Por AFP
Publicada em 10/12/2020 às 12h57
Especialistas americanos debaterão nesta quinta-feira (10) sobre a validade de uma vacina contra a covid-19, enquanto os números da pandemia continuam aumentando neste país e na Europa, onde as restrições devem ser mantidas durante as festas de fim de ano.
Estados Unidos realizará um exercício inédito de transparência: durante o dia, ao vivo pela internet, cerca de vinte especialistas vão analisar os dados da vacina da aliança americana-alemã Pfizer/BioNTech para recomendar ou não sua autorização.
O veredito não está realmente em dúvida. A Agência Americana de Medicamentos (FDA) já considerou na terça-feira que a vacina é segura e eficaz. Mas, acusada de ter autorizado com urgência tratamentos duvidosos como a hidroxicloroquina sob pressão do presidente Donald Trump, a FDA deseja mostrar o maior rigor científico possível.
Uma vez superada esta etapa, começará a distribuição da vacina, uma tarefa coordenada pelo governo federal e confiada ao setor privado.
A cidade de Nova York espera seus primeiros lotes a partir de domingo, disse o governador Andrew Cuomo.
Estados Unidos se mantém como o país com mais mortes pela pandemia, com um total de 289.450 vítimas. Na quarta-feira, registrou mais de 3.000 óbitos por covid-19.
- Números preocupantes na França e Alemanha -
No mundo, o coronavírus deixou mais de 1,5 milhão de mortos e quase 69 milhões de casos, segundo o último balanço da AFP com base em fontes oficiais.
No entanto, em muitos casos há a suspeita de que os números reais são muito mais altos. Por exemplo, na Espanha o Instituto Nacional de Estatística (INE) apontou nesta quinta-feira que o número estimado de mortos por coronavírus entre março e maio superou os 45.600, ou seja, cerca de 18.500 a mais que os contabilizados no balanço oficial do governo até o momento.
Caso seja verdade, a Espanha teria agora mais de 65.000 mortes por coronavírus, contra as 47.000 do balanço oficial.
Na Alemanha, elogiada por sua gestão da crise de saúde nos primeiros meses da pandemia, o aumento dos casos é "preocupante", disse o presidente do instituto de vigilância epidemiológica Robert Koch, Lothar Wieler.
O país registrou 23.679 novos casos em 24 horas e 440 mortes. Na quarta-feira, o número de óbitos por coronavírus chegou a 590, um recorde.
A chanceler Angela Merkel destacou ontem que os contatos entre as pessoas continuam "muito altos" e deu a entender que poderá haver mais restrições perto das festas de Natal.
"Se (as medidas atuais) não funcionarem, não vejo outra possibilidade", disse Wieler.
Na França, as autoridades têm que decidir se o desconfinamento ocorrerá em 15 de dezembro, antes das festividades de fim de ano.
O presidente Emmanuel Macron condicionou o retorno a uma relativa normalidade a uma queda dos casos diários para 5.000, mas na quarta-feira o país registrou mais de 14.000 casos.
Por esses motivos, o vírus estará na agenda dos líderes europeus, reunidos em Bruxelas nesta quinta e sexta-feira para tentar desbloquear o plano de recuperação e seu orçamento plurianual, por 1,8 trilhão de euros (cerca de 2,2 trilhões de dólares).
- Ataque cibernético -
O Reino Unido começou a administrar na terça-feira em sua população a vacina dos laboratórios Pzifer/BioNTech e Rússia e China também administraram vacinas próprias a uma pequena parte de sua população.
A China, em uma espécie de "diplomacia da vacina", começou a distribuir seus antídotos em todos os cantos do planeta, tentando limpar sua imagem um ano após a aparição do coronavírus em seu território, apesar de nenhuma de suas vacinas ter sido oficialmente aprovada, nem mesmo por Pequim.
Em uma demonstração de quão delicada é a questão das vacinas, na quarta-feira a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que deve decidir sobre a aprovação das vacinas nos 27 países do bloco, denunciou um ataque cibernético.
A Pfizer disse em Washington que durante o ataque documentos vinculados ao processo de regulamentação de sua vacina foram acessados ilegalmente, mas destacou que "nenhum sistema da BioNTech ou Pfizer foi violado e nenhum dado pessoal foi acessado".
Nesta quinta-feira, a EMA garantiu que este ataque não afetará os prazos estabelecidos para aprovar as vacinas.
A América Latina é a região com mais mortes do mundo, com mais de 464.5000 mortos por covid-19.
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) alertou ontem sobre um aumento dos contágios nas Américas e disse que a situação é "preocupante".
"Apesar de estarmos vivendo com este vírus há meses, nas últimas semanas nossa região tem experimentado os níveis mais altos de novos casos de covid-19 desde o início da pandemia", disse a diretora da Opas, Carissa Etienne.