita os chamados exercícios respiratórios e motores ativos. “O exercício respiratório é um conjunto de técnicas que podem ser preventivas ou curativas, e visam mobilizar secreções, melhorar oxigenação do sangue, promover reexpansão pulmonar, diminuir o trabalho respiratório, reeducar a função respiratória e prevenir complicações”, explica o fisioterapeuta Eduardo Santos.
FUNÇÕES MOTORAS DO PACIENTE
Cerca de 20% a 60% dos pacientes internados na UTI desenvolvem fraqueza muscular generalizada relacionada ao imobilismo. Desta maneira, a fisioterapia motora tem como objetivo criar condições mais favoráveis às funções motoras do paciente, evitando contraturas, deformidades, encurtamentos musculares, melhorando a força muscular e a independência para as atividades da vida diária.
“O atendimento nas unidades de internação é realizado seguindo as orientações de paramentação e desparamentação, assim os profissionais recebem treinamento e orientações constantes oferecidas pela instituição”, diz.
Segundo o fisioterapeuta Eduardo, o coronavírus pode causar uma inflamação muito grande nos pulmões, afetando diretamente a troca gasosa e, por isso, os pacientes entram em falência respiratória muito rapidamente.
O procedimento fisioterapêutico divide-se em duas áreas: a motora e a respiratória. Motora normalmente é a mais conhecida. No caso da Covid-19, a respiratória tem grande importância dentro da UTI, conforme explica Eduardo.
“É onde começamos a fazer uma avaliação do padrão ventilatório do paciente; se ele está com esforço, se precisa de suporte ventilatório maior, nós recorremos à oxigenoterapia”, detalha.
PÓS-COVID-19
A fisioterapia pós-Covid-19 também é especial para o profissional dessa área. “É a transição do tratamento, quando o paciente deixa de necessitar de auxílio mecânico para a respiração, e nesse estágio ele deve retomar sua autonomia para voltar a respirar sozinho. Na segunda fase entra a fisioterapia motora, para que ele recupere a força muscular perdida durante o tratamento, além da melhoria na higiene brônquica, até que, por fim, seja possível a respiração normal sem nenhum auxílio”.
Eduardo recomenda que, mesmo depois de recuperado e da alta hospitalar, o paciente faça exercícios respiratórios, principalmente devido à possibilidade de sequelas. Segundo ele, é possível que alguns pacientes apresentem limitações respiratórias, desenvolvendo um quadro de fibrose pulmonar e até necessitem de assistência ambulatorial.
A fisioterapia contribui para atenuar os sintomas provocados pela doença. “Pacientes de terapia intensiva, especialmente os que estão em suporte ventilatório, são os que requerem maior vigilância”, diz Eduardo.
“O fisioterapeuta auxilia na vigilância ventilatória e também elabora estratégias que reduzem o tempo no respirador bem como suas complicações; por isso digo que ela é também importante nas enfermarias, onde assegura melhoria da qualidade de vida e na redução do tempo médio de internação hospitalar”, acrescenta.