Por Itamar Ferreira
Publicada em 16/12/2020 às 09h00
O chamado bullying, um tipo específico de assédio moral, que ocorre principalmente nos ambientes escolares, é um problema crônico, que normalmente os gestores de escola, professores e mesmo os pais não dão muita importância e tratam a questão como "coisa normal de crianças, adolescentes e jovens".
Na cultura predominante tais assédios não passariam de: "briguinhas infantis", "implicância sem a menor importância" e “brincadeiras de mau-gosto. Mas na verdade tal comportamento representa uma grande violência emocional contra inúmeras crianças, adolescentes e jovens, que causa um sofrimento terrível, gerando traumas e sequelas para o resto da vida.
Felizmente nos últimos anos o tema tem ganhado a atenção cada vez maior nas instituições de ensino, entre os pais e até no governo, que tem se manifestado sobre o assunto; o que permite antever a criação de leis e políticas públicas para conscientizar e combater esta terrível mazela.
A crueldade que esse tipo de prática enseja é assustadora. Ela explora as fraquezas, complexos e, especialmente, deficiências físicas. Nos idos dos meus primeiros tempos em bancos escolares eu tinha estrabismo – também chamando pelos coleguinhas de “instalação trocada”, “um olho no gato outro no peixe”, “contra de Deus”, “zarolho” e por aí vai -, com isso, desenvolvi uma timidez crônica, que levou muitos anos para ser superada.
Qualquer diferença física ou social é alvo do bullying: os gordinhos sofrem com “rolho de poço”, “baleia”, “gorducho”, dente outros. Mas a cor da pele, seja negra ou branca ou vermelha; usar óculos “fundo de garrafa”; o tipo do cabelo; a orientação sexual; baixinho é “tamborete” e muito alto é o “varapau”, condição econômica mais precária é o “pobretão”, a lista é muito grande, mas a dor é intensa e sempre a mesma: humilhação, constrangimentos e sentimento de inferioridade.
Por isso os pais, primeiramente, precisam estar atentos aos comportamentos dos filhos. Já os professores – que algumas vezes podem dar início ao bullying, ao fazer um comentário ou crítica despropositados, na frente de toda turma – precisam se conscientizar e estar atentos aos primeiros sinais, assim como as direções de escolas. A responsabilidade é de todos.
Eu já tive a experiência de resolver alguns casos de bullying em escolas, usando minha longa experiência de enfrentamento de assédio moral no trabalho, quando fui presidente do Sindicato dos Bancários de Rondônia por 9 anos. Um primeiro passo, por partes dos pais, ao perceber que o filho está sendo vítima de bullying é documentar, através de uma simples correspondência à instituição de ensino, relatando o que está acontecendo e pedindo providências. Só essa simples medida consegue uma solução satisfatória na maioria dos casos.
Mas se a direção e os professores permanecerem omissos, pode se tornar pública a situação, através das redes sociais e da imprensa – sempre com o cuidado de não expor o nome de nenhuma criança, seja vítimas ou quem pratica o bullying – e até mesmo o registro de uma ocorrência policial contra os gestores de escolas e outras medidas que um advogado de sua confiança poderá orientar.
* Itamar Ferreira é advogado e responsável pela Coluna Reticências Políticas.