Por Montezuma Cruz/Secom
Publicada em 24/09/2020 às 12h14
O Dia Internacional das Línguas de Sinais é comemorado nesta quarta-feira (23). Tradutores-intérpretes de Libras (TILS) do Estado de Rondônia comemoram também o Setembro Azul, mês da visibilidade da Comunidade Surda Brasileira. É uma ação que traz conscientização e homenagens a essa população.
Antes de 2010, a ação do intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) era vista como assistencialismo, missão religiosa. Por isso, ainda hoje as pessoas confundem a profissão do intérprete com caridade ou ajuda.
Intérprete de Libras (TILS) é um profissional regulamentado pela Lei nº 12.319. A língua de sinais é usada por surdos dos centros urbanos brasileiros e legalmente reconhecida como meio de comunicação e expressão. A primeira celebração ocorreu em 2018, como parte da Semana Internacional dos Surdos.
Núbia Lopes, tradutora e intérprete de Libras
O mês de setembro é significativo para as comunidades surdas de todo Brasil. No sábado próximo (26) é comemorado o Dia Nacional do Surdo, e na quarta-feira (30), o Dia Internacional do Tradutor Intérprete de Libras.
É o período em que são relembradas as dificuldades, preconceitos e discriminação sofridas pelos surdos para se avaliar e valorizar conquistas garantidas com lutas e movimentos.
Para a intérprete de Libras do Governo de Rondônia, Núbia Lopes, este ano o mês de setembro será atípico para todos, devido à pandemia do novo coronavírus. “A cor azul foi escolhida pelos surdos como símbolo da militância surda, por isso, dizemos, setembro azul”, ela explica.
Há quase dez anos trabalhando como intérprete e professora bilíngüe, a servidora é professora de Libras, dedicando-se ao trabalho voluntário em igrejas e repartições públicas diversas.
Já interpretou até um parto de emergência que lhe exigiu muito equilíbrio emocional e profissionalismo. “Quando recebi a foto com agradecimento, da criança que ajudei vir ao mundo, chorei e sorri, foi inevitável; temos muito que melhorar, sei, mas faço isso por acreditar no potencial das pessoas surdas”.
Para Núbia, o intérprete de Libras é um ser multifacetado que se reinventa a cada trabalho: estudar, treinar e se atualizar sempre para uma performance cada vez melhor.
“Tudo isso, com a finalidade de ser ponte entre dois mundos, o dos sinais e o dos sons”, explica Núbia.
“E não é só no âmbito da remuneração, é no receber o profissional. Algumas pessoas ao se comunicar com um surdo acham que tem que falar olhando para o intérprete como quem quer validar o diálogo. Ou que o intérprete deve auxiliar o surdo em suas atividades escolares e sociais”, ela assinala.
Segundo Núbia, os acontecimentos da atual conjuntura “bombardeiam” com notícias atualizadas a toda hora e diariamente. “Nós,ouvintes, ficamos perdidos com tanta informação, imagine os surdos? Mesmo com os desafios que se impuseram, o governador Marcos Rocha foi o que mais se preocupou e promoveu a acessibilidade para esse grupo minoritário e às vezes vulnerável, pois não mediu esforços pra disponibilizar uma intérprete exclusiva para a Superintendência Estadual de Comunicação (Secom) e a Governadoria”, destaca.
Ela elogia a primeira-dama do País, Michelle Bolsonaro por ter impulsionado essa área tão especial, ao discursar diretamente em Libras e garantir com isso a acessibilidade linguística no atual Governo. “Da cerimônia de posse até os pronunciamentos da presidência, ela dá visibilidade aos surdos e profissionais da Libras”, assinala.
ESCOLA BILÍNGUE
Conforme a intérprete e professora, o Governo de Rondônia entendeu a importância de promover a equidade dos brasileiros surdos e segue implementando ações positivas nesse sentido.
“Até porque, nosso governador e a primeira–dama e secretária do Desenvolvimento e Assistência Social (Seas), Luana Rocha, já tinham incursões na comunidade surda rondoniense mesmo antes de serem eleitos. O olhar sensível à causa da surdez/Libras começou quando ele era gestor público em outras pastas, e nesse sentido, já lutava em prol dessa categoria”, diz.
Ela menciona como um dos vários feitos, a fundação da Escola Bilíngue para surdos em Porto Velho.
Dizendo-se “orgulhosa e honrada” em fazerparte da equipe onde é ouvida e respeitada como técnica na área, Núbia se lembra “dos sorrisos de boas-vindas”: “Fui muito bem recebida, e assim trabalho da melhor forma que posso, fazendo jus à responsabilidade que o Governo me confiou”.
Quando entrava no estúdio para gravar, o governador e a primeira-dama pediam para ficar mais um pouco, porque queriam ver como seria a interpretação. “Eles apreciam muito ver a interpretação das músicas”, conta.
Segundo Núbia, caso queiram, tradutores e intérpretes de Libras podem realizar trabalhos voluntários. Ela faz isso, desenvolvendo atividades de caráter apenas solidário. “Por ser grata a tudo o que Deus me proporcionou”, diz.
Em São Paulo, o Conselho Regional de Psicologia reconhece a importância da data e dos serviços das línguas de sinais, propondo, não somente no mês de setembro, a reflexão e o debate sobre os direitos e a luta pela inclusão das pessoas surdas na sociedade.
“Assim, proporcionando ambientes mais inclusivos, uma vez que as pessoas com deficiência têm a oportunidade de se comunicar melhor com psicólogas, os surdos, os que usam Libras”.
Mesmo com a mobilização mundial, Libras sofre ameaça de extinção. É o caso de Nova Zelândia, onde a New Zealand Sign Language (NZSL) é usada por aproximadamente 20 mil pessoas, incluindo quatro mil pessoas surdas, segundo o Censo de 2013.
A pesquisa sugere que, embora o reconhecimento da NZSL esteja melhorando, a aquisição está em declínio.