Por G1
Publicada em 12/10/2020 às 09h36
Os norte-americanos Paul R. Milgrom, de 72 anos, e Robert B. Wilson, de 83 anos, professores na Universidade Stanford, foram premiados nesta segunda-feira (12) com o Nobel de Economia por seus trabalhos na melhoria da teoria e invenções de novos formatos de leilões.
"Os vencedores deste ano estudaram como funcionam os leilões. Eles também usaram seus insights para criar um novo leilão e formatos para bens e serviços que são difíceis de vender de uma forma tradicional, como por meio de frequências de telecomunicações. Suas descobertas beneficiaram vendedores, compradores e contribuintes de todo o mundo. Os leilões estão por toda a parte e afetam o nosso dia a dia", disse a Real Academia de Ciências da Suécia.
Uma das descobertas de Milfrom e Wilson é que a oferta feita de forma racional tende a ser abaixo da melhor estimativa sobre o valor comum por causa da preocupação com a chamada “maldição do vencedor”, ou seja, pagar em excesso e, por isso, ter prejuízo.
Robert Wilson mostrou, entre outras coisas, que participantes racionais em um leilão tendem a dar lances menores por medo de pagar demais.
Paul Milgrom formulou uma teoria mais geral dos leilões, que mostra, entre outras coisas, que um leilão gera preços mais altos quando os compradores obtêm informações sobre os lances planejados por outros licitantes durante o leilão.
Além disso, ambos criaram o conceito de venda de licenças de frequência de telecomunicações nos EUA e trabalharam nos mecanismos de alocação de slots de pouso em aeroportos.
Os vencedores vão dividir o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,3 milhões).
A modalidade de leilões ganhou impulso na internet tanto em sites de compra e venda como em transações financeiras, disse Wilson, em entrevista coletiva após receber o prêmio. Mas ele confidenciou que nunca havia participado de um leilão.
"Eu mesmo nunca participei de um leilão (...) Minha esposa me lembrou que temos botas de esqui compradas no eBay, acho que foi em leilão", declarou.
Robert Wilson afirmou que guardará o prêmio recebido para a família, já que, com a pandemia, “não há muito o que fazer, não se pode viajar".
Entrega de prêmio virtual
Neste ano, a entrega dos prêmios – marcada para 10 de dezembro, aniversário de morte de Alfred Nobel – será inteiramente virtual por conta da pandemia do novo coronavírus. A cerimônia reúne os vencedores que apresentam suas pesquisas ao público.
É a primeira vez que a cerimônia de premiação dos ganhadores do Nobel de Física, Química, Medicina, Literatura e Economia não acontece em Estocolmo, desde 1944. Já o prêmio da Paz, tradicionalmente entregue em Oslo, deve acontecer em uma cerimônia fechada.
Quem são os vencedores
Paul R. Milgrom nasceu em 1948 em Detroit, Michigan, nos Estados Unidos. Obteve seu PhD em 1979 pela Universidade de Stanford, também nos Estados Unidos. É professor na mesma universidade da Califórnia.
Robert B. Wilson nasceu em Geneva, Estados Unidos, em 1937. Doutorado pela Universidade de Harvard em 1963, é professor emérito também na Universidade de Stanford.
A pesquisa de Paul Milgrom é direcionada ao projeto de leilões para vários itens exclusivos, mas relacionados. Junto com Robert Wilson, ele apresentou o projeto inicial para vendas de licenças de espectro de rádio nos Estados Unidos. Ele projetou novos leilões para publicidade na internet e para a aquisição de serviços complexos. A pesquisa sobre incentivos e complexidade são combinadas para criar leilões que são simples e diretos para os licitantes, mas que melhoram a alocação de recursos em comparação com os designs de leilão tradicionais.
Robert Wilson estuda a teoria dos jogos e suas aplicações aos negócios e economia. Sua pesquisa e ensino se concentram em design de mercado, precificação, negociação e tópicos relativos à organização industrial e economia da informação. Sua contribuição tem sido para projetos de leilões e estratégias de licitação competitiva nas indústrias de petróleo, comunicação e energia, e para o projeto de esquemas de preços inovadores.
Entre os favoritos
Desigualdades, psicologia econômica, saúde ou mercado de trabalho. Para o último ganhador do Nobel, o jogo estava em aberto este ano. Mas Milgrom e Wilson eram apontados entre os favoritos.
Em 2019, o prêmio foi atribuído a um trio de pesquisadores especializados no combate à pobreza, os americanos Abhijit Banerjee e Michael Kremer e a franco-americana Esther Duflo, segunda mulher distinguida na disciplina e a mais jovem laureada da história deste prêmio.
Economia tem sido, até agora, o Nobel onde o perfil do futuro vencedor é o mais fácil de adivinhar: homem com mais de 55 anos de nacionalidade americana, como este ano.
Nos últimos 20 anos, três quartos deles se enquadram nessa descrição. A média de idade dos vencedores também é superior a 65 anos, a maior entre os seis prêmios.
O prêmio
O prêmio de Economia, oficialmente chamado de "Prêmio do Banco da Suécia em Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel", foi criado em 1968 e concedido pela primeira vez em 1969.
A homenagem não fazia parte do grupo original de cinco prêmios estabelecidos pelo testamento do industrialista sueco Alfred Nobel, criador da dinamite. Os outros prêmios Nobel (Medicina, Física, Química, Literatura e Paz) foram entregues pela primeira vez em 1901.
O Nobel de Economia é o último concedido este ano. Os prêmios de Medicina, Física, Química, Literatura e Paz foram anunciados na semana passada.
Embora seja o prêmio de maior prestígio para um pesquisador em economia, o prêmio não adquiriu o mesmo status das disciplinas escolhidas por Alfred Nobel em seu testamento de fundação (Medicina, Física, Química, Paz e Literatura), seus detratores zombam dele como um "falso Nobel" que representa economistas ortodoxos e liberais.
Vencedores do Nobel de 2020
Paz: Programa Mundial de Alimentos da ONU
Literatura: Louise Glück
Física: Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez
Química: Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna
Medicina: Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice.
Últimos ganhadores do Nobel de Economia
2019: Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer (EUA), por seus seus trabalhos no combate à pobreza.
2018: William D. Nordhaus e Paul M. Romer (EUA), por seus estudos sobre economia sustentável e crescimento econômico a longo prazo.
2017: Richard Thaler (Estados Unidos), por sua pesquisa sobre as consequências dos mecanismos psicológicos e sociais nas decisões dos consumidores e dos investidores.
2016: Oliver Hart (Reino Unido/Estados Unidos) e Bengt Holmström (Finlândia), por suas contribuições à teoria dos contratos.
2015: Angus Deaton (Reino Unido/Estados Unidos) por seus estudos sobre "o consumo, a pobreza e o bem-estar".
2014: Jean Tirole (França), por sua "análise do poder do mercado e de sua regulação".
2013: Eugene Fama, Lars Peter Hansen e Robert Shiller (Estados Unidos), por seus trabalhos sobre os mercados financeiros.
2012: Lloyd Shapley e Alvin Roth (Estados Unidos), por seus trabalhos sobre a melhor maneira de adequar a oferta e a demanda em um mercado, com aplicações nas doações de órgãos e na educação.
2011: Thomas Sargent e Christopher Sims (Estados Unidos), por trabalhos que permitem entender como acontecimentos imprevistos ou políticas programadas influenciam os indicadores macroeconômicos.
2010: Peter Diamond, Dale Mortensen (Estados Unidos) e Christopher Pissarides (Chipre/Reino Unido), um trio que melhorou a análise dos mercados nos quais a oferta e a demanda têm dificuldades para se acoplar, especialmente no mercado de trabalho.
2009: Elinor Ostrom e Oliver Williamson (Estados Unidos), por seus trabalhos separados que mostram que a empresa e as associações de usuários são às vezes mais eficazes que o mercado.
2008: Paul Krugman (Estados Unidos), por seus trabalhos sobre o comércio internacional.