Por Globoesporte.com
Publicada em 05/11/2020 às 11h24
A direção da Fórmula 1 confirmou nesta quinta-feira a realização de uma prova na Arábia Saudita a partir da temporada 2021, em novembro. A corrida será disputada num circuito a ser montado nas ruas de Jidá. De acordo com o CEO da Liberty Media (promotora da F1), Chase Carey, o evento será publicado no calendário provisório de 2021 nas próximas semanas e submetido ao Conselho Mundial da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) para aprovação.
O anúncio vem dias depois de a Anistia Internacional alertar para a promoção de um grande prêmio no país com objetivo de desviar a atenção das acusações de violação dos direitos humanos das quais o governo saudita é alvo. Recentemente, a Arábia Saudita teve sua candidatura para compor o Conselho dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) negada por ter sido vista também como uma tentativa de melhorar a imagem pública do país.
- Estamos entusiasmados em dar as boas-vindas à Arábia Saudita à Fórmula 1 para a temporada de 2021 e ao seu anúncio após as especulações dos últimos dias. A Arábia Saudita é um país que está se tornando rapidamente um centro de esportes e entretenimento, com muitos eventos importantes ocorrendo lá nos últimos anos e estamos muito satisfeitos que a Fórmula 1 estará competindo lá na próxima temporada. A região é extremamente importante para nós, e, com 70% da população da Arábia Saudita com menos de trinta anos, estamos entusiasmados com o potencial de alcançar novos fãs e trazer aos nossos fãs existentes ao redor do mundo corridas emocionantes de um local incrível e histórico - disse Chase Carey.
Alheio às questões levantadas pela Anistia Internacional, o príncipe Abdulaziz Bin Turki AlFaisal Al Saud, que é Ministro dos Esportes da Arábia Saudita, comemorou a confirmação do grande prêmio na próxima temporada e disse que “o esporte é uma área que está impulsionando uma grande transformação do país":
- A Arábia Saudita está acelerando, e a velocidade, energia e entusiasmo da Fórmula 1 refletem perfeitamente a jornada de transformação que o país está trilhando. Como testemunhamos nos últimos anos, nosso pessoal deseja estar no centro dos maiores momentos do esporte e entretenimento ao vivo. E eles não são maiores do que a Fórmula 1. Não importa onde no mundo seja realizada, a Fórmula 1 é um evento que reúne as pessoas para celebrar uma ocasião que vai muito além do esporte. Estamos ansiosos para compartilhar esta experiência única e compartilhar Jidá com o mundo. Para muitos sauditas, isso será um sonho que se tornou realidade.
Críticas da comunidade internacional
O governo saudita é alvo de críticas por uma série de prisões, julgamentos, torturas e execuções direcionados para opositores, ativistas e jornalistas, e de uma série de proibições que limitam os direitos das mulheres no país. Além disso, a homossexualidade é considerada crime por lá, e até mesmo o passeio com cães em via pública é proibido, já que o animal é considerado impuro pelo Islã.
- As autoridades sauditas aparentemente veem o esporte de elite como um meio de melhorar sua reputação gravemente prejudicada. Nos preparativos para a corrida em Jeddah, pediríamos urgentemente para todos os pilotos, proprietários e equipes da F1 que considerem falar sobre a situação dos direitos humanos no país - declarou Felix Jakens, porta-voz da Anistia Internacional.
O país, cuja economia é centralizada na exploração do petróleo, deu início ao processo de independência econômica através do plano Visão 2030, que inclui a flexibilização da sociedade. Entre as medidas está a abertura do país para turistas, a criação de locais específicos para passeio com cães de estimação e a permissão para que mulheres visitem estádios de futebol e obtenham licença para dirigir, autorizações concedidas em 2018, pouco mais de dois anos atrás.
Apesar dos esforços, a Arábia Saudita ainda é questionada por casos como a morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi em 2018, da qual o governo é acusado. No fim de 2019, a agência estatal de segurança do país classificou o feminismo, a homossexualidade e o ateísmo como atos de extremismo, alegando que ações de cunho extremista e perversão são "inaceitáveis" pelo governo.