Por Giliane Perin/Secom
Publicada em 24/11/2020 às 13h54
Com os serviços da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecido para Transplante (Cihdott) restabelecidos neste mês de novembro no Complexo Hospitalar Regional de Cacoal, o Governo de Rondônia conscientiza a população sobre a importância da autorização para doação de órgãos. Vinculada à Central Estadual de Transplantes, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) em Rondônia, o serviço foi paralisado por conta da pandemia.
Desde 2013, quando o serviço da Cihdott foi implantado na “Capital do Café”, 112 protocolos de morte encefálica foram abertos. Destes, 62 entrevistas familiares puderam ser realizadas e 25 famílias autorizaram a doação de órgãos no Complexo Hospitalar.
“Para que todo esse sistema funcione, ressaltamos a importância da conscientização da população em relação a este tema. É muito importante que todos aqueles que desejam ser doadores de órgãos avisem suas famílias, manifestando este desejo. Esta é a única forma de se expressar, pois não existe documentação ou registro na CNH (Carteira Nacional de Habilitação) que manifeste a vontade de um doador. A autorização da família é fundamental, conforme prevê a Lei nº 9.434”, explica Leiri Bonet, coordenadora da Cihdott de Cacoal.
Segundo Leiri, os órgãos doados e captados são direcionados aos pacientes que aguardam em uma lista de espera unificada e informatizada, em uma mesma base de dados. Cabe à Central Estadual de Transplantes gerar a lista de receptores compatíveis com o doador em questão, por meio desse sistema. Em Cacoal, é realizada a captação de rins e córneas. Caso não existam receptores compatíveis no Estado, os órgãos captados são ofertados à Central Nacional de Transplantes.
Em Cacoal, é realizada a captação de rins e córneas
“A doação é um ato simples, nobre e muitas vezes, num momento de dor, vem acalentar o coração das famílias que perdem entes queridos. É um ato de amor que salva outras vidas. Milhares de pessoas aguardam na fila de espera todos os anos. A maior fila é por transplante renal, seguida por córneas, fígado, pâncreas/rim (duplo), coração, pulmão, pâncreas, multivisceral e intestino. O transplante é considerado um tratamento e não a cura de muitas doenças crônicas, mas sem dúvida é a garantia de continuidade da vida daqueles que passam por esse procedimento”, pontua Leiri.
Segundo a coordenadora do Cihdott em Cacoal, o Brasil está em 25º lugar em um ranking de 50 países pesquisados quanto ao número de doadores por milhão de população (PMP), conforme dados do Registro Brasileiro de Transplante (RBT), da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). A Espanha ocupa o primeiro lugar, com 43,4 doadores por milhão de população, enquanto o Brasil registrou no mesmo período 17 doadores PMP.
“Hoje, a fila de pessoas aguardando um órgão é muito maior do que pessoas que doam ou que manifestam o desejo de doar. As pessoas que necessitam da doação de órgão não tem uma vida normal como a nossa e, com a doação eles têm a oportunidade de ver a sua vida mudar, podem fazer coisas simples que, pra gente, até mesmo não faz sentido, que é passear com o cachorro, fazer uma caminhada, poder abaixar, levantar”, destaca a responsável pela Cihdott em Cacoal.
Vale ressaltar que, segundo o Ministério da Saúde, no Brasil o diagnóstico de morte encefálica é regulamentado por uma Resolução do Conselho Federal de Medicina, que determina a obrigatoriedade da realização mínima dos seguintes procedimentos: dois exames clínicos que confirmem coma não perceptivo e ausência de função do tronco encefálico; exame complementar que comprove ausência de atividade encefálica. “Fechado o diagnóstico de morte encefálica, é feito o contato com a família e colocada essa possibilidade. É um direito de cada família optar ou não pela doação de órgãos. Quem decide são os familiares e, por isso, a importância de avisar a família quando há a intenção de ser doador”, reforça Leiri Bonet.
Além da doação de órgãos ser feita por paciente com morte encefálica diagnosticada, é possível que a doação seja feita também por qualquer pessoa saudável e capaz, que concorde com a doação, nos termos da lei, e que esteja apta a realizá-la sem prejudicar sua própria saúde.
“Rondônia está avançando e isso é incrível. Ainda não são todos os órgãos captados e transplantados em nosso Estado, mas já demos um salto muito grande nesse sentido. Captamos e transplantamos rins e córneas e já colocamos à disposição de outros centros, fígados doados por pacientes rondonienses e captados dentro do nosso Estado. Já foi feita em Rondônia tanto a captação de órgãos de doadores com diagnóstico de morte encefálica e também de doadores vivos. Doar órgãos pode salvar muitas vidas e por isso temos equipes multidisciplinares envolvidas em todo esse processo, desde médicos, fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais”, finaliza Leiri Bonet.