Por France Presse
Publicada em 28/10/2020 às 16h00
Quando a pandemia de covid-19 varreu os Estados Unidos, Keith continuou com seu emprego no setor de serviços financeiros, mas sua renda secou à medida que as comissões cobradas começaram a diminuir.
Estrangulado financeiramente, Keith começou a depender de comida distribuída por uma instituição de caridade em Bethesda, na periferia de Washington.
"Tentamos economizar no que podemos", disse Keith, de 52 anos, à AFP, pedindo para não ser identificado pelo sobrenome. "Não quero mais do que preciso. Se não tiver que vir todas as semanas, não venho", acrescenta.
Dezenas de milhões de americanos ficaram desempregados como resultado da pandemia que atingiu a maior economia do mundo.
Uma semana antes das eleições de terça-feira, um estudo da Universidade Columbia mostrou que a pobreza começou a aumentar nos Estados Unidos à medida que diminuíram os efeitos dos trilhões de dólares injetados para impulsionar a economia quando o coronavírus estourou.
Resta saber se os danos econômicos impedirão a reeleição do presidente republicano Donald Trump em favor do democrata Joe Biden. De qualquer forma, a classe média americana está em risco.
"Esta é a primeira vez que venho pedir comida porque não tenho outra escolha", disse Joe, 40 anos, ao receber alimentos no centro de caridade Bethesda. Joe perdeu o emprego em abril.
'Do outro lado'
Localizado ao norte da capital americana, o condado de Montgomery, Maryland, é uma das áreas mais ricas do país, mas mesmo em cidades como Bethesda existem enormes lacunas na riqueza.
Anne Derse, diácona da Igreja Episcopal de São Jorge, administra um programa de entrega gratuita de comida. Ela conta que cerca de 65.000 pessoas viviam em situação de insegurança alimentar antes da pandemia. Agora, são 95.000.
"Enquanto as condições econômicas não melhorarem, a quantidade continuará crescendo", afirma.
Os voluntários têm recebido quase o dobro do número de pessoas esperado, e a comida geralmente acaba em menos de uma hora.
No Capital Area Food Bank, uma entidade que atende aos necessitados em grande parte de Washington e seus subúrbios, sua presidente, Radha Muthiah, disse que antes da pandemia o número de pessoas que eram auxiliadas era de 400.000, mas hoje alcança 650.000.
A demanda aumentou muito nos condados de Montgomery e Fairfax, duas áreas normalmente consideradas prósperas, mas onde, diz Muthiah, a onda de desemprego aumentou o número de pessoas que precisam de alimentos.
Com o agravamento da pandemia, o Congresso aprovou US$ 3 trilhões em medidas de ajuda econômica para mitigar seu impacto. Isso incluiu a extensão do seguro-desemprego e empréstimos e garantias para pequenas empresas para salvar empregos.
O estudo da Universidade Columbia mostrou que a ajuda foi tão eficaz que reduziu a taxa de pobreza de 10,5%, registrada oficialmente em 2019, que foi a menor em 60 anos.
No entanto, grande parte da ajuda expirou nos últimos meses e o estudo indicou que oito milhões de pessoas se somaram aos 34 milhões de pobres no ano passado.