Por José Luiz Alves
Publicada em 10/10/2020 às 10h38
A repercussão do grito da Independência e a Proclamação da República. (Esses episódios históricos parecem que não tem nada a ver com Rondônia, mas têm sim). Ainda ecoavam pelos mais distantes rincões do Brasil, surgindo às dualidades de governos e disputas nativistas, fatos importantes para oficialização Republicana.
Neste período, Amazônia (e por via de conseqüência o território onde está situado o estado de Rondônia) passou a ser uma terra sem dono e sem lei e quase desagregada socialmente, surgindo inclusive alguns movimentos separatistas. É incrível como a história desta região é bonita e pouco conhecida, a tendência é que desapareça da memória das futuras gerações.
A leitura dos originais de: “A História” produzida pelo professor Lenine Povoas, da Universidade Federal de Mato Grosso, uma obra inacabada, pois o autor faleceu antes de completar a última revisão, entregando ainda em vida cópias dos originais para alguns jornalistas e estudiosos revelando fatos pitorescos.
Neste naco de Brasil, descrito e pesquisado pelo mestre, composto de uma riqueza imensa, entre ouro e borracha, surgem fatos históricos revelados de maneira trágica sobre alguns pontos de vistas e hilariantes de outros.
Corria o final de 1891, (Getúlio e Juscelino ainda estavam longe de entrar em cena), logo após a renúncia do Marechal Deodoro da Fonseca pipocavam movimentos grevistas e sediciosos, do Pará ao Rio Grande do Sul e Pernambuco, com o Almirante Custódio de Melo ameaçando um levante pela Marinha.
Em Corumbá, no atual Estado de Mato Grosso do Sul, as margens do Rio Paraguai, uma bela cidade turística que pertencia ao Estado de Mato Grosso, também repercutia forte o movimento entre os descontentes que desconfiavam sobre os motivos que levaram o Primeiro Presidente da República a renunciar.
Não há como taxar de quixotada, patriotada ou grotesca, a posição assumida pelo coronel, João Batista Barbosa, comandante interino do 7º Distrito Militar, naquele município, ao convocar uma reunião formando uma comissão de sediciosos, civis e militares, lavrando em ata, que o Estado de Mato Grosso e toda Amazônia passaria a se chamar de: “República Transatlântica”. Nome bonito e sugestivo!
Determinou que as “Repúblicas do Prata” fossem oficializadas, porque estas deveriam manter neutralidade, não consentindo a passagem de forças pelos rios que banham a região do Paraná e Paraguai. A sede da capital do que seria a “República Transatlântica” seria a cidade de Corumbá, mesmo com uma bandeira já desenhada e alguns postos definidos na futura administração.
Outras objeções como a falta de recursos pecuniários foram levantadas, com a resposta imediata do coronel João da Silva Barbosa, de que: “estes recursos poderiam ser obtidos hipotecando-se o solo e as riquezas do novo país, incluindo a Amazônia à Inglaterra.
Estava lançada uma idéia maluca que poderia ter dado certo. Depois da reunião em que ficou tudo decidido, o projeto ganhou corpo na região. Por pouco não somos hoje uma possessão Inglesa, escovando os cavalos, apertando os parafusos das jardineiras e beijando a mão da rainha.
A tentativa esdrúxula e folclórica de se proclamar a independência de Mato Grosso e da Amazônia, com mais de 3 milhões de quilômetros quadrados, transformando em “Republica Transatlântica” teve repercussão imediata levando o coronel João da Silva Barbosa, a prisão e a fuga de seus seguidores e parceiros de canoa pelo Pantanal, onde foram por certo, devorados pelas onças, piranhas, jacarés e sucuris. O sonho de uma tarde de verão sucumbiu!!!
Desse jeito, entre arranca-rabos, avanços e recuos, escaramuças, rusgas e intrigas políticas, o Brasil entrou no século XX, patinando aqui e acolá, depois de muita espoliação, mas seguindo no caminho certo para fugir do atraso para entrar devagar é claro no estágio do desenvolvimento.
No inicio do século XX, o jovem sargento do 25º Batalhão de Infantaria na capital Gaúcha estudante na faculdade de direito de Porto Alegre (RS), Getúlio Vargas, foi destacado para servir em Corumbá, na divisa de Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul), com a Bolívia, na época o Brasil e Bolívia enfrentavam um arranca-rabo fronteiriço na disputa pelo espaço territorial da área que atualmente é o Estado do Acre.
O Tratado de Petrópolis, firmado em 17 de novembro de 1903 entre Brasil e Bolívia, graças às notáveis atuações de Barão do Rio do Branco Ministro das Relações Exteriores e Assis Brasil colocaram fim ao conflito. Ao retornar ao sul do País, Getúlio Vargas se desligou do Exército e foi concluir o curso de ciências jurídicas.
O ex-governador de Mato Grosso, Cássio Leite de Barros, relatou que ouviu belas histórias de namoricos e olhares cruzados entre as mocinhas do vilarejo de Corumbá, entre elas de sua avó Dona Maria Leite de Barros.
Nos últimos 150 anos, dezenas de estudos realizados por pesquisadores estrangeiros em incursões pelo Centro-Oeste e Amazônia com destaque para os estudos apresentados com mais de 1.300 páginas pelos condes Alemães Joham Baptist Von Spix e Carl Friederich Von Martius. Nos mapas elaborados por eles mostram com clareza os deslocamentos em massa a ser seguidos em direção a Santa Catarina.
O estudo que ficou conhecido na Alemanha e na Europa entre o final do século XIX, início e XX, com o titulo de: “Reise in Brasilien”, revela as dificuldades para conquistar a região pela força bélica, assim como às riquezas naturais. É bom lembrar que parte do relatório dos condes Alemães, que dirigindo uma vasta equipe de engenheiros, biólogos e naturalistas, entre os anos de 1817 a 1820, estiveram no Brasil gastando a maior parte de seu tempo na Amazônia.
Em 1937, em Genebra, o representante Japonês, junto a sociedade das Nações, Barão de Shudo, apresentou em nome de seu governo a idéia de que as nações que dispusessem de áreas inexploradas e não utilizassem as matérias-primas nelas contidas deveriam ser compelidas a permitir o uso racional por nações capazes de explorá-las para o bem comum dos povos do mundo.
Sob os auspícios do nazi-fascismo triunfante na Alemanha e Itália, ganhava corpo e se constituía no principal fundamento e pretexto ideológico da mais sangrenta guerra da história e a doutrina da necessidade do espaço-vital, o tão celebrado “LEBENSRAUM” do delirante marketing nazista que no fundo era o mesmo ponto de vista proclamado claramente pelo diplomata nipônico. Como s pode constatar a idéia de se apossar na marra da Amazônia.
Eles desejavam apenas se apossar de uma área compreendendo todo o Norte e Centro-Oeste do Brasil e Rondônia que ainda não existia.