Por Vinicius Canova
Publicada em 15/09/2020 às 09h43
Porto Velho, RO – Nesta terça-feira (15) completo dez anos trabalhando no jornal eletrônico Rondônia Dinâmica: no começo, como funcionário da casa; hoje, na condição de prestador de serviços.
Uma década, isto é, 1/3 da minha vida, contando a minha ligeira passagem pelo “O OBSERVADOR”, passei enfurnado em redações.
Esse período fez germinar uma relação íntima – e dúbia –, de amor e ódio em relação aos meus conceitos mais remotos acerca do ofício, confesso. Em suma, parte da minha paixão redacional ficou pelo caminho.
Quando convidado pelo diretor-geral Rostand da Costa Agra, lá em 2010, jamais imaginei que receberia passe-livre e lousa aberta para imprimir minhas digitais nos conteúdos originais de uma empresa que já existia há no mínimo dois anos.
E era muita pretensão de um fedelho, aos 21, imaginar que sabia escrever. Atualmente, com trinta e poucos, tenho certeza: eu não sei. E não é falsa modéstia. Basta abrir os clássicos da literatura brasileira e o choque de realidade virá naturalmente, sem traumas.
E também nutro consciência plena de que preciso aprender muito mais se quiser sobreviver no mercado da informação daqui até 2030.
Porém, preciso ser franco: de certa maneira aquela arrogância do passado catapultou meu entusiasmo à ocasião. Não fosse o ímpeto juvenil, jamais teria a coragem necessária para bater na porta do desconhecido alegando ter condições mínimas de prumar pelas águas turvas daquilo que se entendia como imprensa.
E no Dinâmica, como disse o Agra na primeira vez que vencemos um prêmio de jornalismo, isto em 2016, a estrutura é mesmo paupérrima, mas nossas pretensões são gigantescas, homéricas, intangíveis.
Essa vontade irrefreável, que, sim, tem picos e baixos, nos levou a outros dois troféus, estes disputados com colegas absurdamente gabaritados, competentes, exímios no cumprimento do dever, credenciais que elevam – e muito –, a importância dessas conquistas ao longo do tempo.
Nada veio de mão beijada.
E perdi. Perdi quando não consegui levar adiante o projeto “RD Entrevista”, que iniciei em 2017 com ajuda do amigo e fotógrafo Gregory Rodriguez, além de contar com as correções pontuais patrocinadas pelo olho acuradíssimo do colega Ytalo Andrade.
Fitei severamente meus entrevistados confrontando-os com questionamentos sérios, rigorosos, tudo envolvendo suas respectivas vidas pregressas no mundo público.
Perguntei sobre desvio de dinheiro público. Perguntei sobre assassinato de esposa. Perguntei sobre condenações criminais. Perguntei sobre fé. Perguntei sobre a falta dela.
Perguntei.
Perguntei tanto a fim de que pudesse levar respostas detalhadas ao público, respostas milimetricamente minuciosas. Minha ambição era preservar a leitura. Fui tão obcecado que não consegui enxergar o mundo ao redor, ver o óbvio: acabou a demanda em profusão, e, com isso, o interesse pelas letras.
A sociedade está rebobinando.
Notas de uma lauda são chamadas de “textão” na Internet e redes sociais como o Twitter dão ao usuário 120 caracteres para se expressarem.
Sinceramente, não vou me surpreender quando estivermos balbuciando uns para os outros, recorrendo às figuras rupestres para travar diálogos.
E eu me rendo. Não dá pra bater de frente com a força descomunal da verdade. O jeito é se reciclar na próxima década, esperando a adaptação natural.
Enfim, não posso deixar de agradecer a quem passou por aqui, mesmo que rapidamente.
Willian Luiz, Rosiane Vargas, Jô Rocha, Yodon Guedes, Waldir Costa, Romeu Noé, Pedro Silva e Francesco Neto são só alguns exemplos do trânsito profissional ao qual tive a honra de abeberar-me. Se esqueci alguém, peço perdão. O corpo é de elefante, não a memória.
Saúdo, claro, meu amigo Leandro César Lamarão pelo incentivo. Não dá pra contar nos dedos dos pés e das mãos as vezes que eu quis largar a peteca e ele, chato como é e sempre foi, simplesmente não deixou. À chatice dele, um brinde.
Por fim, querido Agra, um beijo no seu coração.
Que venham mais dez anos!